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R$ 100 BILHÕES
é quanto o brasileiro vai gastar no Natal de 2010, Para atender à demanda,
shoppings como o Pátio Higienópolis antecipam decoração e promoções

 

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Na semana passada, saíram as novas projeções para o crescimento do Brasil em 2010. De acordo com estimativas do governo, de consultorias especializadas e de organizações como o Fundo Monetário Internacional, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode aumentar até 8% em 2010. Se o número se confirmar – e é muito provável que se confirme –, significará o maior salto econômico em três décadas. Sob qualquer ponto de vista, trata-se de um resultado extraordinário. Entre os emergentes, é a terceira melhor marca, atrás apenas de China, imbatível nesse quesito, e Índia. Na comparação com a média de desempenho do PIB mundial (alta de 4,8% em 2010), o indicador brasileiro chega a ser quase duas vezes maior. Uma escalada dessa magnitude oferece a milhões de brasileiros um inédito campo de oportunidades. O Brasil vai gerar em 2010 algo como 2,5 milhões de empregos, quase um Uruguai inteiro. Até o fim do ano, o valor que a população vai gastar na compra de bens de consumo chegará a R$ 2,2 trilhões, uma disparada de 22% ante 2009. Não à toa, o varejo espera para dezembro o melhor Natal da história. No período, o comércio deve movimentar R$ 100 bilhões, o que vai exigir um aumento de 60% na compra de insumos e produtos importados para atender à brutal alta da demanda. Dados superlativos como esses fizeram com que o Brasil deixasse de exercer um papel coadjuvante no palco econômico global. Hoje, o País é uma potência planetária, capaz de influenciar no jogo de forças entre as nações. “O Brasil passou para a liderança do crescimento mundial”, disse à ISTOÉ o ministro da Fazenda, Guido Mantega (leia entrevista).

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Qualquer que seja o resultado das eleições, o próximo presidente terá uma imensa responsabilidade sobre seus ombros. O Brasil potência, algo sonhado por gerações, enfim se tornou uma realidade. Obviamente, há um longo caminho até o País eliminar por completo seus problemas, mas as recentes conquistas não podem ser obliteradas. “O maior desafio do Brasil é a sustentação do crescimento”, diz Paulo Nogueira Batista Júnior, diretor-executivo pelo Brasil e mais oito países no FMI. “Depois de 20 anos, o nosso maior objetivo passou a ser o desenvolvimento”, afirma Roberto Padovani, economista e estrategista sênior do banco WestLB. Investidores internacionais já demonstraram preocupação quanto a um possível rompimento da política econômica atual. Na ótica desse grupo, um cenário de continuidade assegura a manutenção do inédito ciclo de expansão verificado no País.

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R$ 100 BILHÕES
é quanto o brasileiro vai gastar no Natal de 2010, Para atender à demanda,
shoppings como o Pátio Higienópolis antecipam decoração e promoções

 

Nestes dias em que as discussões políticas estão exacerbadas, a questão econômica foi incorretamente deixada de lado, mas é ela que, afinal de contas, influi na vida das pessoas. É o aumento da renda, que desde 1990 cresceu 163% no País, que permite que os brasileiros comprem mais, realizem seus sonhos ou poupem para assegurar um futuro sem sobressaltos. Ao comprar mais ou guardar dinheiro no banco, os brasileiros proporcionam lucros para as empresas e instituições financeiras – que, capitalizadas, contratam mais, investem mais, geram riqueza para o País.

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“A General Motors vai investir R$ 2 bilhões no Brasil em 2011”
Jaime Ardila, presidente da GM para a América do Sul

 

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Para a maioria dos analistas, existe uma diferença clara entre o desenvolvimento atual e o milagre econômico da década de 70 do século passado. Pela primeira vez, o crescimento não está associado à inflação (nos anos 1970, os preços subiam acima de dois dígitos a cada 12 meses. Em 2010, o índice inflacionário oficial deve ser de 5,2%). Com a estabilidade associada ao aumento da renda e à oferta abundante do crédito, o País deu novo fôlego ao seu mercado interno. Em poucos lugares do mundo a aviação cresce como no Brasil, em torno de 30% ao ano. Detalhe: na Europa, as maiores empresas do setor enfrentam uma crise sem precedentes e nos Estados Unidos espera-se um aumento inferior a 5% na venda de passagens em 2010. O mercado brasileiro é tão forte que a americana Boeing, em parceria com a Gol, decidiu instalar em Belo Horizonte seu centro de tecnologia e manutenção de aeronaves para todas as companhias da América Latina.

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30%
é quanto deve crescer o mercado aéreo brasileiro em 2010,
marca não repetida por nenhum outro país

 

Na indústria automobilística, a expansão do mercado brasileiro só pode ser comparada ao desempenho chinês. De janeiro a agosto de 2010, foram vendidos no País 2,077 milhões de carros, 8,4% a mais que no mesmo período de 2009. Como resultado, o Brasil alcançou um feito tão surpreendente quanto simbólico: ultrapassou no ranking mundial a Alemanha, país-sede de gigantes como Volkswagen, Mercedes-Benz e BMW, e ficou atrás apenas de China, Estados Unidos e Japão. O interessante é que o mercado nacional não se destaca apenas no volume de vendas, mas também na qualidade do que é fabricado por aqui. Montadoras como General Motors e Fiat fizeram do Brasil uma plataforma mundial de desenvolvimento de produtos, que são inteiramente concebidos em território brasileiro para depois serem levados para a Europa e os Estados Unidos. Essa nova fase da indústria exige intensos aportes financeiros. Juntas, as principais fabricantes de carros instaladas no Brasil vão desembolsar cerca de R$ 20 bilhões nos próximos cinco anos no País, dinheiro que será revertido principalmente na ampliação e manutenção das plantas industriais. “Apenas em 2011 vamos investir R$ 2 bilhões no Brasil”, diz Jaime Ardila, presidente da GM para a América do Sul.

