“Faça como todo líder – PENSE GRANDE. Descubra o maior segredo de Donald Trump.” Impossível não notar o anúncio no jornal, com o “pense grande” destacado em letras graúdas, a foto da capa do livro ao lado e o telefone da editora para entrega rápida e gratuita. Não tenho dúvidas de que será um best seller esta obra da lavra do magnata Trump, com receitas infalíveis de sucesso. Isso, a busca (no mais das vezes indiscriminada) do sucesso, é, queiramos ou não, uma marca de nosso tempo.

A priori, o sucesso é bem-vindo em qualquer projeto. Não deve haver quem comece a fazer algo já desejando o fracasso de sua própria empreitada – e aqui deixo de fora os casos de divã. É saudável depositar as melhores energias em qualquer tarefa que se leve a cabo, seja ela pessoal, seja profissional. Mas “sucesso”, tal como é lido hoje em dia, significa “chegar ao topo” – e aqui pouco importa a que custo (ou que topo!) –, conquistar dinheiro, fama e poder, ascender a um patamar muito acima dos mortais (em grande parte destes casos, sem maiores escrúpulos morais), para receber regalias e paparicos que o mundo tem a oferecer. Empreender um projeto mirando seu êxito pode ser algo nobre, mas a idéia de “sucesso” que hoje prolifera em livros, outdoors e comerciais de tevê tem sabor mundano, tacanho, arrivista.

A idéia de “sucesso” que hoje prolifera em livros, outdoors e comerciais de tevê tem sabor mundano, tacanho, arrivista

Não sei qual o segredo de Donald Trump. Tampouco tenho disposição para ler seu livro a fim de descobri-lo (tenho falhas irreparáveis no meu currículo de leitor que quero sanar ainda nesta encarnação, portanto não me sobrará tempo para manuais de sucesso). “Por trás de toda grande fortuna há um crime”, disse um cruel e realista Balzac, ele próprio um nome a constar nessa lista mencionada ao lado. E por trás de toda grande sede de poder e ascensão deve haver uma grande falta correspondente, imagino eu.

Pesquisadores da Austrália recentemente descobriram curiosa relação entre o gosto pelo excesso de velocidade de seus conterrâneos e o tamanho do pênis. Correr seria uma forma viril de compensar a falta de envergadura (aqui sem metáforas). Um amigo filósofo de botequim defende tese semelhante. Ele crê que a atração por carros muito grandes, que hoje infestam as ruas das congestionadas cidades brasileiras e causam transtornos infernais, tem origem na mesma insegurança que assombra os velozes motoristas australianos. Isso me remete automaticamente ao lema de Trump – “pense grande” – e, iluminado pelas pesquisas que vêm da terra dos coalas e pela tese de quiosque do meu amigo, penso (nem tão grande assim!…): como tudo faz sentido, meu Deus!

Mas sabemos que julgamentos como esses podem ser levianos, embotados pela maledicência e inveja populares. Vai ver o homem tem mesmo um método secreto, brilhante e eficaz de gerir empresas, revolucionário talvez, humanista quem sabe. Ou talvez o segredo de sua força, à semelhança do bíblico Sansão, resida tão-somente na portentosa (e ridícula) cabeleira que ele ostenta na capa do livro, símbolo kitsch de sua riqueza e de sua trajetória de sucesso, modelo que tem copiadores (e aprendizes) pelos quatro cantos do mundo. Menos no Brasil, claro.