O afastamento do delegado Protógenes Queiroz pode ser interpretado de várias maneiras. Depende da conveniência de cada um. Para quem acredita em teorias conspiratórias, ele caiu por conta das pressões exercidas pela turma de Daniel Dantas sobre o governo federal. Outros dirão que o motivo foi seu relatório fraco e inconsistente do ponto de vista jurídico. Na hierarquia da Polícia Federal, Protógenes também cometeu um ato grave de insubordinação. Passou por cima dos chefes e pediu o apoio – ilegal, registre-se – dos arapongas da Agência Brasileira de Inteligência. Há ainda a versão oficial: a de que o delegado só saiu porque pretende concluir um curso de aprimoramento profissional. Nem Polyana acreditaria.

O fato é que nenhuma dessas hipóteses atinge o ponto central. No relatório, Protógenes deixa claro que tinha um alvo bem maior do que o banqueiro baiano de olhos azuis. Num dos trechos, ele escreve que a venda da Brasil Telecom para a Oi é uma operação “ilegal”. Em outro, assinala que o caso será objeto de “apuração própria”. Além disso, ele pediu busca e apreensão nos escritórios do UBS Pactual, no Rio de Janeiro, apenas porque lá ocorreram reuniões para tratar da fusão que cria a chamada “supertele”.

O que fica claro é que a Operação Satiagraha poderia se desdobrar em outra, ainda mais explosiva, destinada a implodir um negócio de R$ 15 bilhões, abençoado e financiado pelo governo federal. Foi aí que o caldo entornou de vez, disparando todos os alarmes em Brasília. Afinal, se alguém fez pressão pela supertele nos últimos meses, foram os principais ministros do governo Lula – a começar pela poderosa Dilma Rousseff. E os aportes de R$ 10 milhões realizados pela Oi na Gamecorp, que pertence a Fábio Luís Lula da Silva, filho do presidente, são mais enquadráveis na categoria de “lobby” do que os telefonemas do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, consultor do Opportunity, ao Palácio do Planalto. Intuitivo que é, Lula logo percebeu os sinais de perigo e chamou o ministro da Justiça, Tarso Genro. Horas depois, Protógenes estava afastado. Como a operação-abafa repercutiu mal, o presidente tratou publicamente do caso, dizendo que o delegado tem a “obrigação moral” de concluir seus trabalhos. O que se conclui? Há uma fronteira bem clara que a Polícia Federal não pode cruzar: a dos negócios palacianos.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias