chamada.jpg
MEDO
Strauss-Kahn, do FMI, prevê abalo
na economia global

 

Rostinhos bonitos nunca foram o forte das reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, em que se debatem os rumos das finanças globais. Até a semana passada. A atriz Anne Hathaway (“O Diabo Veste Prada”), a supermodelo Christy Turlington e o ator Pierce Brosnan (007) apareceram em Washington para dar apoio às iniciativas do Banco Mundial envolvendo meninas adolescentes de países pobres e a biodiversidade. Mas, apesar das boas intenções e dos sorrisos hollywoodianos, o ambiente continuou pesado na capital americana. O clima nos quartéis-generais do FMI e do Banco Mundial, na rua 19, é de guerra. Desta vez, o conflito é cambial.

O confronto tomou conta do debate econômico de vários países logo na segunda-feira 4, quando o ministro Guido Man­tega (Fazenda) anunciou medidas para amenizar a forte entrada de dólares no Brasil e usou, pela primeira vez, a expressão “guerra cambial”. Nela, cada um luta como pode para evitar a valorização de suas moedas diante do dólar e, assim, manter a competitividade de suas próprias exportações e favorecer a indústria nacional. “Vários países estão tomando medidas em relação ao câmbio. Ninguém está dormindo em serviço. Cada um está defendendo os seus interesses e a tendência é de que os países desvalorizem suas moedas”, explicou Mantega.
 

Nas últimas semanas, Japão, Suíça, Austrália e Coreia do Sul também armaram seus canhões para tentar manter a taxa de câmbio sob controle. A China tem segurado a moeda desvalorizada para azeitar sua máquina exportadora, a mais voraz do mundo. O diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Kahn, aderiu ao vocabulário militar para criticar a ofensiva de quem, a seu ver, deveria se render na guerra cambial, especialmente a China. “Muitos países consideram suas moedas como armas, e isso certamente não é bom para a economia global”, afirmou.

Mantega e Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, também vieram a Washington para explicar suas políticas e marcar posição. O governo brasileiro dobrou o imposto cobrado sobre investimentos estrangeiros em aplicações de renda fixa, para 4%. Na quarta-feira 6, autorizou o Tesouro a comprar dólares para pagar a dívida externa que vence em até quatro anos. Com isso, tentou frear a entrada de aplicações especulativas e aumentou em US$ 10,7 bilhões o poder de intervenção oficial no mercado cambial. O BC tem comprado dólares diariamente para amenizar o impacto da enxurrada de investimentos sobre a taxa de câmbio.
 

G-dolar.jpg

 

Quanto mais dinheiro chega, mais o dólar cai. Em 12 meses, a queda é de quase 5%. Em dois anos, chega a 23%. A artilharia do governo consegue apenas evitar a oscilação brusca das taxas de câmbio no dia a dia, mas não impede a tendência de valorização do real. De um lado, isso é bom para conter a inflação, pois as importações mais baratas seguram as altas de preços nestes tempos de forte crescimento. De outro, os exportadores faturam menos e os industriais pouco competitivos reclamam com o governo. Isso não vai mudar tão cedo.

img1.jpg
NOVIDADE
Anne Hathawey, beldade na
reunião dos banqueiros

 

Na visão do FMI, o Brasil segue atrativo para os investidores que buscam rentabilidade em regiões de alto crescimento. “Nas circunstâncias de hoje, o fluxo de capitais (para o Brasil) tende a ser permanente”, afirmou à ISTOÉ o economista-chefe e diretor de pesquisas do FMI, Olivier Blanchard. Para ele, comprar toneladas de dólares não é uma estratégia sustentável em longo prazo: “Isso é provavelmente autodestrutivo.” Ao intervir no mercado, o governo acumula reservas internacionais (US$ 279 bilhões atualmente) que rendem quase nada no Exterior e emite títulos locais que pagam 10,75% ao ano. Melhor seria, na visão do FMI, conter o aumento dos gastos públicos e abrir caminho para a redução dos juros, aliviando as dores da guerra cambial.