i53401.jpgUma lenda é somente uma lenda ou nela podem existir fragmentos de verdade? Desde 1832 ouve-se falar, na Índia, do mande burung, ou Yeti, um macaco gigante que pelo fato de andar sempre ereto foi confundido com um homem excessivamente coberto de pêlos. A história dessa figura enigmática atravessou o tempo e seu protagonista tornou-se conhecido nas lendas que correm de boca em boca, na literatura e no cinema como o Abominável Homem das Neves – ou, também, Pé-grande. Um pouco por causa desses nomes exóticos e sensacionalistas, mas sobretudo devido à falta de indícios mais claros sobre a sua existência, a ciência manteve certo ceticismo diante disso – embora, vez ou outra, algum pesquisador se aventurasse a acrescentar informações, ainda que vagas. Na semana passada, no entanto, um chumaço de cabelos encontrado nas colinas de Garo, ao nordeste da Índia, parece ter mudado o rumo da história. Cientistas britânicos receberam a amostra e decidiram mergulhar na estrutura das células desses cabelos. Resultado: o Abominável Homem das Neves pode ter sido um primata gigante, diferente de todos os macacos conhecidos e registrados nos bancos de dados genéticos de todo o mundo. Respondendo- se à indagação do início, agora fragmentos de verdade científica começam a aparecer naquilo que só parecia lenda.

“Temos muita sorte de os pêlos apresentarem folículos que podem ser identificados porque contêm células”, diz o biólogo inglês Ian Redmond, especialista em macacos. Assim que recebeu as amostras, ele e sua equipe da Universidade Brookes de Oxford debruçaram- se no DNA do suposto Homem das Neves com microscópios que ampliam até 200 vezes uma molécula. Ao expor o material às lentes e comparar o DNA do suposto Pé-grande com milhares de estruturas celulares, os cientistas descobriram estar diante de uma espécie completamente desconhecida. “Agora sabemos definitivamente que tais pêlos não pertencem ao urso negro asiático e não se parecem com pêlos de diversas espécies de símios”, diz Redmond.

i53405.jpg“COMPROVAMOS QUE OS PÊLOS ANALISADOS PODEM TER SIDO DE UM PRIMATA AINDA DESCONHECIDO PELA CIÊNCIA”
Ian Redmond, da Universidade Brookes de Oxford

Também especialista em primatas, a bióloga Anna Nekaris remete-se à espécie já extinta Gigantapithecus, o maior primata conhecido e que viveu no período Pleistoceno entre cinco milhões de anos e 100 mil anos atrás, na região da China, Índia e Vietnã. Segundo Redmond, essa era uma espécie desconhecida e sem registros de fósseis e teria altura estimada em três metros. Redmond e Anna tratam, assim, da possibilidade de o Abominável Homem das Neves, o Yeti, ser descendente do Gigantapithecus. O primeiro relato do suposto Pé-grande é de 1832, ano em que o representante do governo britânico no Nepal, o naturalista B. H. Hodsons, descreveu um ser do qual jamais se falara, “coberto de pêlo longo e escuro, desprovido de cauda e que caminha ereto”. Só em 1951 o chamado Yeti se tornou internacionalmente conhecido quando o alpinista britânico Eric Shipton publicou fotos de pegadas humanóides com cerca de 35 centímetros de comprimento, obtidas no Himalaia. Em 1961 o governo do Nepal declarou oficialmente que o “Yeti existe”. Agora, tanto o Yeti quanto a ciência deram mais um passo, um na direção do outro.

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