SEMANA-12-IE.jpg
Tuma no Senado (acima) e no Dops:
dom da conciliação
 

Morreu na terça-feira 26 em São Paulo, de falência múltipla dos órgãos, o ex-delegado e senador Romeu Tuma. Ele estava hospitalizado havia 51 dias, desde a implantação de um coração artifi cial. Como policial e político teve a habilidade de fazer amigos – e fazer-se amigo. Nos anos de chumbo, por exemplo, foi o homem mais poderoso em uma das instituições que desapareceram com corpos de opositores da ditadura militar: o Departamento de Ordem Política e Social de São Paulo. Tuma tinha a seu dispor um arsenal digno da Idade Média para interrogar, torturar e cobrir-se de condecorações dadas pelos militares como outros policias o fi zeram – já que a tortura corria solta no País com o aval do governo militar. Pois bem, Tuma nunca encostou um dedo nessas quinquilharias da dor e da morte, nunca tocou em preso sob sua custódia. “Muito embora ele soubesse de um sistema de tortura, ao que se saiba nunca se envolveu com essa prática”, diz o ex-ministro da Justiça e advogado penal José Carlos Dias. Ele e Tuma sempre mantiveram uma relação de respeito mútuo, em campos diametralmente opostos: o delegado prendia opositores políticos, o advogado os defendia. O presidente Lula foi preso em 1980 quando ainda capitaneava greves no ABC paulista e teve em Tuma não o policial linha dura que os militares queriam, mas sim o conciliador que a redemocratização precisava. Lula, coerente com o seu temperamento independente e sem prestar contas a uma esquerda ora ingênua  ora má-intencionada, que acusava Tumade torturador, jamais cansou de agradecer-lhe publicamente o tratamento dispensado. Numa negociação intermediada pelo então presidente nacional da OAB, Raymundo Faoro, ele autorizou que Lula saísse temporariamente (e sigilosamente) da cadeia para visitar a mãe em coma. Ainda como policial, foi o responsável pela localização e identifi cação da ossada do carrasco nazista Josef Mengele. Como político, o dom da conciliação se manteve. Eleito senador em 1994 e 2002, fez em Brasília uma legião de amigos justamente porque se ligava às pessoas, não às siglas. Foi o primeiro corregedor do Senado e integrou o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Morreu aos 79 anos. Muito mais respeitado que temido. “Romeu Tuma dedicou grande parte da vida à causa pública. Merece o respeito dos brasileiros”, declarou o presidente Lula.

tuma.jpg