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CONFIANTE
O próximo passo é juntar mais dinheiro para comprar uma casa

 

aos 56 anos, seu Severino Arruda, funcionário da General Motors do Brasil há 25, diz que nunca teve tanto pretendente a genro na vida. Na terça-feira 16, o alvo dos galanteadores de plantão, a maioria colegas de trabalho, estava à sua frente, empertigada em um vestido azul-aperta-silhueta e, caneta na mão esquerda, pronta para autografar mais um exemplar do livro de capa rosa intitulado “Vestida para Causar”. Com o lançamento de sua biografia precoce – aos 20 anos de idade –, a paulista Geisy Arruda cumpria mais uma etapa de seu sonho. Desde que foi humilhada por cerca de 800 colegas nas dependências da Universidade Bandeirante (Uniban), em São Bernardo do Campo (SP), por ousar ir à aula trajando um provocante vestido cor-de-rosa, ela vive para transformar aquele pesadelo em um conto de fadas. O que, no caso da loira, significa ganhar a vida com a notoriedade que veio no vácuo de todo o imbróglio.

Faz um ano que a ex-estudante de turismo se aventura no papel de artista, como ela mesmo diz. Antes dessa fase, não sabia o que queria da vida. Entrou na faculdade mais pela facilidade – o custo baixo de sua mensalidade é a alma do negócio da Uniban – do que pela vontade de ter um diploma. “Ia para a universidade para curtir. Me interessava pela boa vida”, afirma Geisy, sem esconder que estava ali a passeio. A execração pública, por vias tortas, a jogou nos holofotes. A jovem que cresceu exibindo seus dotes artísticos à família no Jardim Campanário, periferia de Diadema (SP), sonhando com um futuro de fama, abandonou a sala de aula e se jogou no mundo das celebridades, que lhe abriu as portas assim que cessaram os insultos ao seu indefectível vestido rosa curto. Até mesmo seu Severino concorda que o canudo da universidade não seria capaz de dar à filha a vida que, hoje, ela desfruta.

Antes da maratona de trabalhos, como o lançamento de sua biografia em uma livraria na avenida Paulista, em São Paulo, Geisy se preparou fisicamente (leia quadro). Perdeu 15 dos 80 quilos por meio de uma lipoaspiração completa. Turbinou os seios com 435 ml, mudou a tonalidade dos fios de cabelo e aderiu ao megahair. Capas de revistas vieram na esteira da jovem repaginada. A mais rentável, que lhe rendeu R$ 100 mil, foi para a qual posou nua em pelo. Hoje, a moça recebe R$ 5 mil por cada aparição em festas ou casas noturnas. Ela ainda se mantém no centro das atenções, mesmo quando escolhe para sair de casa um vestido azul, abrindo mão do figurino que a fez ficar conhecida do público. Como na noite de autógrafos paulistana.

Seu Severino presenciou o fato de perto. Vestindo um terno escuro alinhado e gravata, um senhor entrou desavisado na livraria, sem saber do que se tratava o evento, e parou em frente a ele. Mediu Geisy, sentada em uma posição que realçava suas novas curvas, de cima a baixo. “É bem bonita, mas não sei quem é”, completou, antes de virar as costas e deixar o local. Fazia pouco tempo que ela havia sido eliminada de um reality show, talvez o item da cartilha de aspirante à celebridade que mais alavancou a sua exposição. Na noite de autógrafos, a loira era só sorrisos. Vivia mais um dia no papel de Cinderela, mesmo percebendo que a personalidade de maior renome no evento era uma de suas ex-companheiras de reality show, a humorista e transformista Nany People.

Escritor que assina quatro aclamadas biografias, Fernando Morais não enxerga elementos que justifiquem a exposição de Geisy em uma biografia. “O fato de essa moça ter vivido uma situação de intolerância segura uma reportagem e só”, diz. “O meu dinheirinho ela não levará; e digo isso como leitor.” Independentemente do caminho escolhido para alçar à fama, Geisy carrega o mérito de transformar caracol em escargot. Mais: sente-se realizada. “Pela primeira vez sou dona do meu nariz, do meu destino”, diz.

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De fato. A ex-caixa de supermercado, hoje, tem dinheiro para desembolsar R$ 1 mil todo mês para pagar o aluguel de uma quitinete no centro de São Paulo, onde mora sozinha. Abriu uma conta-corrente e investe boa parte do que ganha em ações. Patenteou o nome, registrou uma empresa e tirou carteira de motorista. E reivindica junto à Uniban na Justiça o pagamento de R$ 500 mil como indenização por danos morais. O caso será julgado em segunda instância – o primeiro julgamento foi favorável a ela, mas o valor estipulado de R$ 40 mil foi considerado irrisório por Geisy. Sim, ela quer mais. Até porque seu conto de fadas não teve último capítulo. O ciclo do sucesso só se fecha, segundo ela, quando comprar uma casa para morar junto com uma dezena de familiares e ver seu livro cor-de-rosa ser adaptado para o cinema. Até lá, quem sabe, Geisy, solteira no pedaço, apresente a seu Severino o genro que escolheu.

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GEISY x UNIBAN

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Em setembro, a Uniban (foto) foi condenada, em primeira instância, a pagar uma indenização por danos morais de R$ 40 mil a Geisy Arruda. O juiz da 9ª Vara Cível de São Bernardo do Campo, Rodrigo Gorga Campos, entendeu que a faculdade é responsável pela violência sofrida pela ex-aluna. Geisy e seu advogado, Nehemias Domingos de Melo, não concordaram com o valor estipulado – consideram razoável algo em torno de
R$ 500 mil – e, em outubro, apelaram da decisão. Um novo julgamento deverá ocorrer no ano que vem

 

 


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