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NA SOMBRA
Segundo a Nasa, crateras do lado escuro
seriam grandes reservatórios de água

 

Há pouco mais de um ano, um experimento radical da Nasa deixou boa parte da população mundial com a pulga atrás da orelha. Sob o pretexto de buscar evidências da existência de água na Lua, a agência espacial americana lançou um foguete contra uma das crateras localizadas no lado eternamente escuro do satélite. Com o impacto, seis toneladas de detritos foram lançadas no espaço. Noventa segundos depois, uma sonda não tripulada recolheu parte do material para estudo. A expectativa era confirmar que ao menos 1% dele seria água em estado sólido ou gasoso. Para surpresa de muitos, o volume chegou a generosos 5,6%. A descoberta, fruto de mais de 12 meses de análises, foi anunciada na semana passada na capa da revista especializada “Science”, a mais respeitada publicação científica do mundo.

As intenções por trás do experimento nunca foram negadas pela Nasa. Com ele, os americanos queriam descobrir se o abastecimento de água para uma possível estação lunar poderia ser garantido pelas reservas locais. Além da retomada dos voos tripulados à Lua ser um dos objetivos da atual gestão do órgão governamental, uma possível base lunar americana também serviria como uma espécie de “centro de lançamento” para missões mais ambiciosas, como uma viagem tripulada a Marte. “Encontramos um volume significativo de água”, disse Anthony Colaprete, cientista-chefe das pesquisas da Nasa. “E o melhor é que ela estava na forma de cristais de gelo. Você não precisa aquecê-los demais para alcançar o estado líquido e avançar para o processo de filtragem”, complementa o pesquisador.
As descobertas não param por aí. Graças às informações recolhidas por suas sondas, a Nasa chegou à conclusão de que o lado escuro da Lua é re­pleto de oásis em tamanhos diversos e localizados em crateras como Cabeus, a escolhida para receber o impacto do foguete americano. Em alguns desses lugares, as temperaturas alcançam -244ºC, o que garantiria a preservação do gelo por bilhões de anos. “Batizamos essas áreas recém-descobertas de ‘permafrost lunar’. Elas são muito maiores do que supúnhamos”, afirmou David Paige, mais um pesquisador da Nasa.

Claro que a história rendeu boas teorias de conspiração, já que, além de água, a Nasa achou elementos como cálcio, hidrogênio, monóxido de carbono e mercúrio no solo lunar (leia quadro ao lado). Mas nada mexe mais com o imaginário popular do que a possibilidade de erguermos uma espécie de “puxadinho” em nosso satélite. Pensando nisso, o americano “Wall Street Journal” lançou a seguinte enquete em seu site: “Você apoiaria a construção de uma base humana na Lua?” Mais de cinco mil pessoas responderam à questão. O placar final? Nada menos que 81,3% a favor e 18,7% contra. Pelo visto, candidatos a colonos não serão problema.

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