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LIDERANÇA
Cid Gomes (à esq.), Casagrande (centro) e Campos
vão comandar disputa por cargos no novo governo

 

O PSB ostenta, em sua bandeira, uma pomba desenhada por Pablo Picasso. Nessas eleições, o partido honrou a imagem do pássaro, ao alçar um dos maiores voos de sua história. Elegeu seis governadores, um recorde entre as legendas da base governista, e o número de deputados federais aumentou de 27 para 35. Com a musculatura política conquistada nas urnas, o partido, agora, faz pressão por mais ministérios no futuro governo de Dilma Rousseff. À frente das conversas com a equipe de transição está o neto e herdeiro do espólio político de Miguel Arraes, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, reeleito com 82,8% dos votos. “A eleição de 2010 marca uma mudança de patamar do PSB”, afirma Campos, de olho em postos estratégicos no governo.

Com o novo porte, o PSB tem ainda novas faces a oferecer. A primeira vem da liderança na articulação de uma frente de esquerda, unindo o PCdoB e o PDT. Juntos, esses três partidos teriam no Congresso um bloco com apenas cinco votos a menos que o PMDB, o que deixa claro seu poder de fogo. A segunda novidade do PSB é a tentativa de atrair para a legenda, ou para uma composição futura, o senador eleito Aécio Neves (PSDB-MG). “Eu e o Aécio somos companheiros de geração. Fomos deputados juntos e eu até votei nele para presidente da Câmara. Somos amigos”, diz Campos. “O Aécio apostou num projeto nacional e eu apostei noutro, mas isso não impediu que estivéssemos juntos na eleição de um companheiro meu (Márcio Lacerda) para a Prefeitura de Belo Horizonte”. A parceria Aécio-PSB pode começar com o apoio de setores do partido para que o tucano se torne o futuro presidente do Congresso. “Vou sugerir isso em nome da governabilidade, para aprovarmos com mais facilidade o financiamento à Saúde”, explica Cid Gomes, reeleito governador do Ceará. Com ou sem Aécio, os analistas políticos acreditam que a tendência é de o PSB ganhar projeção no curto prazo. “O PSB mudou de categoria, pois deixou de ser um partido pequeno e transformou-se num partido em ascensão, com a perspectiva de voos mais longos”, diz o sociólogo Antonio Lavareda.

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A expectativa de conquistar maior espaço no governo não está ligada apenas ao desempenho eleitoral do partido. A cúpula do PSB considera que a legenda teve participação importante na campanha vitoriosa de Dilma. Se, em 2006, o PSB havia declarado somente apoio informal à reeleição de Lula, dessa vez o partido mergulhou de corpo e alma na eleição da petista, argumentam os socialistas. Para ajudar na vitória de Dilma e se consolidar como força governista, o PSB também sacrificou a candidatura do deputado Ciro Gomes (CE) à Presidência e optou por privilegiar as candidaturas nos Estados. Agora, quer colher os frutos. “Com o resultado que tivemos nas urnas, o PSB se gabarita para ocupar um espaço mais importante no cenário político. É o partido que mais cresceu e deve ocupar pastas mais relevantes”, diz o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

Temendo se queimar na largada da negociação com Dilma, os principais caciques da legenda evitam disputa aberta em torno dos novos ministérios, mas nos bastidores tentam demarcar território. Na administração Lula, a participação do PSB ficou restrita ao Ministério da Ciência e Tecnologia e à Secretaria dos Portos. Agora, além das cobiçadas pastas da Educação e da Saúde, o PSB está de olho nos Ministérios das Cidades, da Integração Nacional e do Trabalho, considerados as joias da coroa do novo governo.

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“Já somos uma grande vitrine nacional. O partido se consolida como uma força de esquerda importante no Brasil. Mas um partido, na hora que se consolida, também tende a ter participação mais estratégica nas decisões de go­verno”, diz o governador eleito do Espírito Santo, Renato Casagrande, que ganhou com 82,3% dos votos.