Os cirurgiões plásticos brasileiros estão entre os melhores do planeta. No final do mês passado, o País teve uma prova desse reconhecimento mundial. O médico João Carlos Sampaio Góes, 55 anos, assumiu a presidência da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica e Estética, a principal entidade da especialidade. Comandar a instituição – que congrega 1,5 mil profissionais de 62 países – é uma conquista importante. Para alcançar o posto, é preciso passar por uma seleção que avalia o conhecimento do candidato e vencer uma eleição feita com o voto direto dos integrantes da sociedade. Considerado um dos maiores especialistas em plástica de mama do mundo, o brasileiro, que fica no cargo até 2006, demonstrou ter os requisitos necessários. Seu trabalho vai além de modelar o busto ou torná-lo mais voluptoso. Por meio da cirurgia de reconstrução, ele devolve auto-estima a milhares de mulheres obrigadas a retirar os seios por causa do câncer. Góes recebeu ISTOÉ em seu consultório, em São Paulo, para falar dos rumos desse ramo da medicina.

ISTOÉ – Por que o Brasil é referência em cirurgia plástica?
João Carlos Sampaio Góes –
Este é um país tropical, no qual o corpo está exposto o tempo todo. Isso estimula a procura por uma silhueta bonita, permitindo que os especialistas se exercitem mais. Os cirurgiões brasileiros também são habilidosos e têm criatividade para adaptar as técnicas.

ISTOÉ – Apesar dessa qualidade, por que ainda há casos de pacientes que sofrem consequências sérias ao se submeter à cirurgia?
Góes –
O índice de maus resultados na área é baixo. A maioria dos procedimentos preza pela excelência. Os riscos existem, mas são pequenos e fazem parte do procedimento cirúrgico. Uma das razões que contribuem para o aparecimento de eventuais complicações é o fato de algumas vezes as operações serem feitas por profissionais não qualificados. Há casos de ginecologistas e dermatologistas que aprendem técnicas de plástica e saem aplicando por aí. Esse é um dos pontos que geram a banalização da cirurgia. Mas eles não estão habilitados a controlar situações inerentes ao processo. Para que o profissional tenha boa preparação, precisa fazer residência de dois anos em cirurgia geral e três em plástica. E constantemente deve se atualizar. Outro ponto que interfere no resultado são as más condições de trabalho. A operação não deve ser feita num consultório médico ou numa clínica. Esses locais não dispõem da infra-estrutura necessária para se fazer uma cirurgia com segurança. O ideal é que seja feita nos hospitais-dia.

ISTOÉ – Por que geralmente os equívocos acontecem na lipoaspiração e ainda existe tanta polêmica com relação ao uso do silicone?
Góes –
A lipoaspiração é um dos procedimentos mais realizados. O grande número de cirurgias trouxe consigo também os exageros. Muita gente faz sem necessidade alguma e sem contar que a lipoaspiração precisa ser aplicada por um profissional competente. No Brasil, há uma normatização do Conselho Federal de Medicina para tentar evitar mais problemas e a regulamentação limita a técnica aos cirurgiões plásticos. Já no caso do silicone ocorrem problemas na utilização da prótese devido principalmente ao fato de ela ser aplicada por profissionais mal preparados. Surgem complicações, como infecção, devido à má colocação do silicone. Hoje, as técnicas para se colocar o silicone estão mais aprimoradas e os materiais usados para confeccionar as próteses são bem melhores e permitem maior segurança.

ISTOÉ – E em relação à contaminação por platina, usada na confecção das próteses? Um estudo recente mostrou que o metal pode ter causado problemas no sistema nervoso de pacientes.
Góes –
A quantidade de platina usada para fazer as próteses é muito pequena. É praticamente impossível que ela tenha vazado e causado efeitos no corpo.

ISTOÉ – O que a Sociedade Internacional fará para melhorar a qualidade da especialidade?
Góes –
Ela deve contatar as entidades de cada país para a realização de campanhas contundentes de conscientização da população sobre a necessidade de procurar profissionais qualificados. Implantaremos uma rede de centros de treinamento creditados pela Sociedade Internacional para a formação de profissionais, intercâmbio de informações e atualização dos especialistas.

ISTOÉ – O que o profissional deve fazer quando o paciente pede intervenções exageradas, não indicadas?
Góes –
Ele deve dizer o que é possível mudar com a cirurgia, do que consiste o procedimento, como ficaria e quais as implicações. O médico não pode entrar na escalada pela procura de algo irreal.

ISTOÉ – E quanto aos adolescentes? Qual deve ser a conduta?
Góes –
Cada caso precisa ser analisado individualmente. O importante é fazer com que o jovem entenda como será a cirurgia e quais serão os resultados. Muitas vezes, devido às características da idade, ele toma decisões sem conhecer as consequências. Por isso, tanto eles quanto seus pais precisam ser orientados. Existem situações nas quais é fundamental deixar que o desenvolvimento do corpo termine. Assim, é possível saber se de fato a adolescente, por exemplo, irá precisar mesmo aumentar a mama.

ISTOÉ – Quais as recomendações para alguém que deseja fazer uma
cirurgia plástica?
Góes –
Primeiro, deve-se checar se o profissional pertence à Sociedade
de Cirurgia Plástica do País. Depois, é preciso verificar as condições do local de trabalho. E, por último, o paciente precisa se informar sobre o especialista que escolheu. Deve conversar com clientes que foram tratados por ele, buscar informações sobre a cirurgia, o tempo de recuperação, os resultados esperados
e as chances de ocorrerem problemas. Quando se está bem informado, fica-se
mais consciente da opção. Caso contrário, o paciente pode fantasiar um resultado impossível de ser atingido.