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"Voto contra. A história me julgará. Só não sei como. E me perdoe se eu estiver equivocado." Com essas palavras, o vice-presidente da Argentina, Julio Cobos, justificou o voto de Minerva com o qual o Senado derrubou o projeto da presidente Cristina Fernández de Kirchner de aumentar impostos sobre a exportação de grãos. Às 4h25 da manhã da quinta-feira 17, depois de um exaustivo debate de 18 horas, a chamada Resolução 425 – que estabelecia alíquotas variáveis sobre vários produtos agrícolas de exportação – recebeu 36 votos a favor e 36 contra. Pelo sistema vigente na Argentina, o vice-presidente é também o presidente do Senado e vota quando ocorrem situações de empate.

A estratégia do governo foi desastrosa. Com o imposto, a Casa Rosada esperava atingir uma arrecadação de mais de US$ 2 bilhões este ano, com grande superávit fiscal. Também esperava combater a inflação, redirecionando as vendas de alimentos para o mercado interno. Mas não contava com os protestos dos ruralistas que quase paralisaram a atividade econômica do país. Os protestos trouxeram desabastecimento. Com isso, a inflação subiu e o consumo diminuiu. Em lugar de entender como o mercado funciona, os Kirchners preferiram o confronto. Assustados, os investidores externos sumiram do mapa.

Não é a primeira vez que um vice se torna pivô de crises políticas na Argentina. Em 1999, Carlos Chacho Alvarez foi eleito vice na chapa de Fernando de la Rúa, mas renunciou em 2000 por divergências com o presidente. Pouco tempo depois, pressionado por uma gravíssima crise econômica, De la Rúa sairia do palácio escorraçado. A derrota foi um sério revés ao casal Kirchner, que nem sequer conseguia manter unidos os muchachos peronistas (proeza, aliás, de que nem Perón era capaz). Como se não bastasse, o fantasma da recessão volta a rondar a Argentina. Com esse passivo em pouco mais de um ano de mandato, já há quem diga que Cristina Kirchner pode ter o mesmo destino de Fernando de la Rúa.

O surpreendente desfecho da Resolução 425 pode fazer bem à Argentina. Sem o imposto, os agricultores e pecuaristas voltam a investir nas terras mais férteis do planeta e obter grandes ganhos com as exportações. Assim, o superávit comercial das commodities deve equilibrar as contas argentinas. O caminho só é complicado quando o governo atrapalha – e isso o casal Kirchner sabe fazer.

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