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AGRESSÃO
Sul-coreanos observam incêndios provocados
pelos bombardeios que vieram do norte

 

Todo e qualquer ataque bélico é desprezível sob qualquer aspecto. Mas, quando sua motivação é a chantagem pura e simples, a ação se torna ainda mais vil. Na terça-feira 23, a Coreia do Norte lançou mísseis contra a ilha sul-coreana de Yeonpyeong, provocando a morte de quatro pessoas e ferindo outras 14. Mais do que agredir o país vizinho, o presidente Kim Jong-il quis mandar um recado ao mundo ocidental: se as sanções ao programa nuclear da Coreia do Norte continuarem a existir, mais violência virá. O padrão de barganha de Jong-il coloca seu país como o mais perigoso do mundo – uma ameaça não apenas aos sul-coreanos, mas para qualquer um que se colocar no seu caminho. A ofensiva da semana passada foi o primeiro ataque direto ao sul desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953, e provocou forte reação internacional, inclusive do presidente Lula. “Não permitiremos, em hipótese alguma, qualquer tentativa de transgredir a soberania de outro país”, disse Lula.

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REFORÇO
Os EUA enviaram seu maior porta-aviões
em socorro aos sul-coreanos

 

A reação do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não se limitou apenas às palavras. Depois de condenar veementemente a ofensiva norte-coreana, Obama enviou à ilha Yeonpyeong seu mais poderoso porta-aviões, o USS George Washington. Segundo o Pentágono, a ação tem o objetivo de intimidar Jong-il e assegurar a estabilidade na região. “É um exercício de natureza defensiva”, disse, em comunicado, o comando das Forças Armadas dos Estados Unidos na Coreia do Sul. Para alguns analistas, a decisão está equivocada. “A contra­ofensiva era tudo o que as autoridades norte-coreanas queriam”, disse Henri Ozi, cientista político de reputação internacional e ex-membro do Conselho de Segurança da ONU.

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Além disso, o envio do porta-aviões pode causar um mal-estar diplomático com a China, maior parceiro comercial dos Estados Unidos e um dos únicos países do mundo que mantêm um diálogo próximo com os ditadores norte-coreanos. Recentemente, a China já havia reclamado de manobras do navio George Washington realizadas em conjunto com a Marinha sul-coreana. Daquela vez, Obama recuou. Resta saber se fará o mesmo agora.

A chantagem internacional não teria sido o único motivador dos ataques norte-coreanos. Suspeita-se que eles foram coordenados pelo filho de Jong-il, que estaria sendo preparado para suceder o pai. Com a ofensiva, o herdeiro deu, na lógica dos ditadores locais, uma demonstração de força. Enquanto a Coreia do Sul é uma democracia consolidada e uma potência econômica da Ásia, seus vizinhos belicosos vivem há mais de 60 anos sob um regime stalinista que levou à miséria milhões de cidadãos. Os indicadores sociais da Coreia do Norte equiparam o país às nações mais pobres da África, algo que Jong-il esconde na propaganda oficial. Em vez de investir no combate às mazelas que afligem a população, o ditador destina mais de 20% de seu Produto Interno Bruto à produção de arsenais militares, incluindo a bomba atômica. Enquanto cidadãos norte-coreanos morrem de fome, Jong-il vai à guerra.

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