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Antes de se eleger senador, em 2002, o engenheiro civil Efraim Morais (DEM-PB) exerceu três mandatos consecutivos de deputado federal. Chegou ao Congresso em 1991 como um padre do baixo clero. Treze anos depois, deixou a Câmara como um bispo deste mesmo baixo clero. No Senado, há três anos Efraim ocupa o cargo de primeiro secretário da Mesa Diretora. Cabe a ele decidir sobre obras, contratos, abertura de licitações e gestão dos gastos dos gabinetes dos demais senadores. Hoje, Efraim é um cardeal do baixo clero. Foi ele, por exemplo, o principal articulador de um trem da alegria que colocou o Senado fora dos trilhos e na alça de mira da opinião pública nas últimas semanas. Trabalhando como formiguinha, de gabinete em gabinete, Efraim conseguiu apoio suficiente para levar à Mesa Diretora a proposta de criar 97 cargos com salários mensais de até R$ 9,97 mil sem concurso público.

O presidente do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), foi contra. "Todos querem isso. Tenho o apoio do todos os líderes", argumentou Efraim, não escondendo a satisfação pelo trabalho realizado nos dias anteriores. "Isso é desnecessário e vai nos desgastar", retrucou o presidente. "É um desgaste pequeno. Daqui a alguns dias ninguém mais fala nisso", contraargumentou o primeiro secretário. Garibaldi não abriu mão de sua posição e, na Mesa Diretora, foi o único voto contrário à proposta que traria uma despesa adicional de R$ 12 milhões por ano. Quando a proposta se tornou pública, a reação do eleitorado foi imediata e, diante da repercussão negativa, Garibaldi ganhou o apoio de outros senadores. Na terça-feira 15, em decisão inusitada, a Mesa Diretora voltou atrás e barrou o trem da alegria que tinha como maquinista o senador Efraim. Da Paraíba, por telefone, o primeiro secretário reclamou ao presidente: "Na hora de propor a coisa, todo mundo me apóia. Depois, quando dá problema, eu fico isolado e não aparece ninguém para me defender." Não é sempre que as ações do senador Efraim se traduzem em benefícios para todos os seus colegas, como seria o caso do cabide de 97 empregos. Desde maio de 2008, o Senado estampa no canto superior direito do portal de notícias www.paraiba.com.br um minúsculo banner publicitário com um link direto para a página da Casa. Segundo apurou ISTOÉ, o contrato, de 12 meses de duração, foi firmado sem licitação a um custo de R$ 48 mil mensais. A empresa responsável pelo site é a Paraíba Internet Graphics, a mesma que cuida do site pessoal do senador. Procurado, Efraim não foi encontrado para dar uma explicação sobre a coincidência.

Estranhamente, na quinta-feira 17, um dia depois de ISTOÉ procurar o gabinete do senador, houve uma sutil mudança no texto do edital do contrato do Senado com a Paraíba Internet Graphics, publicado na internet. Até então, o texto informava que se tratava de um contrato de 12 meses com parcelas de R$ 48 mil. Ou seja, o valor anual seria superior a R$ 500 mil. Na manhã da quintafeira 17, estava inserida no texto, abaixo do valor de R$ 48 mil, a palavra "anuais".

O senador é defensor de outros projetos onerosos para o Senado. Na Mesa Diretora da Casa, Efraim é um dos mais fervorosos advogados da construção do novo Anexo do Senado, no valor de R$ 141 milhões. Para o novo prédio seriam transferidos os gabinetes e as comissões da Casa. "Dará mais conforto para as comissões, os senadores e as pessoas que aqui freqüentam", costuma dizer Efraim. Ele afirma que as obras não irão gerar gastos extras. Os recursos, de acordo com ele, poderiam vir da venda da folha de pagamento dos funcionários da Casa. "O Senado é o único órgão público em Brasília que, até agora, não fez o seu Anexo", afirma o primeiro secretário. Efraim também é a favor da construção da sede física da Unilegis, a Universidade do Legislativo, que hoje já funciona administrando cursos de graduação e extensão universitária. Os dois projetos, porém, para a desolação do senador democrata, ainda não encontram respaldo entre os demais integrantes da Mesa, sobretudo depois que o ex-presidente da Casa, senador Tião Viana (PT-AC), hoje vicepresidente do Senado, baixou um pacote moralizador baseado na contenção de gastos tão logo assumiu no lugar de Renan Calheiros (PMDBAL). Temendo a pressão da opinião pública, poucos ousam levar adiante a proposta num momento em que o Senado tenta recuperar sua credibilidade. Mas os projetos estão ali, à espreita, esperando o momento mais adequado para entrar na pauta. Efraim pertence ao grupo de senadores que sempre trabalhou para evitar a todo custo a divulgação da prestação de contas da verba indenizatória de R$ 15 mil mensais paga a cada parlamentar. Hoje, sabese apenas quanto foi gasto por cada senador, mas não em que o dinheiro é utilizado. Ao contrário do que já acontece na Câmara, no Senado as notas fiscais permanecem sob sigilo. Com suas posturas, o cardeal do baixo clero no Senado parece construir fortes amizades. Prova disso é a generosidade de Mariângela Cascão Pires de Albuquerque, sua chefe de gabinete. Em 2006, ela doou R$ 30 mil à campanha do deputado Efraim Filho (DEM-PB). O filho do senador foi eleito e afirma que a doação feita por Mariângela decorre de "uma relação de confiança."

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