A disputa por postos e cargos é uma tradição na política brasileira a cada virada de governo. E nada mais natural em um sistema que se apresenta como presidencialista e funciona na verdade como um mal disfarçado parlamentarismo em que o peso partidário e do Legislativo conta muito. O loteamento do poder tenta acomodar a delicada coligação de siglas e forças que dão sustentação e viabilidade ao exercício da Presidência. Mas na gestão Dilma Rousseff , que ainda está por começar, há grandes chances de a situação ter um desfecho diferente. E um bom sinal neste sentido foi dado com a resposta rápida e efi caz da eleita contra um suposto “blocão” de mais de 200 deputados que estava se articulando para pressionar Dilma na hora de suas escolhas ministeriais – fazendo-a refém da base aliada. A manobra foi desarmada porque a presidente soube jogar bem com a força de sua representatividade, construída a partir de uma massa de votos robusta. O apoio popular é seu maior capital político, mas não o único. A herança de bom desempenho econômico e social do País também valerá muito na hora de nova queda de braço com os parlamentares. O PMDB, talvez movido pela promissora condição de contar com um dos seus quadros na vice-presidência, foi o primeiro da fi la a animar-se com a ideia de pleitear mais colocações na estrutura governamental. Levantou a proposta de manter o “status quo” de pastas da administração anterior com um “ágio” de novas posições. Chegou ao limite da armação ao coordenar a montagem do bloco de deputados, que tinha perigosa tendência desestabilizadora. Tudo foi logo resolvido. A presidente Dilma deixou claro que terá seu lote pessoal de nomes para formar o que considera a armada de Estado. Sobre o episódio dessa última semana, não é realmente plausível que parlamentares em início de legislatura avancem afoitos sobre o Executivo para estabelecer a cadência e o formato de um governo ainda em gestação. Essa é uma atribuição intransferível da futura mandatária, que, antes de se preocupar com picuinhas e guerra de egos políticos, tem de mergulhar numa agenda ampla de urgências administrativas e gestões econômicas que a aguardam.