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Palocci completou 50 anos em outubro, no auge de uma trajetória marcada por talentos múltiplos. Médico sanitarista por formação, economista por autodidatismo, consolidou-se como um dos políticos mais capacitados da nova geração. Ele começou a ter projeção nacional em 2002, durante a campanha que acabou levando Lula ao Palácio do Planalto. Palocci foi um dos mentores da “Carta ao Povo Brasileiro”, que teve o mérito de apaziguar os ânimos entre aqueles que temiam um desastre na economia brasileira durante o governo Lula. No livro “Sobre Formigas e Cigarras”, lançado em 2007 e que chegou a figurar entre os mais vendidos na categoria não ficção, Palocci lembra o processo de elaboração do documento: “Constituímos um amplo conselho de consultas do qual participaram não só empresários, mas também sindicalistas e lideranças populares.” No mesmo livro, Palocci relata o episódio que o aproximou de Dilma, no final de 2002, durante uma reunião na sede da Associação Brasileira da Infraestrutura de Base (Abdib). “No diálogo com os empresários, Dilma logo se impôs e imprimiu ao debate o mesmo tom de objetividade e firmeza que a caracterizaria nos anos seguintes no governo Lula”, escreveu.

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CHAVE
Dutra é o cacique do PT para o processo transitório

 

Suas atividades políticas começaram no período estudantil, quando se tornou militante da Libelu (Liberdade e Luta), corrente de esquerda de viés trotskista. Com o decorrer dos anos, alinhou-se no PT à tendência liderada por Lula, mais moderada. A ascensão no partido foi fulminante. Entre 1993 e 1996, foi prefeito de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Depois, virou deputado federal. Em 2004, elegeu-se prefeito de Ribeirão pela segunda vez; porém, dois anos mais tarde, pediu licença do cargo para se dedicar à campanha de Lula. “Como prefeito, Palocci era contrário a toda a ortodoxia petista”, diz o filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp. “Essa postura abriu caminho para a flexibilização mostrada por Lula em seus dois mandatos.” No governo federal, Palocci foi ministro da Fazenda entre 2003 e 2006 e chegou a ser visto como candidato mais forte para a sucessão presidencial, uma espécie de antídoto interno do PT contra o radicalismo de José Dirceu, que disputava com ele a liderança moral do partido. Mas seus planos naufragaram: a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa acabaria por derrubar Palocci (em 2009, o Supremo o absolveu da acusação de violação do sigilo). De volta à linha de frente do poder – e provavelmente com mais força do que nunca –, Palocci protagoniza agora uma reviravolta espetacular.

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EM ALTA
Cardozo deve passar da transição para um ministério

 

Embora os holofotes tenham se virado para ele, Palocci tenta manter a discrição que sempre o caracterizou. No convívio profissional, é conhecido pela gentileza no trato, e ninguém é capaz de lembrar de um único episódio em que o ex-ministro tenha perdido as estribeiras. “É admirável a capacidade que ele tem de ouvir as pessoas”, diz o advogado e ex-presidente da OAB, José Roberto Batochio, que o defendeu no caso do caseiro Francenildo. Nos últimos anos, Batochio se tornou amigo do homem forte de Dilma. “Ele é um leitor voraz de todos os gêneros, mas gosta especialmente da história das democracias latino-americanas”, diz o advogado. Copresidente da Brasil Foods, Luiz Fernando Furlan conheceu Palocci quando os dois estavam no governo Lula (Furlan era ministro do Desenvolvimento e Palocci, da Fazenda). “Ele é o tipo de pessoa que diz um não sorrindo e um dos políticos mais consistentes que já conheci”, afirma Furlan. “Sempre imaginei que ele tem talento para voos mais altos.” Dilma certamente sempre pensou o mesmo.

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