Com forte inspiração autobiográfica, Coração iluminado (1998) é o filme mais pessoal de Hector Babenco. Dono de uma filmografia mais voltada para os temas sociais, a exemplo de Pixote – a lei do mais fraco e do recente Carandiru, em Coração iluminado Babenco revisita a sua juventude – passada nos anos 1960, em Mar del Plata, na Argentina – através do personagem de Juan (Walter Quiroz). Trata-se, é claro, de uma “narrativa autobiográfica infectada pelo vírus da ficção”. Jovem cheio de sonhos, entre eles o de ser cineasta, Juan se entrega a um amor louco com Ana (Maria Luisa Mendonça), mulher marcada por perturbações mentais, que acredita ser a judia Anne Frank.

O romance não acaba bem. A última lembrança que Juan tem de Ana a mostra sendo carregada desfalecida por dois homens, após uma overdose de soníferos engolidos num pacto suicida. Vinte anos depois, ao visitar o pai doente, Juan (agora vivido por Miguel Angel Solá) descobre que Ana está viva. Tenta revê-la, mas acaba por se envolver com Lilith (Xuxa Lopes), numa relação que parece repetir a do passado. Escrita em parceria com o escritor argentino Ricardo Piglia, autor de

Plata quemada

, a história intimista revela um diretor tomado pelo prazer de contar uma história apaixonante. Além do elenco afinado, para o ótimo resultado final pesou bastante a fotografia de Lauro Escorel e a trilha sonora de Zbigniew Preisner, dos filmes do polonês Krzysztof Kieslovski.


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