A campanha eleitoral é um campo fértil para o aparecimento de figuras exóticas. Para comprovar a tese, basta uma olhada na lista dos candidatos a vereador em São Paulo. Cascavel Guerreiro, Jacaré do Gás, Seu Madruga, Jonas Camisa Nova, Ursão, Garota da Lage e Vadão do Jegue são alguns desses fenômenos que surgem para a alegria de muitos e desespero de outros tantos. Na cola desse exército, vêm milhares atrás dos empregos gerados pelas eleições. Dentro desse pequeno universo, há um grupo que tem despertado a curiosidade dos que circulam pela cidade: são os guarda-faixas. Sete dias por semana, 24 horas por dia, eles estão nas pontes e viadutos vigiando a propaganda eleitoral.

Produto direto da crise, os homens-faixa são, em sua maioria, desempregados que, sem alternativa, se expõem a frio, chuva, sol, sereno, barulho e poluição para garantir o sustento. Essa é a infeliz situação do pedreiro Márcio Gomes, 25 anos. “Estou há dois anos sem trabalho. Tenho mulher e quatro filhos para criar. Se não fosse por este emprego, poderia estar roubando. Agradeço a Deus por estar aqui”, diz. Ao lado do colega Uélson da Silva Pereira, 18 anos, Márcio cuida de cinco faixas na ponte do Piqueri, zona oeste da capital. Antes de chegar ali, passou por outros seis “endereços”. E por alguns sufocos. “No centro, uns drogados tentaram atear fogo em mim. Em outra ponte, dei uma cochilada e quando acordei vi um cara com uma faca vindo em minha direção. Com um pedaço de pau consegui desarmá-lo”, conta.

Outra ameaça vem da concorrência. Segundo Márcio, por R$ 50 capangas são contratados por adversários para destruir as faixas. Alguns andariam até armados. “Uma vez tentaram rasgar uma das faixas que cuido. Disse a eles que, se fizessem aquilo, eu perderia meu emprego. Eles entenderam a situação e desistiram.” Incidentes como esse e a recente onda de assassinatos de moradores de rua na cidade acabaram com o sono na madrugada. Apesar dos dissabores, a vida na ponte não é só feita de percalços. Márcio diz ter feito amigos e até recebido algumas cantadas. Bem-humorado, confessa não conhecer nenhum dos candidatos para os quais trabalha. Mas a alienação não o impede de torcer para que tudo não acabe em 3 de outubro. “A faixa é nosso emprego. Por isso, rezo para ter segundo turno.” Ele, Marta, Serra, Maluf, Erundina…

 

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