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BOA VISÃO
O ex-ministro faz o levantamentodos
principaisprojetos em andamento no governo

 

Se uma única palavra for capaz de definir o que empresários, políticos da oposição, analistas econômicos e representantes de diversos setores da sociedade pensam a respeito do ex-ministro Antônio Palocci, esta palavra é credibilidade. Entre os quadros do PT, provavelmente ninguém é capaz de rivalizar com Palocci na capacidade de dialogar com interlocutores tão díspares quanto o presidente de uma multinacional ou um sindicalista. Melhor do que isso: Palocci é visto como um profundo conhecedor de assuntos econômicos, um técnico que sabe o que é preciso para fazer uma pasta da administração andar, um gestor habituado a lidar com os meandros do governo, um homem afeito a resolver problemas. Enfim, Palocci é considerado alguém eficiente demais para não estar por perto. Por isso mesmo, a presidente eleita Dilma Rousseff o escolheu para comandar o exaustivo trabalho de transição. “Ele é um dos melhores quadros da República”, disse na semana passada o presidente Lula. “É uma garantia para ter boas relações internas e externas.”

Os críticos podem argumentar que Lula é amigo de Palocci, tanto que o escolheu para comandar o Ministério da Fazenda no primeiro mandato. Mas os elogios vêm de todos os lados. Inclusive de opositores. Na semana passada, ISTOÉ entrevistou 30 personalidades de diversas áreas, pessoas que são referência em seus setores de atuação (leia depoimentos nos quadros). O resultado é espantoso. Palocci, revelaram as consultas, é genuinamente admirado. O economista Roberto Giannetti da Fonseca, um dos fundadores do PSDB, partido derrotado por Dilma na eleição, lembra de um episódio singular. “Em janeiro de 2003, dez dias depois da posse do presidente Lula, fui chamado para uma reunião com o Palocci”, diz Giannetti. “Ele me pediu sugestões para resolver a desvalorização do real. Enquanto eu falava, ele anotava tudo em um caderno.” Detalhe: Giannetti tinha sido secretário-executivo da Camex (secretaria ligada ao Ministério da Fazenda) no governo Fernando Henrique Cardoso. “Achei a atitude um exemplo de humildade”, afirma o economista. “O Palocci atua com bom senso, sem preconceitos ideo­lógicos, e por isso acho que a presença dele no governo é garantia de que o que é bom para o Brasil será feito.” Até políticos da oposição, acostumados ao ringue partidário, são só elogios. “É muito mais fácil conversar com Palocci do que com outros membros do PT”, diz o deputado federal (DEM-BA) Antônio Carlos Magalhães Neto.

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No meio empresarial, não é exagero afirmar que seu nome é quase uma unanimidade. Na últimas semanas, ele foi o centro das atenções em jantares promovidos por pesos-pesados, como Abilio Diniz, dono do Grupo Pão de Açúcar, e Flávio Rocha, dono da Riachuelo. Durante a campanha, estavam entre os seus interlocutores pessoas como Luiz Trabuco, presidente do Bradesco, Marcelo Odebrecht, do Grupo Odebrecht, e Benjamim Steinbruch, da CSN. “O Palocci é um avalista institucional, entende o sentido de urgência da iniciativa privada e traduz isso para o governo”, disse à ISTOÉ Horácio Lafer Piva, sócio da Klabin e ex-presidente da Federação das Indústrias de São Paulo. “Palocci sabe conversar com a classe empresarial e sua participação no futuro governo é vista de maneira muito positiva”, afirma Mário Anseloni, presidente da Itautec. No mercado de capitais, sensível a qualquer sinal de turbulência, Palocci desfruta de idêntica credibilidade. “Ele traz tranquilidade aos mercados”, diz Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa. Estrategista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani traduz o que uma parcela expressiva de analistas pensa a respeito do homem forte de Dilma. “Palocci simboliza a racionalidade econômica.”

