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Luiz Henrique Tapajós, carioca, 37 anos
Base jumper (salto de paraquedas de pontos fixos) e skydiver, conhecido como o “Homem-pássaro”
– Colaborador do canal esportivo ESPN
– Profere palestras sobre gerenciamento de risco para grandes empresas e indústrias (R$ mil 5 a R$ 10 mil)
– Faz comerciais de tevê
– Especialista em fotos e filmagens em queda livre

 

Foi na descida do cume da montanha mais perigosa do mundo, a K2, no Himalaia, que o experiente alpinista Waldemar Niclevicz, 44 anos, enfrentou o momento mais difícil de sua carreira de 22 anos e 100 montanhas conquistadas. “Escureceu e eu decidi passar a noite lá em cima porque tinha perdido a lanterna, enquanto meus dois companheiros preferiram se arriscar e descer.” Niclevicz ficou parado no meio do gelo a quase 9 mil metros de altitude e sob uma temperatura de 30 graus negativos, conversando com ele mesmo a noite toda. “Só pensava que não podia desistir, porque desistir seria para sempre”, recorda. O medo era sofrer um edema pulmonar ou cerebral por falta de oxigênio – acima do chamado limite vertical (7,5 mil metros), a pessoa corre risco de morrer por essas causas depois de 48 horas. Niclevicz excedeu o limite em 12 horas. “Na manhã seguinte, quando abri a barraca dos meus colegas, eles acharam que eu era um fantasma porque já tinham me dado como morto”, relembra. 

Essa foi apenas uma das ocasiões em que Niclevicz se viu em perigo. Arriscar a vida virou profissão para o montanhista, que entrou para a história como o primeiro brasileiro a atingir o ponto mais alto do mundo, o cume do Monte Everest, em 1995. É dos desafios que enfrenta que ele tira material para livros, vídeos e palestras. Atualmente, ministra até cinco conferências por semana, ao custo de R$ 12 mil cada. Enquanto isso, se prepara para a próxima aventura: em janeiro, irá escalar uma montanha praticamente intocada – não revelada ainda – onde apenas três grupos de aventureiros conseguiram chegar. O projeto está em fase de negociação com a tribo indígena que habita o local e captação de recursos – o custo está estimado em R$ 100 mil. “Sonho com esta montanha há 20 anos”, confessa.

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Waldemar Niclevicz, 44 anos
Primeiro alpinista brasileiro a atingir o cume do Everest
– Dá até 5 palestras sobre superação por semana (R$ 12 mil cada)
– Mantém um site sobre alpinismo e sustentabilidade
– É autor de quatro livros e atualmente produz uma autobiografia em fotos

 

O alpinista é exemplo de um fenômeno comum em países desenvolvidos que começa a ser sentido por aqui, o de aventureiros que transformam seu hobby em profissão. Precursor desse estilo de vida perigoso, o americano Richard Bangs, 59, passou 30 anos descendo rios por todo o mundo e hoje fatura US$ 500 mil por ano, com seus 19 livros, filmes, documentários e programas de TV que exploram o assunto. No momento, está na Costa Rica, trabalhando na série que produz e protagoniza, “Aventuras com propósito de Richard Bangs”. Para ele, o segredo para ser bem-sucedido no mundo da aventura é justamente não encarar as expedições como uma carreira, mas como paixão. “Meu objetivo nunca foi ganhar dinheiro, mas ter experiências”, disse à ISTOÉ. Para Bangs, medo é estímulo. “Se segurança fosse o que buscamos, o mundo permaneceria não descoberto”, filosofa.

Na tevê, essas experiências também se tornaram filão. Só no canal pago Discovery Channel, estão no ar no País as séries “À prova de tudo”, “No pior dos casos” e “Mundos perdidos”. E, no próximo dia 9, estreia “Casal Selvagem”, que traz o perito em sobrevivência das Forças Armadas Americanas Mykel Hawke e a mulher, a jornalista Ruth Hawke, sobrevivendo em condições extremas em lugares inóspitos, incluindo a Amazônia. “Por mais de 20 vezes eu tive certeza de que não terminaria o dia vivo”, contou Hawke. O aventureiro, que já esteve em oito zonas de guerra, não revela quanto lucra com seus negócios, mas diz que tem uma vida confortável e que a maior satisfação é fazer o que ama. “Não é o tipo de profissão que te deixará rico, mas é uma atividade compensadora”, afirma.

