cartaz_livros.jpg

 

 

 

O autor italiano Antonio Tabucchi é um grande especialista na obra do escritor português Fernando Pessoa (traduziu os seus livros para o italiano). Além disso, é um prolífico contador de histórias para o cinema – sete de suas obras foram transformadas em filmes, como “Réquiem”, de Alain Tanner, e “Noturno Indiano”, de Alain Corneau. Ele é autor de mais de 20 livros e lança agora “O Tempo Envelhece Depressa” (Cosac Naify), uma reunião de nove breves histórias que enfocam a inexorabilidade do tempo. Há referências autobiográficas, como os problemas na coluna que o impediram de vir à Flip este ano. Um trecho: “As fissuras da persiana começaram a empalidecer. Amanhecia.”

livro.jpg

 

 

 

+5 livros de Antonio Tabucchi

cincomais.jpg

 

 

RÉQUIEM
Romance adaptado para o cinema (cartaz acima) sobre um homem que vai ao encontro do fantasma de Fernando Pessoa em Lisboa

NOTURNO INDIANO
Ambientado na Índia, aborda um tema recorrente em sua obra: a busca da própria identidade

A CABEÇA PERDIDA DE DAMASCENO MONTEIRO
Baseado na história real de um jovem decapitado pela polícia em Porto 

AFIRMA PEREIRA
Seu protagonista se tornou um símbolo da resistência ao fascismo e foi interpretado no cinema por Marcello Mastroianni 

O FIO DO HORIZONTE
Patologista tenta descobrir a identidade de um jovem brutalmente assassinado 

Leia um trecho do livro , O tempo envelhece depressa :

“Perguntei-lhe sobre aquele tempo, quando ainda éramos tão jovens, ingênuos, impetuosos, tontos, despreparados. Algo disso restou, menos a juventude – me respondeu.”
O velho professor interrompeu a fala, tinha uma expressão quase arrependida, enxugou apressadamente uma lágrima que se debruçara no cílio, deu um tapinha na testa, como se quisesse dizer que estúpido, queiram desculpar, afrouxou a gravata borboleta com aquela incrível cor de abóbora e disse com seu francês vincado pelo forte sotaque alemão: por favor, me desculpem, me desculpem, eu me esqueci, o título do poema é “O velho professor”, da grande poeta polonesa Wislawa Szymborska, e nesse momento apontou para si mesmo, como se quisesse indicar que o personagem daquele poema de algum modo coincidia com ele, depois bebeu outro calvados, mais responsável por sua comoção do que o poema, e deixou escapar um meio soluço, todos em pé, tentando confortá-lo: Wolfgang, não fica assim, continue lendo, o velho professor assoou o nariz num grande lenço xadrez:
“Perguntei-lhe sobre a foto”, prosseguiu com voz retumbante, “aquela do porta-retratos, na escrivaninha. Eram, tinham sido. Irmão, primo, cunhada, esposa, a filhinha sobre os joelhos dela, o gato nos braços da filhinha, e a cerejeira em
flor, e acima da cerejeira uma ave não identificada voando – me respondeu.”