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TOUR
Integrantes do Tea Party cruzam o país de ônibus
fazendo campanha contra Obama

 

Na reta final da campanha para as eleições parlamentares dos Estados Unidos, que renovarão parte do Senado, toda a Câmara dos Representantes e alguns governadores, em dois de novembro, surge um fator novo e uma nova preocupação para o presidente Barack Obama. O movimento Tea Party, organizado pela extrema direita americana e amadrinhado pela ex-governadora do Alasca, Sarah Palin, saiu em excursão pelos grotões do país na terça-feira 19 propagando ideais conservadores sobre economia, políticas sociais e direitos civis. O comboio pega carona na crescente impopularidade de Obama, que vê sua maioria no Congresso ameaçada com a proximidade do pleito. O impacto do Tea Party, formado principalmente por membros do Partido Republicano e simpatizantes a ele e que apoiam moral e financeiramente candidatos da extrema direita, ainda não é claro, mas pesquisas de opinião mostram que esse novo segmento de neoconservadores pode conquistar um espaço bem maior do que esperavam os democratas no início da corrida eleitoral.

Muitas propostas sugeridas pelos ultraconservadores do Tea Party podem soar absurdas e até caricatas, o que fatalmente poderia fazer o grupo cair em descrédito. Mas não é algo que o Partido Democrata pode ignorar, por causa do momento pouco favorável a Obama. A criação de um sistema público de saúde – cujo impacto financeiro na economia americana será considerável – e o enquadramento do sistema financeiro dos Estados Unidos, que salvou da falência bancos e empresas, não foram bem-vistos pela sociedade conservadora americana. Para o cientista político americano David Fleisher, do departamento de relações internacionais da Universidade de Brasília, o problema de Obama é que ele não conseguiu deixar claro à população o motivo dessas medidas. Além disso, Fleisher acredita que o presidente não teve tempo de cuidar de outras esferas, entre elas, a sua popularidade. “Ele não previu um crescimento de movimentos como esse”, diz. E foi nos principais feitos dos dois anos de governo Obama que o grupo tirou munição para, na disputa, enfraquecer o presidente.

Ron Paul, membro do Tea Party e congressista pelo Texas na Câmara dos Representantes, similar à Câmara dos Deputados no Brasil, pede o fim do Fed, o banco central americano, acusando-o de corrupto, inconstitucional e diz que ele ameaça colocar os EUA em depressão inflacionária. Foi por meio do Fed que Obama resgatou da crise importantes instituições americanas. Paul também defende a total privatização do sistema público de saúde e sugere que a previdência social americana migre para a iniciativa privada. Essas são apenas algumas reivindicações da ampla lista das reformas defendidas pelo grupo. Sharon Angle, que disputa uma vaga no Senado pelo Estado de Nevada, defende a saída dos EUA da ONU, acusando a entidade de ser um “bastião de ideologia liberal e o juiz da ciência fraudulenta, como o aquecimento global”. Ela vai além, pedindo a abolição do Departamento de Educação, pois acredita que a “melhor educação é a controlada no nível mais local possível”.

A FORÇA CONSERVADORA
Estimativas apontam que representantes do grupo devem
conquistar 35 vagas na Câmara e seis no Senado

O grupo adotou o nome Tea Party inspirado no que ficou conhecido como A Festa do Chá de Boston, em 1773. Na ocasião, comerciantes se revoltaram contra o preço abusivo do chá vendido pela Inglaterra e, em protesto, jogaram o estoque de três navios ingleses no mar. O acontecimento serviu de impulsionador para o movimento de independência americana.

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Já a Tea Party do século XXI ocupa-se basicamente de reagir às políticas de Obama, instigando a raiva dos eleitores com a crise econômica. “O Tea Party é um disfarce para o conservadorismo reacionário, para a ideologia da extrema direita. Ele é composto, basicamente, de brancos, ricos e protestantes”, diz David Fleisher. A ex-governadora Sarah Palin aconselhou o seu Partido Republicano a “abraçar a mensagem do movimento político antigoverno”. E tem se empenhado pessoalmente na campanha de candidatos do Tea Party nas eleições de 2 de novembro.

O conservadorismo extremo do Tea Party e seu forte apoio financeiro a candidatos têm ganho cada vez mais adeptos. Um levantamento feito pelo jornal “The New York Times” indica que os candidatos apoiados pelo grupo podem conseguir até 33 vagas na Câmara dos Representantes e oito para o Senado. Diante deste prognóstico, coube a Obama correr para recuperar sua aprovação entre os que o elegeram. Para isso, iniciou na quarta-feira 20 uma viagem de quatro dias por Estados do Oeste, levando argumentos e energia para tentar impulsionar os candidatos democratas. Como um reforço, recrutou sua esposa, a popular primeira-dama, Michelle Obama.

Por hora, o que está em jogo é a derrota dos democratas e, por extensão, da Casa Branca. Os jornais americanos noticiam que o resultado será catastrófico se os republicanos fizerem maioria nas duas casas do Congresso. Ainda que conquistem apenas uma das casas, será um estrago e tanto para a Casa Branca. Mas a verdade é que só após o dia 2 de novembro será possível saber se o movimento ultraconservador Tea Party superou o status depreciativo de folclore político para se tornar uma real força no cenário eleitoral americano.

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