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RIXAS
Para conquistar espaço, Serra criou atrito com quase todas
as lideranças tucanas que saíram vitoriosas dessa eleição

 

Derrotado pela segunda vez em menos de uma década, numa eleição para presidente da República, o tucano José Serra, aos 68 anos, não amarga apenas um novo infortúnio eleitoral. A vitória de Dilma Rousseff praticamente sepulta o sonho do tucano de alcançar um dia o Palácio do Planalto e coloca em xeque o seu futuro político. Se o triunfo na disputa presidencial representaria o ápice de uma brilhante trajetória iniciada há 32 anos, a derrota faz surgir no horizonte de Serra um cenário nebuloso e de restritas alternativas. Esse prognóstico nada alvissareiro deve-se muito ao fato de que Serra, pela segunda vez, desde 1986 – quando foi eleito deputado constituinte e, em seguida, senador, prefeito e governador de São Paulo, com passagens pelo Ministério do Planejamento e Saúde durante o governo Fernando Henrique – não ocupará um cargo eletivo de relevo. Além disso, as eleições deste ano, em vez de fortalecer, ofuscaram seu grupo político, com a ascensão de novas lideranças no PSDB, como o ex-governador de Minas e senador eleito, Aécio Neves, e o governador reeleito de São Paulo, Geraldo Alckmin. Ou seja, com isso Serra deixa de ser uma referência nacional e pode se tornar apenas mais um retrato desbotado na parede da sede da Executiva Nacional do PSDB. “Serra faz parte de um grupo que tende a ser substituído. O próprio Fernando Henrique Cardoso já perdeu espaço”, atesta o cientista político e pesquisador Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco.

Em 2014, Serra estará com 72 anos, ao passo que Aécio, dono hoje de um importante capital político, graças à sua eleição ao Senado e à de Antonio Anastasia ao governo de Minas Gerais, desfrutará da flor de seus 54 anos de idade. Por isso, o mineiro, neto de Tancredo Neves, é apontado por dez em cada dez tucanos como o nome natural para concorrer às próximas eleições presidenciais. Serra, por sua vez, é tido nas hostes tucanas como um político condenado ao ocaso. Como a perspectiva de poder normalmente norteia as movimentações políticas, Aécio, naturalmente, exercerá uma liderança cada vez maior sobre a oposição daqui em diante, ocupando espaço que hoje é de Fernando Henrique e do próprio Serra. “O Aécio é o candidato natural do PSDB para 2014. É um cara que agrega, é aglutinador”, diz o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado João Campos (PSDB-GO). “Sem dúvida, o Aécio é a liderança de maior emergência dentro do PSDB e nas oposições. Já Serra não deve disputar mais nada. Nem mesmo a Prefeitura de São Paulo”, vaticina Campos. No Palácio dos Bandeirantes, Alckmin também irá capitanear uma ala tucana capaz de dar as cartas no PSDB. Apesar de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 2006 e na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2008, Alckmin deu a volta por cima e ampliou o seu cacife no partido. Com isso, perde força a ala serrista em São Paulo. Um dos poucos aliados de Serra vitoriosos nessas eleições foi o ex-secretário da Casa Civil, Aloysio Nunes Ferreira, senador mais votado do País. “O espólio do PSDB ganha novo polo de forças. E dele faz parte Geraldo Alckmin. Serra perde força”, diz o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). “Aécio e Alckmin serão as maiores lideranças nacionais do PSDB, com Serra fora do páreo”, concorda o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Com poucas alternativas políticas viáveis, restará a Serra um horizonte paulista. Comenta-se no PSDB que o candidato derrotado nas eleições presidenciais poderá ser convidado por Alckmin a ocupar um cargo no primeiro escalão do Estado. Mas nem essa possibilidade é tão cristalina assim. Todos sabem, no PSDB, que a relação entre Alckmin e Serra não é das mais amistosas. Embora o governador reeleito de São Paulo tenha entrado de cabeça na reta final da campanha presidencial e conseguido angariar importantes apoios de última hora para Serra, tucanos lembram que Alckmin não morre de amores pelo colega de partido. Ainda está bem vivo na memória de Alckmin, por exemplo, o comportamento de Serra durante a disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2008. Ao apoiar informalmente Gilberto Kassab, do DEM, Serra rachou o partido e impediu a ida de Alckmin para o segundo turno.

Na avaliação de alckmistas, Serra também teria demonstrado pouco empenho nas eleições presidenciais de 2006, depois de ter sido preterido no partido em favor de Alckmin. “Claro que eles não estão brigados. Mas essas feridas do passado jamais cicatrizam”, lembra um tucano próximo a Alckmin. Em reuniões, às vésperas do segundo turno, com dados que apontavam para a consolidação da vitória de Dilma, os aliados do governador reeleito de São Paulo ironicamente comemoravam “a melhor eleição dos últimos tempos”, numa referência à vitória de Alckmin e à iminente derrota de Serra. Pelo jeito, Serra mais uma vez não conseguiu unir o próprio partido em torno do seu nome. E as dissidências do passado e do presente comprometerão irremediavelmente o seu futuro político.

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“Aécio e Alckmin serão as maiores lideranças nacionais do PSDB. Serra está forado páreo”
Carlos Sampaio (PSDB-SP), deputado federal