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VÍTIMAS
Henrique Andrade e o namorado: agressão em festa da USP

 

Piadinhas e apelidos costumam ser as primeiras manifestações de homofobia nas escolas. Nas universidades, a brincadeira de mau gosto evolui para agressão física e causa muito sofrimento às vítimas. Nas últimas semanas, aconteceram alguns casos, aqui e nos Estados Unidos, que chamaram a atenção para a questão da intolerância com a divergência sexual. Na semana passada, um aluno de biologia da Universidade de São Paulo (USP), Henrique Andrade, 21 anos, foi alvo de agressões verbais e físicas de três rapazes incomodados porque ele estava com o namorado numa festa organizada por alunos da USP. Desde setembro, foram divulgados pelo menos quatro casos de estudantes americanos que cometeram suicídio após serem vítimas de agressões e desmoralizações nas escolas ou universidades que frequentavam – fato que, inclusive, levou o presidente Barack Obama a gravar uma mensagem de conforto aos adolescentes que se descobrem gays. O sentimento homofóbico começa na infância, segundo um recente estudo realizado pela ONG Reprolatina em escolas estaduais e municipais de 11 capitais brasileiras.

A pesquisa mostrou que casos de agressões verbais e/ou físicas contra lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais e travestis costumam ser ignorados ou minimizados pelos educadores do ensino fundamental e do médio. Isso, de certa forma, estimula a propagação. Por desconhecerem métodos para lidar com a diversidade sexual, as instituições de ensino optam, normalmente, por ignorar os homossexuais. Magda Chinaglia, doutora em medicina e coordenadora do estudo da Reprolatina diz que falta treinamento e material didático: “Os professores não se sentem preparados, consideram os alunos imaturos e temem a reação das famílias ao tratarem do tema em aula.” Tristeza, depressão, baixa autoestima, fraco rendimento escolar e evasão são algumas das consequências sofridas pelas vítimas. O pedagogo da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Luís Corrêa Lima de­fende que as escolas reprimam a homofobia. “É um mal e está fazendo pessoas sofrerem”, diz.

Henrique Andrade, o aluno da USP, contou à ISTOÉ que se sentiu “abismado e assustado com o que aconteceu”. Ele disse que seu caso não é isolado, e denuncia: “Só este ano ocorreram três ou quatro situações de homofobia na universidade.” Filho de pais da classe média alta, Henrique assumiu sua orientação sexual aos 18 anos e conta com o apoio da família. A diretoria da USP disse que não vai se pronunciar sobre o caso porque a festa não aconteceu no campus e nem foi promovida pela universidade. Mas associações, centros acadêmicos, diretórios de estudantes e professores estão repudiando o fato em um documento que será entregue aos diretores da instituição. A reação ao episódio ocorrido com Henrique mostra que já passa da hora de a Câmara dos Deputados votar o projeto de lei que pretende transformar homofobia em crime no País, como ocorre com outros tipos de preconceito.

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