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A pujança fez com que o Brasil passasse a ser cobiçado por investidores estrangeiros. A recente crise financeira global inverteu uma histórica equação no tabuleiro econômico mundial. Acredite: para uma corporação multinacional, tem sido mais fácil ganhar dinheiro no Brasil do que nos países de origem. Na semana passada, a Coca-Cola, a empresa mais globalizada do planeta, divulgou seu balanço. No terceiro trimestre de 2010, as vendas no Brasil cresceram 13% – mais do que em qualquer outro lugar onde a gigante de bebidas está presente. É covardia comparar a performance brasileira da companhia com o restante do mundo, que registrou alta de 5% nas vendas de refrigerantes. Empresas-símbolo em seus países faturam por aqui tanto quanto em suas próprias casas. A americana Avon igualou sua receita obtida no Brasil com o faturamento alcançado nos Estados Unidos. Nos dois casos, o número é de US$ 1,8 bilhão. Entre as 150 operações da alemã Nivea no mundo, a de melhor desempenho é a subsidiária brasileira. “Desde 1999 a economia brasileira faz as mesmas coisas em termos de combate à inflação e equilíbrio de contas públicas”, diz Robson Gonçalves, economista e professor da FGV Management. “Por isso, logo ficou claro que as regras do jogo são essas e que não vão mudar. Como resultado, as oportunidades de negócio no Brasil passaram a chamar a atenção de quem está lá fora.” Em 2003, o investimento direto estrangeiro no Brasil totalizou US$ 18,9 bilhões. Em 2010, esse número deve superar a marca dos US$ 30 bilhões.

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“O Brasil lidera o crescimento mundial”

Em entrevista exclusiva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
diz que o Brasil serve de exemplo até para os Estados Unidos

Por Octávio Costa e Adriana Nicacio

 

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“A economia mundial vai crescer graças aos emergentes”

 

ISTOÉ – O Brasil é exceção no mundo em crise?
Guido Mantega – A América Latina é destaque na economia mundial, com o Brasil irradiando o crescimento para a Argentina, o Uruguai e outros países. Nós estamos importando de nossos vizinhos e estamos estimulando essas economias. Éramos o patinho feio. Ficávamos atrás dos emergentes, porque éramos o país da promessa. No semestre, nós crescemos 8,9%, a segunda maior evolução entre os países do G-20, atrás apenas da China. A economia mundial vai crescer 4,5% graças aos países emergentes chamados dinâmicos.

ISTOÉ – O Nobel Paul Krugman insiste para que os EUA tomem medidas de estímulo ao crescimento, como o Brasil. Há espaço para isso?
Mantega
– Eu acho. Numa reunião do FMI, há duas semanas, eu falei para o Ben Bernanke, do FED, e o Timothy Geithner (secretário do Tesouro) que só a política monetária expansionista não resolve, porque a economia americana está apática. Não adianta colocar crédito. Se não há mercado, o empresário não toma o crédito. Eles baixam a taxa de juros, que está quase zero, o crédito fica empoçado e os investidores vêm para o Brasil. Lá eles ganham 0,36% por ano. Aqui, no mínimo, 10,75%. Os EUA têm que estimular a demanda como nós fizemos no Brasil.


ISTOÉ
– Qual é a receita de crescimento do Brasil?
Mantega – O papel do Estado é muito importante. Temos que baratear o custo do financiamento. Nós fizemos várias leis, como a do crédito consignado, que facilita o acesso para o trabalhador. A alienação fiduciária também é importante, pois sem ela não haveria financiamento de automóvel. Aperfeiçoamos o setor de construção e estamos mantendo a isenção do IPI para material de construção, sem falar na política de desoneração do investimento, do consumo e da cesta básica. Aumentamos o investimento em infraestrutura. Foi fundamental a expansão do mercado interno. Crescemos com geração de emprego e investimos em agricultura familiar. O País era insignificante e hoje figura entre os líderes do crescimento mundial.

ISTOÉ – Qual foi o papel do mercado interno no crescimento?
Mantega – Sem dúvida, o Brasil é um dos poucos países onde há ascensão dos mais pobres. Criamos um mercado consumidor forte, com redução das classes mais baixas e aumento das classes C, B e A. É uma política que diminui o conflito social, porque o governo não está tirando do rico e dando para o pobre. Dá melhores condições para todas as classes. Em 2003, as classes A e B eram formadas por 13 milhões de pessoas. Em 2010, o total de brasileiros nessa faixa de renda pulou para 31 milhões. Nesse mesmo período, a população da classe C subiu de 66 milhões para 104 milhões. É impressionante. Mais de 50 milhões de pessoas subiram de classe social.

ISTOÉ – Como se explica a ascensão social?
Mantega
– Colocamos o equivalente a uma França inteira em novos patamares de consumo. O que não conseguiríamos só com programas sociais nem com transferência de renda. Vocês sabem o que são 50 milhões de pessoas? A ordem é assim. Vem em primeiro lugar a criação de empregos. O Brasil já é, por exemplo, o segundo maior mercado da Nestlé. E começa a ser o segundo maior, o terceiro maior para uma série de empresas estrangeiras. A pesquisa do comércio varejista de agosto mostra um crescimento no mês de 2%. Se anualizarmos, haverá um crescimento de 24% no varejo. São números maiores do que os da China.
 

 



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