Num dos textos, dizia-se que o ferro das montanhas brasileiras é o "caviar" do mundo mineral. Sem ele, não se faz aço de boa qualidade. Mas o mesmo governo que é bom de propaganda pode estar fechando os olhos para a entrega, de bandeja, desse caviar aos empresários chineses. Na semana passada, o bilionário Eike Batista anunciou que pretende vender sua mineradora, a ainda pré-operacional MMX, a siderúrgicas da China.

Numa conferência com investidores, disse que eles virão correndo para cá porque acabam de ser barrados numa outra aquisição – a Chinalco pretendia comprar a Rio Tinto, mas a sociedade australiana é contra.

Condenar investimentos externos em plena era da globalização pode parecer conversa de dinossauro, mas não é bem assim. Países muito mais liberais do que o Brasil, como a Austrália, o Canadá e o Chile, tratam suas minas, que geram boa parte das reservas internacionais, como um ativo estratégico – e não permitem que elas caiam em mãos inimigas.

Além de poderem perder a Rio Tinto, os chineses também não conseguiram levar a canadense Noranda em 2004. E a razão do veto foi sempre o chamado "interesse nacional", por mais combalida e piegas que seja a expressão. No caso brasileiro, a venda de grandes jazidas de ferro aos chineses seria ainda mais nociva. Neste exato momento, as siderúrgicas de lá tentam obrigar a Vale a reduzir em 40% o preço do minério, um produto que garante 10% das exportações nacionais.

Eike Batista, que se tornou o homem mais rico do Brasil vendendo projetos, segue sempre um padrão e não tem nenhuma obrigação de agir de acordo com os interesses nacionais. Com um bom mapa de oportunidades no setor mineral, ele foi ao mercado de capitais e levantou bilhões. Mas o que ninguém esperava era que, em tão pouco tempo, a sua "mini-Vale" pudesse se tornar uma empresa de olhos puxados. Se isso de fato acontecer, não é preciso ser um gênio para adivinhar o que ocorrerá com o "caviar" brasileiro. O minério nacional terá seus preços aviltados e subsidiará a siderurgia chinesa. Esta, por sua vez, subsidiará a indústria local de carros, fogões e geladeiras. E o Brasil, além de perder competitividade num dos poucos mercados em que é líder global, terá ainda menos condições de concorrer com os chineses em outros setores. Depois desse insano ato de lesa-pátria, não haverá propaganda no The Wall Street Journal que resolva.