Kurosawa - Criando Imagens para o Cinema

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Uma exposição inédita e um livro homenageiam em São Paulo o diretor de cinema Akira Kurosawa cujo centenário de nascimento é comemorado este ano. A mostra “Kurosawa – Criando Imagens para o Cinema”, no Instituto Tomie Ohtake, revela um lado menos conhecido desse cineasta japonês que foi também um talentoso artista plástico – reúne os desenhos que fez de seus filmes. Ele tinha o hábito de esboçar no papel cada cena que desejava filmar e muitas delas surgiam em sonhos. Entre as obras cinematográficas retratadas estão “Ran” (foto), “Sonhos” e “Rapsódia em Agosto”. Além da exposição, foi lançado no Brasil o livro “À Espera do Tempo – Filmando com Kurosawa” (Cosac Naify), íntimo retrato do cineasta feito por Teruyo Nogami, assistente que trabalhou ao seu lado por cinco décadas. 

+5 filmes de Akira Kurosawa

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O ANJO EMBRIAGADO
História da amizade entre um médico alcoólatra e um gângster, tendo como pano de fundo o Japão do pós-guerra

OS SETE SAMURAIS
Habitantes de uma aldeia que sofrem com os ataques de bandidos contratam grupo de samurais

A FORTALEZA ESCONDIDA
Dois camponeses perdem tudo em uma guerra e planejam  roubar a fortuna deuma família nobre

RAN
É a peça “Rei Lear”, de William Shakespeare, adaptada e ambientada no período feudal japonês

SONHOS
Dividido em oito histórias, o filme é baseado em sonhos verdadeiros que o  cineasta teve emmomentos diferentes de sua vida

Leia um trecho do primeiro capítulo do livro,  À Espera do Tempo – Filmando com Kurosawa :

1. Mansaku Itami – Meu primeiro mentor 

Cartas 

Durante as filmagens, é agradável esperar pela chegada do tempo ideal. É quando a gente faz um intervalo. Se o técnico de iluminação, um homem na casa dos quarenta, estreita os olhos, encara o céu e diz: “É… Por enquanto, não será possível…”, todos exclamamos: “Ah, que bom!”.
O sol se escondeu atrás de uma grande nuvem. Todos se mexem, à procura de um lugar para sentar. Três homens dividem uma pequena caixa de equipamentos, as costas de um se  poiando nas dos outros. Antigamente, os assistentes recém-contratados se sentavam nos  ripezinhos da equipe de filmagem e recebiam broncas homéricas dos câmeras.
Nos dias de hoje, dizem que é inviável, que esperar pelo tempo ideal é ccontraproducente. É algo que só a equipe de filmagem de Akira Kurosawa faz. Em algumas circunstâncias, porém, eles esperam pelas nuvens. Um céu de brigadeiro não é o quadro que se deseja. Também existem vezes em que esperam para rodar quando aquela, aquela nuvem passar para o outro lado da montanha. Que não se diga que é extravagância. Afinal, é cinema.
Quando Kurosawa era assistente de direção, soube que o diretor Sadao Yamanaka filmava Ninjo kami fusen [1937] num set ao ar livre e foi lá para ver.
Ele disse que construíram uma rua cheia de depósitos, então a cena devia ser aquela em que o ator Chojuro Kawarasaki faz o papel do desempregado Matajuro Unno, quando parte atrás do sujeito, “senhor Mori, senhor Mori”, e tenta entregar-lhe uma carta em mãos.
O tempo estava bom, contudo todos olhavam o céu, despreocupados, e nada de a filmagem começar. Kurosawa perguntou qual era o motivo, e disseram que esperavam que uma nuvem surgisse sobre os depósitos.
Quando se espera pelo tempo, o tema preferido das conversas são fofocas. Naquela época, não havia programa de variedades na televisão, então a gente especulava sobre quem estava de caso com quem, fulano que terminou com sicrano, aquele disse me disse que todos conhecem. Também dividíamos histórias de como ingressamos no ramo. Enfim, eram os sewaba, termo do teatro e do cinema que caracteriza condições de pobreza, doença, sofrimento e separação, porém eram os sempiternos sewaba da vida real.
Minhas histórias de vida não são lá muito interessantes, então não desejo torná-las públicas, mas devo mencionar um filme em particular que acabou por determinar o curso da minha história. Tratase de Akanishi Kakita, do cineasta Mansaku Itami.