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Karol Meyer, 41 anos
Recordista mundial de mergulho livre em apneia em 3 modalidades extremas
– É instrutora de mergulho e de apneia
– Mantém site especializado em mergulho
– Percorre o País dando pelo menos uma palestra motivacional por mês (R$ 4 mil a R$ 6 mil)
 

Embora no Brasil o mundo da aventura comece a chamar mais atenção (a última Adventure Fair em São Paulo, em setembro, atraiu 57 mil pessoas e gerou R$ 350 mil em vendas), a vida dos aventureiros nacionais não é tão fácil. Viver de arriscar é para poucos, não só pela coragem, mas pelos altos custos envolvidos. A mergulhadora em apneia (mergulho sem cilindro de oxigênio) Karol Meyer, 41, que o diga. Ela já esteve em lugares nunca antes explorados, como o Buddy Dive Resort, no Bonaire (Caribe), tem três recordes mundiais em modalidades extremas e está no Guinness Book após ter ficado 18 minutos e 32 segundos sem respirar debaixo d´agua. Apesar dos feitos extraordinários, ela ainda mantém um cargo de bancária para conseguir patrocinar suas viagens. “Está difícil conciliar os dois, mas devo conseguir mais um contrato e assim vou poder me dedicar somente ao mergulho”, conta a recordista, que está no esporte há 14 anos e dá cursos e palestras pelo Brasil.

Outro que desistiu de buscar patrocínios é o alpinista Manoel Morgado, 54, que foi a pessoa mais velha do Brasil a atingir o topo do Everest, em maio. “Estar lá em cima depois de 20 anos olhando o Everest de baixo foi indescritível”, conta o aventureiro, que já foi ao Everest 44 vezes. Para custear seus sonhos, ele abriu uma empresa de expedições especializada em montanhismo e leva em média 100 pessoas por ano para escaladas e trekking. Com isso, consegue trabalhar seis meses e viajar outros seis. Uma semana atrás, acompanhava um grupo no Nepal, agora está em férias na Tailândia e já planeja a próxima aventura: fazer uma travessia esquiando no pólo sul, daqui a um ano, uma empreitada de US$ 120 mil.

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Mykel Hawke, 44 anos
Perito em sobrevivência das Forças Especiais Americanas
– É protagonista da série Casal Selvagem do Discovery com a mulher Ruth
– Dono da escola de sobrevivência SpecOps
– Treinador para situações ameaçadoras
– Autor de “Manual de sobrevivência do boina verde Mykel Hawke”

Segundo o professor de marketing esportivo Antônio Carlos Gobe, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), há pouca oferta de patrocínio aos esportes de aventura porque as empresas hesitam em vincular suas marcas a atividades de risco. “Mas o mercado de hobbies que viram marcas e produtos é promissor”, afirma. Para conseguir sobreviver de suas peripécias, o paraquedista Luiz Henrique Tapajós, conhecido como Sabiá, 39, resolveu radicalizar. Ele se tornou o mais famoso base jumper (aqueles que saltam de paraquedas de pontos fixos) do Brasil ao pular de lugares como o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro, e a Torre Eiffel, em Paris. Há dois meses, saltou sem paraquedas de um avião, contando com outro paraquedista para aterrissar. A receita lhe rendeu o apelido de “homem-pássaro” e também dividendos. Ele virou colaborador de dois programas de tevê, faz comerciais e dá palestras ao valor de até R$ 10 mil. Medo, para ele, é apenas uma sensação gostosa. “Sem ele não tem graça”, diz o paraquedista, que tem 15 mil saltos em 36 países no currículo.

Para Amyr Klink, 57, um dos pioneiros no Brasil no negócio da aventura, ainda há muito romantismo neste setor. Klink, aliás, se recusa a ser chamado de aventureiro. “Aventura é quando você não sabe o que vai acontecer e eu não saio atrás de adrenalina, é tudo planejado”, explica o empreendedor, que dá 120 palestras por ano. Nesse mundo, ensina Klink, não basta, portanto, apenas uma ideia na cabeça, mas muito profissionalismo.

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Manoel Morgado, 54 anos
O mais velho brasileiro a atingir o cume do Everest
– É dono da Morgado Expedições
– Mantém site e blog especializado em alpinismo
– Guia 100 pessoas por ano para trekking em montanhas do mundo todo
– Lidera duas expedições por ano ao Everest