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GERAÇÕES
Em Enviken, o culto aos anos 1950 une pais e filhos

 

Enviken é um vilarejo de aproximadamente 1,7 mil habitantes na região central da Suécia. Cravada em uma floresta, bem poderia atrair visitantes pelo “ar puro, rios limpos e uma magnífica paisagem de montanha”, como está em seu site oficial. Mas esses atributos naturais não são o motivo de um interesse crescente pela comunidade. O que chama a atenção para o local é o fato de seus moradores viverem como se tivessem entrado no túnel do tempo e parado nos anos 1950, nos Estados Unidos, quando surgiu o estilo rockabilly – gênero musical que mistura rock, blues e country. No mundo todo, entusiastas dos chamados anos dourados até incorporam uma ou outra marca do visual daquela época, como os topetes moldados com brilhantina, para os homens, e olhos delineados, para as mulheres. Há ainda quem se produza nesse estilo para as festas rockabilly, que acontecem também no Brasil, especialmente em São Paulo. Mas em Enviken as pessoas vivem assim. Com roupas, cabelos, carros e músicas do passado. Como se, de fato, o tempo tivesse parado.

A origem dessa mania pela cultura rockabilly não é muito clara. Há quem diga que ela se instalou nos anos 1980, quando uma banda de rockabilly da comunidade, a Ryno Rockers, ficou famosa no país inteiro. Houve um revival mundial do estilo nessa época e a adoção do padrão retrô de vida teria vindo com a música. Mas o site do vilarejo na internet conta que os moradores compraram os carros americanos antigos porque eles são grandes e podiam levar um número maior de passageiros para se divertir em cidades próximas. O fato é que o gosto pelos anos 1950 passou de uma geração para outra e atualmente velhos e jovens curtem juntos a mesma onda. É o caso da família Jonsson. Josefin, 21 anos, é DJ de rockabilly e foi influenciada pelos pais. “Eu cresci ouvindo esse tipo de música, mas só me envolvi mesmo quando tinha uns 15 anos, quando comecei a usar roupas daquele tempo”, contou ela à ISTOÉ. “Aquela década foi marcada por um otimismo em relação ao futuro, além de ser esteticamente fantástica. Não posso fazer nada senão amar tudo isso”, acrescentou a jovem, que também coleciona artigos de decoração vintage.

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O pai de Josefin, Lasse, é produtor de uma das várias bandas de rockabilly de Enviken, a Little Andrew and the Rhythm Boys. Os quatro integrantes do grupo são adolescentes. As letras de suas canções resgatam a inocência da época, como a que exalta uma menina de cabelos pretos e boca rosada. O vocalista, Andreas Östlund (daí o nome do quarteto), disse ao jornal sueco “Sydsvenskan” que começou a frequentar eventos de rockabilly com apenas 1 ano de idade. Já o baixista, Robin Adeström, reclamou de uma espécie de subtipo do rockabilly, o psychobilly – uma mistura do gênero com o punk, surgida nos anos 1980. Ele e todos em Enviken gostam do rockabilly tradicional. As gravações são feitas na casa de familiares de um dos integrantes. O som deve mesmo ter certas imperfeições, como um pouco de eco. “Não gosto de música feita em computadores”, diz Adeström. Ao contrário da maioria dos meninos de sua idade do mundo todo, esses não gostam de hip-hop nem de techno. São jovens velhos da comunidade sueca.

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ANOS DOURADOS
O estilo teve um revival mundial nos anos 1980,
mas no vilarejo perdura até hoje

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Há até uma gravadora especializada em rockabilly em Enviken. Algo curioso em um vilarejo de 1,7 mil habitantes. A Enviken Records foi fundada em 1997 por Patrik Staffanson. “Desde o início eu tenho mandado nossas gravações para emissoras de rádio e tevê na Suécia. Hoje em dia já há várias músicas de Enviken tocando”, conta Staf­fan­son na página oficial de sua empresa numa rede social. Embora as pessoas adotem o estilo rockabilly no dia a dia, nos fins de semana elas capricham ainda mais. Comparações com o filme “Grease – Nos Tempos da Brilhantina” (1978), estrelado por John Travolta, e Memphis, cidade americana onde Elvis Presley morou na mansão Graceland, são até comuns. O cantor é um dos principais ícones do rockabilly, não só em termos musicais como também de estilo. Basta lembrar de seu topetão. Já entre as mulheres, as grandes referências são, de um lado, a pinup Bettie Page e, de outro, a elegante atriz ­Audrey Hepburn. Apesar das diferenças entre uma e outra, um ponto em comum: a franjinha no cabelo – o penteado da moda entre as moças de Enviken.

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