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DISCRETO
Sem participar de pressões por cargos, Mantega recebeu
o convite de Dilma durante a reunião do G20, em Seul

 

Tem muita gente saindo a tapa para ocupar um lugar no ministério de Dilma Rousseff. Entre os partidos, o clima é de guerra. Mas o primeiro ministro a ter o nome confirmado – exatamente para o cargo mais importante – chegou lá de mansinho, sem fazer muito alarde. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, é assim mesmo. Em lugar de alimentar as intrigas políticas e palacianas, prefere dedicar-se com afinco aos problemas da economia nacional e internacional. E foi com seu trabalho que chamou a atenção da colega no governo Lula, agora eleita presidente da República. Se alguma dúvida existia, caiu por terra na viagem que Dilma e Mantega fizeram à Coreia do Sul, para a reunião do G20. Nas longas conversas durante o voo de Frankfurt a Seul e nas audiências do evento, Dilma voltou a se impressionar com a visão aguda do ministro.

Do outro lado do mundo, com o presidente Lula de testemunha, concluiu que Mantega tem todos os méritos para permanecer à frente da Fazenda. Mantega aceitou o convite. “É bobagem dizer que o presidente Lula fez pressões a favor de Guido. Foi uma escolha natural. Guido hoje é muito respeitado no Brasil e no Exterior”, afirmou à ISTOÉ o ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação Social.

No Planalto, de fato, não houve surpresa. Os auxiliares mais próximos de Lula explicam que o ministro da Fazenda sempre manteve excelentes relações com a ex-ministra da Casa Civil. Contam que Dilma foi uma das primeiras vozes a se manifestar a favor de Mantega, quando se sugeriu o nome do então presidente do BNDES para substituir Antônio Palocci, em março de 2006. Os dois colegas também se aproximaram muito nas reuniões de acompanhamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a poderosa arma que ajudou Dilma a se projetar. Nas cerimônias de balanço semestral do PAC sempre coube a Mantega apresentar os principais números da economia brasileira, por sinal, positivos. Não por acaso Mantega afirmou, em entrevista à ISTOÉ, no fim de 2008, que “o desempenho da economia será o principal cabo eleitoral da campanha de Dilma”. Acertou em cheio.

O principal ponto a favor de Mantega foi exatamente sua capacidade de manter a cabeça fria nos piores momentos da crise financeira internacional de 2008. Se o Brasil tivesse sido arrastado pelo turbilhão que atingiu a Europa e os Estados Unidos, o resultado das eleições de outubro certamente seria diferente. O País, porém, soube adotar as políticas anticíclicas corretas. Com o comércio mundial e os fluxos de crédito estancados, o Brasil apostou em seu mercado interno. Graças a golpes certeiros de financiamento farto e de redução de impostos, a economia nacional resistiu e foi a primeira a vencer a crise. Com isso, Mantega conquistou a admiração de seus pares mundo afora. O secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner, é um dos que o consultam com frequência.

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Dilma também costuma ressaltar a eficiência que a equipe econômica demonstrou na crise. E a coragem, pois as medidas foram inéditas. Não custa lembrar que o Japão até hoje tenta convencer sua população a consumir mais, mas não quebra sua resistência. No caso brasileiro, houve também o empenho do presidente Lula. Mas nada teria acontecido sem o acerto das medidas anticíclicas. Num episódio mais recente, Mantega voltou a marcar pontos. Foi o primeiro ministro da Fazenda em todo o mundo a usar o termo “guerra cambial” ao identificar os equívocos da política monetária dos EUA, que contribuem para desvalorizar o dólar. Em Seul, ele foi mais longe e propôs o abandono do dólar como moeda de referência internacional. A ousadia repercutiu e encheu os olhos de Dilma.

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MUDANÇA
Paulo Bernardo deve ir para a Casa Civil.
Mantega discute novo nome para o Planejamento

 

Em reunião de mais de duas horas na Granja do Torto, na manhã da quinta-feira 18, Dilma voltou a consultar o ministro sobre os rumos da economia e referendou sua escolha. Aproveitou para ouvir Mantega sobre a formação ideal da equipe econômica. Haverá mudança no Ministério do Planejamento, pois o ministro Paulo Bernardo deve assumir um posto no Palácio do Planalto, talvez a Casa Civil. O Planejamento vai incorporar o PAC, possivelmente sob o comando do Miriam Belchior. Luciano Coutinho continuará na presidência do BNDES. E não é certa a recondução de Henrique Meirelles no Banco Central. Ele teria sido convidado, mas com a condição de se submeter à correntedesenvolvimentista. Quanto a Mantega, além de enfrentar o im­bróglio cambial no curto prazo, terá o desafio de compatibilizar as promessas de campanha com o necessário ajuste fiscal. Ele sabe que a tarefa não é fácil. Mas, leitor assíduo de biografias, continuará a construir pedra sobre pedra sua trajetória à frente da Fazenda. Mantega tem tudo para chegar ao fim do novo mandato. E, com oito anos de gestão, entrará para a galeria dos ministros da Fazenda mais longevos.