Para se ouvir falar mal de Palocci é preciso transitar pelas diferentes alas que compõem o PT. Entre as tendências de esquerda, ele é visto como o homem que afastou o partido de suas raízes, dando-lhe um perfil conservador. Também encaram Palocci como um adversário os aliados fervorosos do ex-ministro José Dirceu, que rivalizou com ele durante o primeiro mandato de Lula. Mas, no meio sindical, igualmente não lhe faltam admiradores. “O Palocci sempre tratou nosso movimento com muito respeito”, diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical. “Foi um dos ministros mais próximos que já tivemos.”

Por todas essas razões, Palocci comandará o trabalho de transição. O ex-ministro chegou ao comitê de Dilma pelas mãos de Lula, de quem é amigo íntimo. Sua boa articulação com o empresariado, o jogo de cintura político e o conhecimento global do governo acabaram por aproximá-lo da presidente eleita. Assim que começou a trabalhar colada a ele, Dilma percebeu que tinha um fiel escudeiro ao seu lado e um verdadeiro furacão do ponto de vista de capacidade de fazer as coisas acontecerem (a exemplo de Dilma, Palocci dorme pouco e não se incomoda em varar madrugadas e atravessar fins de semana mergulhado no trabalho). Por isso, quando reuniu os principais assessores em sua casa no Lago Sul, em Brasília, na segunda-feira 1º, Dilma entregou a coordenação técnica da transição ao seu ex-colega de Esplanada.

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Palocci saiu do encontro com uma missão a cumprir: a ele, caberia fazer um levantamento das principais políticas e projetos em andamento do governo Lula. De posse dessas informações, ele vai ajudar a elaborar os primeiros atos da futura gestão. Na noite da quarta-feira 3, enquanto o secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo (outro membro graduado da transição), desembarcava em São Paulo para um descanso e José Eduardo Dutra (presidente do PT e personagem-chefe no processo transitório) preparava as malas para uma rápida viagem, Palocci reunia-se com o ministro da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima, para analisar pilhas imensas de planilhas e pastas que contêm relatórios de todas as áreas do governo. “Já começamos um levantamento sobre os ministérios e vamos entregar à equipe de transição um amplo material com organograma, estrutura, orçamento, as principais ações para os últimos dias de governo e uma proposta de agenda para os 120 primeiros dias da nova administração”, disse Lima à ISTOÉ. Na segunda-feira 8, por determinação da presidente, terá início o “aprofundamento das principais políticas de governo” que estarão na pauta já nos primeiros meses de 2011 – e Palocci quer estar devidamente preparado para a ocasião. Além de coordenar a comissão técnica que cuidará da transição da máquina do governo, está nas suas costas a responsabilidade de barrar o loteamento de cargos nos ministérios e nas empresas estatais, especialmente neste momento, quando os apetites políticos ficam maiores.

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ALIADO
Michel Temer coordena a transição em nome do PMDB

 

Cardozo, Dutra e, acima de tudo, Palocci compõem o triunvirato que vai abrir as portas do governo para a futura presidente. Dilma entregou a coordenação formal da equipe a seu vice, o deputado federal Michel Temer (PMDB-SP). Mas Temer não pretende deixar a presidência da Câmara para acompanhar o dia a dia da equipe, que passará a se reunir diariamente no Centro Cultural Banco do Brasil. “Ele fará o acompanhamento, o aconselhamento e a supervisão. Mas não colocará a mão na massa”, confidencia um assessor do novo vice-presidente. A tarefa pesada já tem nome e sobrenome: Antônio Palocci. A importância do papel de Palocci é evidente, mas ele vai ter de se equilibrar em um limite tênue. Tudo o que Dilma não deseja é que ele seja visto como uma espécie de primeiro-ministro de seu governo, alguém que ameace a própria liderança da presidente. Dilma já avisou a assessores que não quer saber de estrelismos nos corredores do Planalto nem de alguém que se transforme em favorito da imprensa. Por isso, é provável que Palocci seja indicado para o Ministério da Saúde, e não para um cargo na área econômica ou no próprio Palácio.

 

PARTE 2