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Confira vídeo com cenas curiosas captadas em outros países pelas câmeras do Google Street View

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POR DENTRO
Com as “trikes”, o Google fotografou os detalhes
dos estádios da Copa da África do Sul

 

Os bisbilhoteiros virtuais se re­festelaram na semana passada, quando chegou ao Brasil o Google Street View, serviço que coloca na tela do computador fotos em 360 graus das ruas de, por enquanto, 51 municípios brasileiros. Em sua maioria, as primeiras pesquisas feitas por brasileiros se concentraram na busca do próprio endereço, da sede do trabalho, da casa da namorada. E houve também muita gente que passou horas procurando imagens bizarras ou engraçadas captadas pelo programa. Passada essa primeira onda de voyeurismo, comum em todos os países que já contam com o serviço, começam a aparecer outras utilidades. Num futuro não muito distante, o internauta brasileiro vai poder planejar suas férias, adquirir um imóvel ou visitar um museu por meio da ferramenta.

O Street View faz parte de outro produto da empresa, o Google Maps. Bem mais detalhista que seu irmão maior, permite ao usuário navegar pelas ruas, com uma visão de todos os pontos cardeais, do chão e do céu. É como se você andasse até a porta de um prédio, admirasse sua fachada, comparasse com a dos vizinhos etc., num passeio em que o mouse cumpre a função das pernas. Lançada em maio de 2007, a ferramenta originalmente cobria cinco grandes cidades nos EUA e seus arredores. Hoje, se estende a todo território americano, assim como à maior parte do Canadá, Japão, Austrália e vários países europeus. No Brasil, até agora apenas São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e cidades vizinhas dessas capitais foram fotografadas pelos carros do Google.

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MAIS PERTO
Essa espécie de mochila é o equipamento com que será
possível produzir imagens de restaurantes e bares

 

Curiosamente, as possibilidades do serviço começaram a ganhar visibilidade num lugar distante de todos os citados no parágrafo anterior. Mesmo sem ir à África do Sul acompanhar a Copa deste ano, qualquer internauta pôde conhecer em detalhes os estádios em que aconteceram os jogos. Isso graças a veículos cada vez menores e capazes de entrar em locais inacessíveis a carros. No caso das arenas sul-africanas, foram usadas as chamadas “trikes”, uma espécie de triciclo movido a pedal. Elas não são pequenas o suficiente e já há uma versão em forma de mochila, que permitirá ao serviço dar o passo seguinte. “Com isso, poderemos propiciar, por exemplo, a visita a um museu”, diz Flavia Simon, gerente de marketing do Google no Brasil.

Enquanto empresa e museus costuram acordos para que acervos possam ser disponibilizados, usuários do Hemisfério Norte têm aproveitado a ferramenta principalmente para conhecer previamente o local onde irão morar ou o destino das próximas férias. Pouca gente fora dos EUA já ouviu falar na cidade de Bolder, no Colorado. Mas lá fica uma respeitada escola de novas tecnologias chamada Bolder Digital Works. É nela que a americana Emily Smith estuda negócios digitais. “Antes de me mudar pra cá, já tinha visitado tudo pelo Street View”, disse ela à ISTOÉ. Ciente desse desejo de ver antes de ir, o Google prioriza a produção de imagens de monumentos e pontos turísticos.

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Bem antes de estrear no Brasil, a ferramenta era objeto do desejo de um setor que muito se beneficia com ela, o imobiliário. Tanto que duas das maiores empresas do setor utilizam o Street View desde o primeiro dia do produto em território nacional. A Lopes, que comercializa e constrói imóveis, flertava com a possibilidade de ter a ferramenta incorporada a seus serviços desde a primeira vez que ouviu falar da existência dela. “Há cerca de um ano, começamos contatos mais diretos para que, quando o produto chegasse ao Brasil, fôssemos os primeiros a utilizá-lo”, diz uma executiva da empresa que, por razões estratégicas, preferiu não se identificar. A utilização criada pela Lopes é simples: o cliente se interessa por determinado imóvel e, sem sair da cadeira, confere se a rua é arborizada, se há terrenos baldios em volta ou se a padaria fica perto.

Estratégia parecida é empregada por outro gigante do setor, a Gafisa, mas com um toque só dela: o uso da tecnologia 3D. Equipados com óculos fornecidos pela empresa, de qualquer computador os clientes podem ver as imagens dos imóveis apregoados em três dimensões. E nesse ponto entra em questão um benefício do produto que não pode passar despercebido nos dias de hoje. Ao não se deslocar para conferir endereços de corpo presente, comprador e vendedor estão diminuindo consideravelmente a pegada de carbono associada ao comércio de imóveis.

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COMEÇO
Por enquanto, apenas Rio, São Paulo, Belo Horizonte
e cidades vizinhas foram fotografadas

 

Muitos varejistas se animaram com a possibilidade de ter seus estabelecimentos fotografados pelas poderosas câmeras do produto. Seria a chance de, num primeiro momento, o cliente fazer um passeio virtual para depois fechar uma compra real e feita de forma presencial. Atualmente isso esbarra em dois problemas. O primeiro é que o programa não é ao vivo. As imagens são coletadas em média um ano antes de irem ao ar. Ou seja, quando o visitante entrasse na loja, as prateleiras estariam desatualizadas. O outro problema é o fato de que, segundo a empresa, a produção de fotos de estabelecimentos comerciais não passa de mero boato.

Bem mais acessível aos lojistas, pelo menos por enquanto, é a oferta de espaços publicitários nas ruas flagradas pelo Google. A empresa aposta tanto nisso que patenteou um sistema que automaticamente apaga as mensagens publicitárias estampadas em outdoors e cartazes. No lugar delas seriam colocados anúncios pagos. “As empresas americanas ainda não adotaram essa estratégia. Não tem nada de anúncio ali”, diz Pedro Sorrentino, professor da São Paulo Digital School e autor do vídeo “Obama Digital”. Em muitas áreas, o Street View ainda é uma ferramenta em busca de uma utilidade.

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