chamada.jpg
AGLOMERAÇÃO
Homens, mulheres e crianças morreram pisoteados

 

No início da noite da segunda-feira 22, a cidade de Phnom Penh, capital do Camboja, estava em festa. Uma corrida de canoas no rio Tonlé Sap encerrava, sob as luzes de fogos de artifício, o Festival das Águas, a maior e mais exuberante celebração do país. Realizado sempre na última lua cheia de novembro, o festival comemora o final da estação das chuvas e reverencia os principais rios cambojanos. A atmosfera de alegria foi brutalmente interrompida por uma sequência de acontecimentos ainda sem explicação convincente, que culminou numa das maiores tragédias desencadeadas por grandes aglomerações. Em questão de segundos, os aplausos da multidão, que se deleitava com os barcos que navegavam rio abaixo, foram substituídos por gritos de horror. A catarse coletiva varreu tudo o que estava adiante – homens, mulheres e crianças. Quem fosse levado ao chão era imediatamente pisoteado, quem estava nas bordas da ponte caía nas águas profundas do rio. Resultado da tragédia: 456 cambojanos morreram e mais de 700 ficaram feridos.

Até a semana passada, as autoridades do país não conseguiram esclarecer o que aconteceu. Uma das versões sustenta que, sob calor intenso, algumas pessoas desmaiaram, o que teria sido suficiente para provocar o corre-corre fatal. Outro rumor culpou o emaranhado de luzinhas elétricas que enfeitavam a ponte. Segundo essa corrente, elas provocaram um curto-circuito e uma onda de choques. Em meio à ausência de responsáveis, ficaram as marcas da tragédia: dois dias depois do acidente, centenas de chinelos, sapatos, carteiras e outros objetos jaziam sobre a ponte e em todos os cantos se ouvia o lamuriar dos familiares. A tragédia também expôs as mazelas de um dos países mais pobres da Ásia. Sem recursos e com poucos leitos disponíveis, os hospitais não conseguiram atender os sobreviventes em condições adequadas e muitos acabaram morrendo nas tendas improvisadas para acomodá-los. A economia, essencialmente agrícola, ainda sofre os efeitos dos anos de guerra entre facções rivais. A mais sangrenta ocorreu na década de 1970, quando 1,7 milhão de cambojanos perderam a vida. As vítimas de Phnom Penh sobreviveram à guerra civil, mas não escaparam da morte na ponte.

G_camboja.jpg