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APELO
Blatter, o presidente da entidade,
pede voto de confiança

 

A realização de uma Copa do Mundo coloca em jogo não apenas o desempenho esportivo das seleções, mas principalmente investimentos bilionários. A cobiça por sediar o evento colocou a Fifa, órgão máximo do futebol, conhecida pela mão de ferro com que rege esse esporte no mundo, no centro de um escândalo de corrupção inédito. Dois dos 24 dirigentes do comitê que participam da escolha dos países anfitriões da Copa foram acusados, pelo jornal britânico “Sunday Times”, de colocar seus votos à venda. A denúncia causou rebuliço na sede da entidade, na Suíça, e, além de arranhar sua imagem, fez seus integrantes cogitarem adiar a escolha dos países que receberão os mundiais de 2018 e 2022, prevista para dezembro, enquanto corre a investigação.

Em um encontro filmado pelo jornal britânico, dois repórteres se passaram por lobistas de um consórcio dos Estados Unidos e receberam do nigeriano Amos Adamu, membro do comitê executivo da Fifa, a garantia de que ele votaria a favor da candidatura americana em troca de 570 mil euros. Adamu se defende dizendo que o dinheiro seria destinado à construção de quatro estádios de grama artificial na Nigéria. Já o taitiano Reynald Temarii, vice-presidente da Fifa e presidente da Confederação de Futebol da Oceania, teria pedido 1,6 milhão de euros para uma academia de esportes. Mas garante ser inocente. “Estou 100% seguro de minha integridade. Vou mostrar que sou um homem honesto”, disse. Porém, em reunião realizada na quarta-feira 20, a Fifa afastou ambos provisoriamente de seus cargos.

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FILMADOS
O taitiano Temarii pediu 1,6 milhão de euros e o nigeriano Adamu, 570 mil.
Eles alegam que o dinheiro não era para eles

 

A organização Transparência Internacional não demorou a se pronunciar e disse que a primeira reação da Fifa às denúncias foi insuficiente, pois não deixa claro que a entidade lutará contra a corrupção nas candidaturas. O sociólogo Maurício Murad, doutor em ciência do desporto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), acredita que, para ser coerente com suas próprias regras e o rigor que exige em qualquer processo, a Fifa tem a obrigação de punir de forma exemplar. “Quanto mais clara a punição, mais (a Fifa) vai inibir novas tentativas”, diz ele. Segundo o sociólogo, o sistema de escolha de candidaturas da Fifa é tido como rigoroso, quase perfeito. Mas, como depende de várias pessoas, necessita de forte fiscalização. Após o escândalo, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez um apelo patético: “Confiem em nós.” Depois desse episódio, fica difícil atender a esse pedido.

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