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TALENTO
Moura: um dos melhores de sua geração

 

Os aplausos dos espectadores de “Tropa de Elite 2” na cena em que o Coronel Nascimento dá uma surra no secretário de Segurança corrupto não revelam apenas um fetiche dos brasileiros. Dão também a medida de quanto Wagner Moura, 34 anos, tornou convincente o personagem nos dois filmes que compõem a trama. O desempenho tem rendido ao ator reconhecimento do público e elogios da crítica e dos colegas, algo com que todo artista sonha. Mas a segunda versão de “Tropa de Elite”, um estrondoso sucesso assistido até a terça-feira 19 por 4,6 milhões de espectadores, vai render algo além disso: um bom dinheiro. Moura não é apenas o protagonista do filme, mas também um de seus coprodutores – o que, segundo o mercado, vai levá-lo a engordar sua conta bancária em cerca de R$ 1,5 milhão nos próximos três meses, faturamento semelhante ao das atrizes Courtney Cox e Jessica Alba em Hollywood.

É um valor excepcional para qualquer ator brasileiro, e inimaginável até então para quem faz cinema no Brasil. O talento de Moura, associado ao tino de investidor, fez dele a grande locomotiva da sétima arte nacional, com possibilidades, inclusive, de fazer carreira nos estúdios americanos. A se confirmarem as projeções, “Tropa de Elite 2” entrará para a história como uma das maiores produções brasileiras. A obra, que custou R$ 12 milhões, deve arrecadar R$ 100 milhões de bilheteria em três meses, levando um público de dez milhões de pessoas ao cinema, algo que não se vê há mais de 30 anos. Metade da bilheteria fica com as salas exibidoras. Os custos de lançamento e distribuição consomem 20%. O (muito) que sobra é rateado entre os produtores. No caso, o diretor José Padilha e seu sócio na Zenza Produções, Marcos Prado, o roteirista Bráulio Mantovani e Moura, que, na parceria, repete o modelo de sucesso colocado em prática por astros internacionais, como Tom Cruise e Jack Nicholson. O ator, porém, prefere falar do valor artístico a tratar do monetário. “Gosto mais deste filme do que do primeiro. É mais complexo, mais ancorado na realidade”, avalia o ator. “O personagem volta mais consciente e maduro.”

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FARO
O ator em “Tropa de Elite” 1 e 2: tino comercial

 

A maturidade marca não apenas o Coronel Nascimento, mas o próprio ator. “Eu já o considerava um dos melhores atores de sua geração, mas agora ele está mais maduro”, diz Fátima Toledo, a preparadora de elenco mais requisitada do País, que trabalhou em “Tropa”. Moura tem uma enorme capacidade de incorporar o personagem. Trafegou com desenvoltura entre figuras diversas como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, da minissérie “JK”, o vilão Olavo, de “Paraíso Tropical” e o policial Nascimento, cujo bordão “pede pra sair” caiu no gosto popular. Natural de Salvador, conseguiu chegar à Rede Globo, mas não se acomodou ao status de global. “Ele não escolhe apenas o que seja confortável, se arrisca em trabalhos bem diferentes uns dos outros”, diz o ator e amigo Lázaro Ramos.

No set, Moura é discreto, não faz o estilo brincalhão. Nos intervalos de gravação, ele lê, ouve música, conversa com os colegas ou aproveita para tirar uma soneca. Perfeccionista, faz questão de rever suas cenas e pede para repetir algumas, mesmo quando aprovadas pelo diretor. “Ele tem uma capacidade de concentração incomum, chega a ser meditatória”, conta o cineasta Toniko Melo, que o dirigiu no filme “VIPs”, pelo qual Moura ganhou o prêmio de melhor ator no Festival do Rio deste ano. Ele carrega um caderninho e toma nota de tudo nos ensaios.

 

4,6 milhões de pessoas já viram “Tropa de Elite 2” até agora.
O filme deve chegar a dez milhões de espectadores

 

R$ 100 milhões é quanto o filme deve faturar em três meses.
Wagner Moura deve levar emtorno de R$ 1,5 milhão

O sucesso de “Tropa de Elite” o fez se preocupar em separar o Moura da vida real do Coronel Nascimento. Declarou ser favorável à legalização da maconha, algo que o policial jamais diria, pois o personagem acredita que é o viciado quem sustenta a violência do morro. Para o antropólogo Luiz Eduardo Soares, coautor dos livros que serviram de base ao filme, não deve ter sido fácil para ele assimilar a popularidade de Nascimento. “Imagino que a reação de quem aplaude um personagem construído para ser um anti-herói, que tortura, o tenha feito sentir-se mal”, diz. Os únicos rompantes de ira visíveis de Moura costumam ser dedicados aos paparazzi que vasculham sua vida particular, uma das consequências de seu sucesso. Nada, é claro, que lembre o Coronel Nascimento.

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