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ELEITORAL
Serra garante que se eleito vai cortar custos e
aumentar o salário mínimo e a aposentadoria

 

Promessa de campanha é expediente normal dos candidatos numa eleição. Mas qualquer oferta, por mais milagrosa que pareça, deve respeitar os limites do equilíbrio fiscal e orçamentário do Estado. E, acima de tudo, não abusar da boa fé do eleitor. O candidato tucano José Serra, em seu afã por conquistar votos no segundo turno, vem contrariando todas essas regras. De olho no potencial eleitoral de aposentados e funcionários públicos e sem resquícios de responsabilidade, Serra prometeu elevar o valor do salário mínimo a R$ 600 e reajustar as aposentadorias acima do mínimo em 10%. Ao tentar convencer o eleitorado de que o “Brasil Pode Mais”, seu slogan de campanha, disse ainda que vai dobrar o Bolsa Família, hoje em R$ 12,7 bilhões, e criar um 13º para os beneficiários do programa. Puro populismo. Só essas quatro promessas custariam aos cofres públicos mais de R$ 46 bilhões, o que supera em uma vez e meia tudo o que o atual governo aplicou em infraestrutura, dentro e fora do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no ano passado.

Para o economista Marcelo Abi-Ramia Caetano, do Ipea, as medidas do tucano aprofundariam o déficit da Previdência, que deve acumular só este ano um rombo R$ 45 bilhões. “É preciso evitar o aumento dos gastos e fazer uma reforma profunda, ou então reduzir os investimentos”, alerta Caetano. No segundo caso, o problema é saber onde cortar. Educação, saúde, infraestrutura? “Parar de contratar e aumentar salário pode não ser suficiente”, alerta Sérgio Vale, da MB Associados.

A equipe de Serra diz que é viável encaixar os gastos no “perfil” do Orçamento público. Geraldo Biasotto, consultor de Serra para a área econômica, desconversa: “O Serra pretende reorganizar o Orçamento e as contas financeiras do setor público”, afirma. Como sugestão de cortes, aponta para a carga tributária sobre a cesta básica e a conta de luz – esta última rendeu em 2009 mais de R$ 46 bilhões ao governo.

Analistas independentes, no entanto, não dão nenhum crédito a esses malabarismos estatísticos. E a razão é bem simples. “Para fechar a conta, seria preciso um corte ainda maior nos gastos”, explica o economista Ricardo Amorim. Felipe Salto, da Tendências Consultoria, pondera sobre as medidas de compensação, mas admite que a realização das promessas de Serra acabaria por adiar o “necessário ajuste que deve ser feito no setor público”. O Brasil, com apenas 7% da população em idade superior a 65 anos, gasta com aposentados e pensionistas o equivalente a 13% do PIB. “É o padrão de gastos da Europa, que tem 20% da população idosa”, explica o economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio.

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