A maior delegação esportiva brasileira embarcou para Atenas na quinta-feira 9 com grandes chances de superar as 22 medalhas conquistadas em Sydney há quatro anos. Na XII Paraolimpíada, que acontece de 17 a 28 de setembro na capital da Grécia, 99 atletas com limitações físicas representarão o País em 13 modalidades. Criada em 1960, a Paraolimpíada acontece de quatro em quatro anos na mesma cidade dos Jogos Olímpicos. Na primeira edição, compareceram em Roma 400 atletas de 23 países. Desta vez, quatro mil competidores de 143 países farão a festa em um Olimpo adaptado. Se depender do Brasil, verde e amarelo serão as cores da folia. A primeira vez que uma delegação nacional participou dos Jogos foi em 1972, em Heildelberg (Alemanha). De lá para cá, a garra e a técnica dos nossos paraatletas fizeram com que o número de medalhas, às vezes, superasse o resultado obtido nos jogos convencionais. Em Sydney, foram seis de ouro, dez de prata e seis de bronze, dez a mais do que as conseguidas na Olimpíada (seis de prata e seis de bronze). Ficamos em 24º lugar, enquanto no evento tradicional terminamos em 52º. Desta vez, a expectativa é ainda maior.

Alguns dos principais recordistas dos esportes adaptados são brasileiros. Entre eles está Roseane dos Santos, 33 anos, a Rosinha, que na última edição estreou com duas medalhas de ouro, batendo os recordes paraolímpicos de arremesso de peso (9 m) e lançamento de disco (31,58 m). Nada mau para quem teve a perna esquerda amputada e faz os lançamentos em cima de uma cadeira de rodas. Outra heroína é Ádria Rocha Santos, 30 anos, uma das velocistas cegas mais rápidas do mundo. Ela voltou de Sydney com duas medalhas de ouro e dois recordes mundiais. Para vencer, Ádria considera indispensáveis os apoios do técnico Amaury Veríssimo, do guia Jorge Silva, o Chocolate – que corre com ela durante as provas –, e da filha Bárbara. “Nada é impossível quando a gente faz com vontade”, garante a atleta.

Os homens não ficam para trás. Dois nadadores são recordistas brasileiros de medalhas. O paraplégico Adriano de Lima, 31 anos, trouxe de Sydney três de prata e uma de bronze, o mesmo número de medalhas recebidas pelo portador de paralisia cerebral Clodoaldo Francisco da Silva, 25 anos. Outros atletas não se saíram tão bem em Sydney, mas são esperanças em Atenas. É o caso do halterofilista Alexander Whitaker Santos, 34 anos. Vítima de uma lesão medular, ele não movimenta o corpo do tórax para baixo. Whitaker está confiante, mas reclama da falta de apoio. “Se houvesse mais incentivo para os atletas sem deficiência, o patrocínio viria naturalmente para nós”, acredita.

A escassez de patrocínio tirou da competição o fisioterapeuta e assistente técnico de Whitaker. Murilo Spina, 37 anos, acompanha o atleta desde quando ele era judoca e não havia sofrido o assalto que o deixou paraplégico. O apoio do fisioterapeuta foi fundamental para que ele persistisse. Spina treinou Whitaker para a Paraolimpíada, mas, sem verbas para a viagem, não conhecerá a Acrópole. “Whitaker é um exemplo, independente e decidido”, diz.

A presença brasileira também é forte em esportes coletivos. A seleção brasileira de basquete em cadeira de rodas, por exemplo, ganhou o bronze nos jogos parapan-americanos do ano passado. No futebol para atletas que tiveram paralisia cerebral, temos o melhor goleiro de Sidney, o Marcão, e aquele que é considerado o melhor jogador da atualidade, Leandro Manso Marinho. A festa no Olimpo continua agora sob as bênçãos de Hefesto, o deus claudicante da forja e do fogo.