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É tradição o presidente eleito usar os meses antes da posse para visitas diplomáticas à Europa e aos Estados Unidos. Em sua estreia internacional, Dilma Rousseff, porém, trilhará um caminho diferente: vai pisar primeiro na África, depois na Ásia e, em seguida, na América Latina. Ao lado de Lula, Dilma integrará uma intensa agenda de trabalho, cuja primeira grande missão será desarmar, na quinta-feira 11, a bomba cambial na reunião do G 20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) em Seul, capital da Coreia do Sul. A preocupação com a desvalorização do dólar diante do real, que derrubou as exportações brasileiras, está no topo das preocupações da presidente eleita, como ela deixou claro no discurso da vitória e em entrevista na quarta-feira 3, no Palácio do Planalto. “Todos os países que não são a China e os Estados Unidos percebem que há uma guerra cambial. Numa situação dessas, não há solução individual, nunca houve. A última vez que houve, deu no que deu: a Segunda Guerra Mundial”, disse Dilma. Antes dela, Lula também foi enfático na crítica às principais potências econômicas. “Vou para o G 20 agora para brigar. Se eles já tinham problema para enfrentar o Lula, agora vão enfrentar o Lula e a Dilma”, afirmou o presidente.

O governo brasileiro conseguiu um feito ao incluir o tema na pauta do encontro. Dilma e Lula, que defendem a adoção de medidas coletivas, marcaram uma reunião privada com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, para tentar recrutá-lo como uma espécie de cabo eleitoral nas articulações com as demais potências europeias. “O presidente quer que Dilma participe das discussões, tome contato e se aproprie desses temas”, disse à ISTOÉ o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia. Responsável pelo programa de governo de Dilma, Garcia aponta o G 20 como o “grande diretório mundial” das discussões econômicas hoje.

Embora a nova presidente já conheça alguns dos chefes de Estado dos principais países, Lula quer ciceroneá-la e usar o seu prestígio para promover a sucessora, garantindo o espaço que o Brasil ocupou nesses últimos anos. “Será uma forma de apresentá-la àqueles com os quais ela terá de lidar nos próximos quatro anos”, afirma Garcia. Mas o assessor ressalta que não se trata apenas de uma viagem de apresentação, de simples caráter diplomático, mas de “uma missão fundamental”.

Desde a crise financeira de 2008, os EUA derrubaram suas taxas de juros para tentar reaquecer sua indústria. Em consequência, os investidores passaram a buscar países que paguem juros mais elevados para aplicar seu dinheiro. O Brasil virou destino preferencial desses investimentos externos, só que a cotação do dólar diante do real despencou. O problema é que com o real valorizado, os produtos brasileiros no exterior ficam mais caros e o volume de exportações diminui, impactando na produção e na geração de emprego.

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DESTAQUE
Nos souvenirs em comemoração à reunião,
Dilma já aparece como representante do Brasil

 

Por aqui, o governo adotou algumas medidas para evitar a sobrevalorização do real, como o aumento de impostos para aplicações estrangeiras. Um novo pacote de defesa comercial será lançado, caso o G 20 não chegue a um acordo. Para o professor de política econômica Carlos Pio, da UnB, Dilma deve aproveitar a vitrine do G 20 para mostrar como reformas estruturais feitas pelo Brasil na última década ajudaram a manter a estabilidade e servem de exemplo para os demais países. “O Brasil fez o dever de casa, algo que a China não aceita fazer”, comenta. Como cartão de visitas, Dilma tem ainda o discurso da vitória, no qual defendeu enfaticamente um ajuste fiscal.

Embora seja a primeira e principal missão de Dilma como presidente eleita, ela também aproveitará as próximas semanas para marcar presença em outros fóruns. Até o fim de dezembro, Lula deve levar sua sucessora em mais oito viagens. Os dois inauguram neste fim de semana uma fábrica de medicamentos em Maputo, capital de Moçambique, dentro do esforço contínuo de cooperação com a África. “Lula tem uma paixão pela África e vai se dedicar muito às relações através de seu instituto”, afirma o chefe do gabinete pessoal do presidente da República, Gilberto Carvalho.

O reforço do convite de Lula para que Dilma o acompanhe em suas últimas viagens segue ainda a diretriz de consolidação da integração sul-americana. Até o fim do ano Dilma deve ir à Guiana para uma reunião da Unasul, ao Chile e à Argentina. Pelo visto, a tradicional viagem para os EUA e para a Europa ficará para o ano que vem, o que incluiria afetiva visita à Bulgária.

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