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PÉ DE VALSA
Ronaldinho Gaúcho deixou o clube espanhol logo
depois de ser “fichado” pelos espiões

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NA COLA
Jóbson, do Botafogo, é monitorado 24 horas por uma
pessoa que o acompanha em todos os locais

 

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POLITICAGEM
Deco não teve o contrato com o Barcelona renovado: espionagem política

 

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FLAGRANTE
Vagner Love foi filmado numa boate às 6 horas.
“Estava embriagado”, diz André Guerra, da Mancha Alviverde

No filme “Boleiros”, de Ugo Giorgetti, o ator Lima Duarte interpreta um treinador de futebol que faz marcação cerrada a um boêmio jogador, craque de seu time, no hotel onde os jogadores estão concentrados. Em uma das cenas, enquanto o treinador passa de quarto em quarto para se certificar de que os atletas estavam na cama, descansando, um membro da comissão técnica vigiava a recepção do hotel, já suspeitando que o tal jogador armava uma noitada às escondidas. Era assim, de forma primária, que muitos clubes tentavam até pouco tempo atrás controlar as atividades extracampo de seus boleiros-problema. O Barcelona, da Espanha, porém, profissionalizou o expediente. À frente de seu tempo na forma de jogar futebol, o clube catalão mostrou-se pioneiro também fora das quatro linhas ao contratar uma agência de detetives particulares para fazer marcação cerrada em seus craques.

A mando do então presidente da agremiação, Joan Laporta, a agência Método 3 passou o outono de 2008 seguindo os passos dos brasileiros Ronaldinho Gaúcho e Deco, do camaronês Samuel Eto’o e do espanhol Gerard Piqué. De acordo com a revista espanhola “Interviú”, que revelou o caso, o trabalho custou o equivalente a R$ 11,8 mil. O zagueiro Piqué foi espionado 24 horas por dia durante uma semana. Os outros três foram investigados da seguinte forma: o clube informava as festas que ocorriam na cidade e os detetives apareciam nos locais. O espanhol foi o único que teve a ficha limpa no relatório enviado ao Barcelona – apenas Piqué ainda defende o time azul-grená. Já os brasileiros e o africano teriam cometido atos de indisciplina que ferem o regimento interno do clube. Meses depois, Ronaldinho e Deco foram negociados. Eto’o ficou até o final daquele ano, quando foi vendido.

Hoje meia do Fluminense, Deco, pego de surpresa com a notícia, negou ser baladeiro e explicou que a espionagem teve motivação política. “O Sandro Rossel, atual presidente do Barcelona, foi quem me contratou e os outros três ­jogadores. Ele era vice do Laporta antes, mas os dois brigaram”, diz. “Curioso que o único que não teve problema seja justamente o que continua no clube.” Além dos atletas, a esposa de Rossel e o antigo treinador da equipe, Frank Rijkaar, também teriam sido espionados.

No Brasil, a marcação extracampo não chega a ser tão profissional, mas existe. Além de treinadores, que controlam a vida afetiva de seus comandados com o auxílio de outros atletas do elenco, torcedores fanáticos fazem as vezes de espiões. Para tanto, têm como informantes seguranças, barmen, caixas e recepcionistas de casas noturnas. “Gente da comissão técnica e até diretores já pediram para a gente ficar de olho em jogador”, afirma André Guerra, presidente da Mancha Alviverde, torcida organizada do Palmeiras.

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CAIU A CASA
O camaronês Eto’o: hábitos noturnos reprováveis

 

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BEM NA FOTO
Piqué foi vigiado por uma semana: único
a passar na avaliação do Barcelona

 
 

Segundo ele, o ex-atacante palmeirense Vagner Love esteve na mira de cartolas e torcedores, no ano passado. Dois dias antes de uma partida decisiva, em novembro, o jogador foi flagrado por imagens do circuito interno de uma boate, em São Paulo. Uma cópia da gravação chegou até a Mancha, que a enviou para diretores palestrinos. “Eles viram as imagens. O Love estava embriagado, às 6h da manhã. Quatro horas depois, o time embarcou para o Rio de Janeiro e ele andou no jogo”, diz Guerra. O atacante, hoje na Rússia, deixou o Palmeiras depois de brigar na porta de um banco com torcedores, que cobravam dele, dentro de campo, o mesmo entusiasmo nas baladas.

Este mês, o atacante Jóbson de Oliveira, 22 anos, do Botafogo, passou a ser monitorado 24 horas por dia. Em julho, ele retornou ao futebol após seis meses suspenso por doping – havia consumido cocaína antes de uma partida. Depois de iniciar um tratamento contra a dependência química, teve uma recaída e foi visto em algumas festas. Como há o receio de que a bebida seja um chamariz para a cocaína, uma pessoa passa o dia ao lado do jogador, o leva aos treinos e chega a dormir no apartamento de Jóbson. Gislaine Nunes, advogada que gerencia a carreira de jogadores de futebol, vê com indignação o fato de clubes ou torcedores vigiarem a vida particular dos atletas. “Casos como o do Barcelona mostram como os jogadores são tratados como coisas, dementes, e provam o quanto o futebol é arcaico, provinciano.” O filme “Boleiros” passeia por esse universo. Nele, o treinador Lima Duarte fracassou como detetive e o craque do time tem uma noite de prazer com uma maria-chuteira vivida por Marisa Orth.

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