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Todas as revoluções que levamos a cabo até agora não produziram os resultados positivos que prometiam. A revolução industrial, a revolução socialista, a revolução capitalista, a revolução sexual… Mas tenho visto sinais do início de uma revolução que pode, sim, transformar o mundo. Falo da revolução espiritual. E não me refiro a algo ligado a religiões ou rituais, mas a um processo de entendimento mais amplo de que somos todos parte de um mesmo organismo, de um mesmo corpo. Falo da interdependência
entre tudo e todos.

Algo parecido com a reflexão acima teria sido dito pelo Prêmio Nobel da Paz de 1989, o Dalai Lama.

Sejamos ou não interessados pela filosofia budista, há alguns fatos incontestáveis que levam a crer que os saberes acumulados por essa corrente filosófica, capaz de abraçar indistintamente adeptos de todas as religiões e credos, construiu ao longo de mais de 2.500 anos de reflexões sobre a vida um olhar mais humano, amoroso e acolhedor sobre o mundo.

A reação pacífica do povo tibetano ao processo sangrento, atroz e desumano de invasão territorial, ocupação violenta e genocídio, perpetrados pelo Estado ditatorial chinês em 1950, é considerada um dos poucos sinais concretos de que a humanidade ainda tem alguma chance de mostrar uma experiência bem-sucedida.

Na semana passada, mais uma prova silenciosa e bela de que essa maneira de ver o mundo faz cada vez mais sentido, para cada vez mais gente.

Cerca de três mil pessoas, dois mil estrangeiros e mil brasileiros, se reuniram na cidade paulista de Cabreúva não só para celebrar um templo erguido em nome da paz no mundo, mas para receber uma das figuras mais especiais do budismo de origem tibetana. Com 80 anos, Geshe Kelsang Gyatso, carinhosamente chamado de Geshe La, tornou-se monge aos 8 anos. Depois de mais de 70 anos estudando, escrevendo livros (22 até agora) e ensinando a forma de pensar e de viver do budismo, já se encontrava recolhido, mas decidiu cumprir uma promessa feita há anos aos seus seguidores brasileiros. Disse que, se esse templo um dia se materializasse, viria ao País para inaugurá-lo. Disse e fez.

Gente de todas as idades, modos de vida, origens e classes sociais, a maioria simpática à Nova Tradição Kadampa, fundada pelo próprio Gyatso, passou uma semana meditando, conversando, estudando e trocando ideias sobre maneiras possíveis para lidarmos de forma um pouco mais pacífica, tolerante, humana e equilibrada com as dificuldades, as angústias e as maravilhas da vida e do mundo.

Um alento, numa semana de tantos ataques, conflitos e denúncias, que antecede a eleição presidencial brasileira. E talvez ainda uma indicação interessante de que a revolução que interessa está em curso.

E ela é silenciosa, eficiente e inspiradora.

A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente