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NOS ANDES
Peruano pinta montanha aos pés do glaciar Chalon Sombrero

 

A face mais visível do aquecimento global é o derretimento das geleiras. O aumento das temperaturas – em boa parte, causado por gases do efeito estufa, fruto da ação humana – faz com que o gelo diminua cada vez mais. Na Europa, os Alpes podem perder toda sua cobertura gelada até o fim do século. Nos Andes (Améri­ca do Sul) e no Himalaia (Ásia), a sobrevida dos chamados glaciares deve ser de algumas décadas. Os mantos que cobrem a Antártica e a Groenlândia, embora não se possa estimar um prazo, também devem ter um destino quente e líquido.

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ANTES E DEPOIS
Imagens de geleira nos Andes revelam o recuo do gelo em dez anos

 

O que deixa os cientistas intrigados é que a redução do gelo vem ocorrendo num ritmo mais rápido do que o aumento das temperaturas globais. Em vez de simplesmente derreter lenta e constantemente, eles sofrem um processo que se retro-alimenta. Em alguns lugares, depois que a cobertura de gelo se vai, as escuras rochas expostas absorvem ainda mais calor, potencializando o derretimento. Foi com esse princípio em mente que o inventor peruano Eduardo Gold teve uma ideia: se o branco absorve menos calor, porque não pintar as rochas dessa cor para refazer uma geleira?

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SOLUÇÕES?
O peruano Gold recebeu US$ 200 mil para pintar montanhas.
Abaixo, pista de estação de esqui suíça é coberta com manta branca

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Em 2008, ele fundou a organização Glaciares Peru. No fim do ano passado, seu projeto foi selecionado entre os 26 vencedores do prêmio 100 Ideias para Salvar o Planeta, do Banco Mundial. O prêmio: US$ 200 mil. Hoje, armado de roupas quentes, uma tinta atóxica e lhamas para carregar o equipamento, e contando com a ajuda de mais quatro companheiros, Gold sobe todos os dias o antigo glaciar Chalon Sombrero, cinco mil metros acima do nível do mar, para pintá-lo. O objetivo é cobrir de branco três montanhas, totalizando uma área de 70 hectares.

Seu esforço e o dinheiro não significam, necessariamente, que o plano dará certo. Alguns cientistas são céticos quanto ao método. Eles concordam que a pintura esfria o ar que sopra na montanha, mas não pode fazer nada para reduzir a radiação solar – outro fator que influencia a temperatura. Se vai funcionar ou não, o fato concreto é que existe cada vez menos gelo no mundo. Isso afeta desde populações que dependem dos rios abastecidos pelas geleiras até outras que se sustentam com o turismo ocasionado pelos esportes na neve.

“Em todos os lugares que vou esquiar, no mundo inteiro, percebo que há cada vez menos gelo”, diz Stefano Arnhold, presidente da Confederação Brasileira de Desportos na Neve. Praticante de esqui há mais de quatro décadas, ele conta que o uso de mantas brancas para cobrir as montanhas durante a noite aumentou nos últimos anos, bem como o auxílio artificial das máquinas de fazer neve. Elas disparam jatos de ar comprimido e água, que cai no chão em forma de flocos. “Não dá mais para contar apenas com o clima”, finaliza Arnhold.

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