Atraentes na relação custo-benefício, os vinhos chilenos são privilegiados pela natureza. E este é o segredo para tanto sucesso do produto do país vizinho no Brasil. O clima, as condições de solo, o tipo de irrigação e a geografia são amplamente favoráveis ao cultivo da uva, tornando a bebida um dos grandes destaques das prateleiras no Brasil.

A Cordilheira dos Andes, que ocupa boa parte do território chileno, funciona como barreira para os ventos do Oceano Pacífico. Esse é um dos fatores responsáveis pela grande amplitude térmica da região, com altas temperaturas durante o dia e madrugadas frias, o que conspira a favor dos vinhedos. “O calor é fundamental para formar açúcares e ajuda no amadurecimento dos frutos. À noite, o frio provoca uma espécie de hibernação e as uvas podem concentrar cor e aroma. Isso não acontece no Nordeste brasileiro, por exemplo, onde as noites são quentes e o vinho fica mais aguado”, compara o enófilo Eduardo Viotti. A excelente terroir (características de solo, clima e ecossistema) é outra vantagem do vizinho. “Sua principal característica é o verão seco, que permite a maturação completa das uvas. Na Serra Gaúcha chove muito e as lavouras são constantemente atacadas por fungos. Os produtores, com medo de granizo, são obrigados a colher antes da hora”, diz.

Outro aspecto que contribui para o sucesso do vinho chileno é a qualificação dos enólogos. A nova geração cursou enologia na Universidade do Chile ou na Pontifícia Universidade Católica, em Santiago. Há também muitos peritos franceses e americanos atuando no País e um investimento cada vez maior em tecnologia. Uma das regiões mais avançadas é o Vale do Colchagua, na cidade de Santa Cruz, onde os produtores recorrem ao uso até de uma substância mineral chamada Caolin, aplicada para proteger as plantas do excessivo calor e impedir que elas ressequem. Apesar da sofisticação, porém, a poda e a colheita são feitas manualmente, de forma delicada e seletiva. “São cuidados que não inflacionam os preços e certamente se expressarão na taça do consumidor”, diz Roberta Mitsuda Chagas, gerente de marketing da produtora de vinhos Viña Caliterra no Brasil.

Potência – As principais uvas cultivadas no Chile são cabernet sauvignon, merlot, carmenère, syrah e malbec. A grande vedete é a Carmenère, de origem francesa, quase extinta no resto do mundo. Seu vinho caiu nas graças do consumidor brasileiro. “Uma boa opção é o Arboleda Carmenère, comercializado a US$ 28,50”, aconselha Artur de Azevedo, diretor da Associação Brasileira de Sommeliers. Segundo ele, na hora de escolher um bom chileno, prefira os dos vales de Colchagua e de Maipo, onde a temperatura média não ultrapassa 14 graus e
onde são produzidos disputados vinhos premium. Para aqueles que ainda não conhecem grandes vinhos produzidos no Chile, Azevedo indica o Seña 1999. “Não é barato (US$ 125), mas é exemplo de toda a potência que um chileno é capaz de ter”, garante. Opções bem mais em conta, como o Arboleda Syrah 2001, o Memorias e o Odfjell Armador Carmenère 2001, não deixam a desejar. “São vinhos potentes, produzidos com uvas maduras. As melhores safras são as de número ímpar”, ensina Artur de Azevedo. Pode confiar.