Ao definir a fotografia, especialistas geralmente recorrem a metáforas como escrita do sol, caneta da natureza. Literalmente, a palavra também tem uma origem poética. Vem do grego photos (luz) e grafos (escrever). Para além das divagações, uma coisa é certa: por meio da fotografia o mundo pode ser visto de outra forma. O “instante decisivo” a que se referia o francês Henri Cartier-Bresson é o momento de perceber e ver as pessoas e a natureza sob novos ângulos. A busca incessante de fixação do belo, do exótico e até mesmo do diferente, transformando-os num enfoque familiar, tem estimulado o surgimento de um novo método de ensino da fotografia. Por meio de expedições a atrativas regiões do País e do Exterior, experimentados profissionais como o carioca Walter Firmo e o paulista Araquém Alcântara encontraram uma fórmula prazerosa de ensinar ao público técnicas, truques e dicas da magia de captar imagens. Ao amador é oferecida a possibilidade de aprofundar seu conhecimento sobre a história da arte fotográfica em aulas práticas e teóricas. Descobrir a importância da luz, do enquadramento, levando a uma nova percepção da realidade, faz parte dos ensinamentos que permitem ao leigo diferenciar o que é olhar e o que é observar. Ao final, surge um fotógrafo naquela pessoa que antes só sabia tirar fotos.

Conviver com o caboclo da Amazônia, encarar as longas caminhadas pelos Lençóis maranhenses, vivenciar a exuberância do Pantanal mato-grossense ou explorar a arquitetura de cidades históricas mineiras são alguns dos roteiros oferecidos pelos guias especiais. A parte teórica é oferecida em três etapas: antes do embarque, no descanso noturno das viagens e no retorno das férias, quando o material produzido é analisado. No leque diversificado de alunos se incluem empresários, advogados, dentistas, juízes, psicólogos e donas-de-casa. Não precisam mais que noções básicas de fotografia. Além do aprimoramento da técnica, a maioria vê nas viagens uma válvula de escape à tensão do dia-a-dia. Como ensinava Bresson, o que se busca é colocar a cabeça, o olho e o coração na mesma mira. A dentista Gabriela de Biasi, 27 anos, adora o hobby e investe no aprimoramento do seu fetiche. “Os cursos despertaram a atenção do meu olhar, me fizeram enxergar as formas de outra maneira”, afirma. Com cinco expedições no currículo, na mais recente investida Gabriela rumou para Paris com seis quilos de equipamentos nas costas. Na mesma turma, mais oito aficionados das lentes atravessaram o Atlântico. “Conhecia a capital francesa, mas quando voltei me surpreendi. Estou aprendendo a ver tudo de novo.”

A busca por aventuras não tem limites. E, lógico, vai depender da poupança de cada um. Além das belezas naturais do País, primeiro destino das expedições, o cardápio internacional tem se ampliado. O roteiro parisiense é capitaneado por Walter Firmo. Cuzco e Machu Picchu, no Peru, têm como cicerone o professor capixaba de fotografia Tadeu Bianconi. Existem rotas para todos os gostos. Da gélida Patagônia, destino da expedição da fotógrafa catarinense Priscila Farone, até as savanas africanas, roteiro oferecido pelo fotojornalista carioca Marcelo Portella, que há seis anos organiza viagens fotográficas também pelo Nepal, Vietnã, Camboja e pela Tailândia. Afora o domínio do equipamento, o pré-requisito básico para participar desses workshops é a disposição para grandes caminhadas. E ter em mente que as jornadas fogem do trivial.

Os mais experientes advertem que as viagens não reservam só maravilhas. “Trabalha-se muito”, afirma a administradora Vivian Araré, 28 anos, que adquiriu o hábito de sempre andar com sua câmera a tiracolo. Recentemente, ela participou de uma andança fotográfica por Cuba. “Sonhava em conhecer a ilha de Fidel. Vi o anúncio do curso e logo me inscrevi”, lembra. Aos interessados, Vivian avisa que a agenda é cumprida com rigor e disciplina. “Desfrutar de prazeres dos mortais turistas, como mergulhar no mar caribenho, acordar depois do nascer do sol ou degustar o velho e bom mojito, só mesmo recorrendo a um conhecido expediente: a boa e consagrada folga semanal”, conta. A dentista Gabriela diverte-se ao lembrar que sentiu na própria pele, na sua estada parisiense, a dureza da profissão de fotógrafo. “Levei uma bolsada na cabeça de uma senhora que se sentiu ofendida por ser clicada numa rua”, recorda. Com a programação lotada, ela teve que esticar por mais alguns dias sua estada em terras francesas para poder ir às compras e visitar museus. Mas repetiria a experiência.

Além da energia concentrada, libera-se muita adrenalina nas aventuras, especialmente naquelas mais radicais. A própria professora catarinense Priscila Farone passou por momentos parecidos ao registrar uma baleia-franca na Patagônia. “Estava num caiaque e perdi todo o meu equipamento. É um risco que pode acontecer especialmente com os alunos, que ficam ansiosos diante dos animais.” O fundamental é criar no participante o hábito de pensar a foto antes de clicar. Araquém Alcântara, precursor do método, trabalha há 18 anos com grupos interessados nos segredos da fotografia de natureza, sua especialidade. “O workshop funciona como uma terapia coletiva”, explica Alcântara, que tenta desmontar o olhar organizado, ampliando a percepção dos participantes.
Tadeu Bianconi segue a mesma linha. “Ensino-os a trabalhar a qualidade da informação contida na imagem”, complementa. A receita de Walter Firmo também se baseia na desconstrução dos clichês visuais. “Levamos a turma a ver além do olhar de turista”, explica.

“Aperte o botão, nós fazemos o resto”, dizia o slogan da Kodak no advento das câmeras portáteis. O que as expedições proporcionam é exatamente o contrário. Alcântara defende essa fórmula de aprendizado por acreditar que só assim o fotógrafo amador vai pensar antes de clicar. “Ainda mais na era digital, que tornou o ato de fotografar uma coisa banal.” Firmo vai além. “Temos de buscar o encantamento que a fotografia perdeu.” Os dois concordam que a importância dos cursos reside em levar o aluno a enxergar a fotografia como extensão do pensar. Para que, no final, eles saibam que há cenas que se olham, outras que se observam e poucas que se guardam.