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CINZAS
Regiões próximas ao vulcão Merapi foram
totalmente devastadas após a erupção

 

Mais de um século depois do desaparecimento da Ilha de Kracatoa em decorrência da erupção de um vulcão, a Indonésia continua contabilizando suas vítimas de tragédias naturais. Dessa vez, o maior arquipélago do mundo foi palco de duas catástrofes simultâneas. Um tsunami provocado por um tremor de 7,7 graus de magnitude na escala Ritcher atingiu o conjunto de ilhas Mentawai, tradicional destino turístico, na segunda-feira 25. No dia seguinte, a 1,3 mil quilômetros dali, aconteceu a erupção do Monte Merapi, na Ilha de Java. Até a quarta-feira 27, foram contados 310 mortos, 400 desaparecidos e milhares de desabrigados nas duas tragédias. Embora não amenize a dor das perdas, o número de mortos é considerado pequeno por especialistas em relação à dimensão do acontecimento. Isso se deve, sobretudo, a uma dura lição aprendida há seis anos. O desenvolvimento da tecnologia ajudou a prever a catástrofe e, embora não tenha podido impedi-la, minimizou seu impacto.

A Indonésia está localizada no chamado Anel de Fogo do Pacífico, uma região de grande atividade sísmica e vulcânica que é atingida por cerca de sete mil tremores por ano. A maioria passa despercebida pela população, mas a volatilidade da região a deixa na iminência de grandes catástrofes. A principal tragédia deste século aconteceu em 2004 e é considerada por especialistas como uma das maiores dos tempos modernos. Às vésperas do Natal daquele ano, um tremor de 9,1 graus causou um tsunami devastador na costa de Sumatra, matando mais de 230 mil pessoas em 14 países da Ásia e da África. O impressionante número de vítimas poderia ter sido bem menor se o Oceano Índico, que banha aquela região, contasse na época com um sistema de alerta de tsunamis. “Após o acontecimento de 2004, foi instalado um alerta para a região e isso evitou que o acontecimento recente tivesse um maior número de perdas humanas”, explica João Willy Rosa, do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília.

O terremoto que causou o tsunami do dia 25 aconteceu a apenas 20 quilômetros abaixo do solo oceânico e foi seguido por pelo menos 14 tremores, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos. Ondas de três metros de altura invadiram o continente em 600 metros e, segundo autoridades, dez povoados desapareceram. Devido ao alerta enviado poucas horas antes de as ondas alcançarem as praias, milhares de pessoas puderam fugir. No dia seguinte, a Ilha de Java foi atingida pela erupção do vulcão Merapi. A não ser o acaso, especialistas dizem não haver relação entre os acidentes.

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DESTRUIÇÃO
Alerta de tsunami evitou tragédia semelhante à de 2004

 

O Merapi, um dos vulcões mais ativos e perigosos do mundo e o mais vigiado da Indonésia, começou a emitir sinais de que entraria em forte atividade no dia anterior a sua erupção. Autoridades haviam aumentado o alerta de risco para máximo, mas muitos ignoraram o aviso e continuaram na região. Lá, 28 morreram e a situação do vulcão inspira perigo. “A energia está aumentando muito. Esperamos que ela seja liberada aos poucos. Do contrário, teremos realmente uma enorme erupção, maior do que tudo o que vimos nos últimos anos”, disse Surano, o responsável pelo serviço de monitoramento de vulcões na Indonésia.

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O socorro só conseguiu chegar à região de Merapi e do arquipélago na quarta-feira 27 por meio de avião. Segundo relatos, o cenário é desolador, com corpos de vítimas espalhados pela praia e pais em busca de filhos. A mãe do brasileiro Fábio Junqueira Kar­kow, que passava férias em uma das ilhas de Mentawai, recebeu notícias do filho e relatou que, ao ouvir um barulho estranho, Fábio fugiu do hotel. “Ele disse que se salvou do tsunami porque conseguiu correr. Ele largou tudo e foi para a parte alta. O resort ficou alagado e ele perdeu tudo. Mas graças a Deus ele está bem”, contou Marisa Karkow, a mãe de Fábio. Segundo o Itamaraty, não há outros brasileiros no local.
 

Tragédias como essa dão a sensação de que os fenômenos naturais estão mais frequentes agora em relação ao passado, mas Willy explica que não. A razão do aumento de notícias relacionadas às catástrofes naturais é uma só: o aumento da população, que faz com que pessoas busquem novas áreas para habitar. Isso as deixou mais vulneráveis aos fenômenos. Como não dá para barrar o aumento populacional e muito menos a força da natureza, o único meio para minimizar o impacto das catástrofes é o desenvolvimento da tecnologia. “Hoje existe uma organização melhor. Temos ferramentas científicas para fazer esse trabalho”, diz Willy. “O que falta são essas ferramentas chegarem a todas as áreas vulneráveis, como em regiões do Oceano Pacífico,” diz.

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