Depois de fazer um estardalhaço, com nítida motivação eleitoral, prometendo interpelar judicialmente o presidente Lula, por ter acusado o candidato José Serra de mentir sobre suposta agressão sofrida na zona oeste do Rio, o PSDB recuou. Na terça-feira 26, anunciou a desistência da ação judicial. “O partido não vai mais acionar o presidente Lula na Justiça”, resumiu um interlocutor do PSDB. “Não tenho a menor ideia do motivo da desistência de interpelar, pois isso foi decidido em São Paulo”, esquivou-se o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA), um dos integrantes da campanha de Serra. O candidato tucano havia sido atingido por uma bolinha de papel e por um suposto rolo de fita adesiva durante embate entre militantes do PT e do PSDB no Rio de Janeiro e, desde então, o PSDB explorava o tema demagogicamente na tentativa de virar votos a favor de seu candidato na reta final da campanha. Serra chegou a fazer uma tomografia, num hospital em Botafogo, para avaliar a extensão da suposta lesão. Mas o oncologista Jacob Kligerman, seu amigo de longa data, não identificou nenhum ferimento ou sequela. Apenas recomendou repouso.

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UNIDOS
Guerra (à dir.) e Maia não deram explicações da
desistência repentina de processar o presidente

 

O PSDB não deu explicações oficiais para a mudança de estratégia, mas na sua cúpula comenta-se que as pesquisas divulgadas durante a semana, que apontaram a queda de José Serra e o crescimento de Dilma Rousseff, candidata do PT ao Planalto, foram determinantes para o recuo. Os tucanos concluíram que o controvertido episódio não resultou na esperada comoção da opinião pública que pudesse beneficiar o candidato do PSDB à Presidência com reflexo nas pesquisas. Além disso, avaliaram que a ideia de confrontar um presidente com 83% de aprovação popular não seria um bom negócio na semana que antecede o segundo turno. No dia da bolinha de papel, a quinta-feira 21, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, afirmou, em tom belicoso, que Lula “não é chefe de um país e sim chefe de uma facção”. As declarações, muito acima do tom, não foram bem recebidas pelos eleitores. Ou seja, o discurso disparatado foi mais um tiro no pé da campanha tucana.