A fé que move montanhas também permite bons negócios. O mercado de produtos religiosos não sabe o significado da palavra crise e se mantém nas alturas. No ano passado, as vendas de CDs, DVDs, livros, camisetas, entre outros produtos, registraram faturamento de R$ 1 bilhão. Só o segmento fonográfico, embalado pelo ritmo gospel, contabilizou R$ 500 milhões no ano passado e para 2004 espera um crescimento de 20%. Os números são do grupo EBF-Eventos, empresa paulista que faz consultoria e pesquisas para o setor evangélico. “Esse mercado cresce sem parar. Afinal, todos os dias milhares de pessoas se convertem e mudam seus hábitos. Elas passam a comprar livros e até roupas produzidas pela indústria cristã”, afirma Maurício Berzin, presidente do EBF. Ele ressalta, porém, que não é só o público evangélico – 26,5 milhões de pessoas, segundo o Censo 2000 do IBGE – que promove a ascensão do mercado do Senhor. “Consumidores de todas as religiões compram nossos produtos. A música é o que mais agrada”, resume Berzin.

Uma pesquisa do Instituto Franceschini de Análise de Mercado, de São Paulo, confirma que a fé rende bons dividendos, pois mostra que hits evangélicos ocupam a terceira posição na preferência dos consumidores, deixando para trás o pagode, o samba e o sertanejo. As principais gravadoras evangélicas venderam, só no ano passado, mais de dez milhões de discos. Destaque para duas cantoras gospel, a carioca Cassiane Manhães e a mineira Ana Paula Valadão, que vendem, cada uma, até um milhão de cópias por lançamento.

O sucesso evangélico se estende também ao mercado literário. E, nesse segmento, a Bíblia é imbatível. O livro sagrado, segundo a Sociedade Bíblica do Brasil e a Câmara Brasileira do Livro, vendeu, só em 2003, mais de 12 milhões de exemplares. Não é por menos que todo o setor editorial evangélico registra cifras anuais superiores a R$ 280 milhões.

“Essa expansão se deve ao crescimento da população evangélica, que dobrou na última década, e ao salto de qualidade dos livros publicados por nossas editoras, que até ganharam prêmios de excelência gráfica”, explica Whaner Endo, diretor executivo da Associação Brasileira de Editores Cristãos (Abec). Segundo ele, em 2002 foram lançados 1,5 mil títulos com tiragem superior a dez milhões. São números que justificam eventos como a Expo Cristã, que se realizará esta semana em São Paulo. “Essa é a terceira edição da feira, que já se firmou como um grande balcão de negócios e oportunidades no Brasil e na América Latina. A expectativa para este ano é que sejam gerados negócios em torno de R$ 30 milhões”, afirma Eduardo Berzin, responsável pela organização da Expo Cristã.

Com valores tão expressivos, já são mais de 600 empresas trabalhando com artigos religiosos em todo o Brasil. No centro de São Paulo, uma rua inteira concentra mais de 300 lojas exclusivamente de produtos cristãos. Elas oferecem desde enfeite de geladeira até roupas, todas com mensagem de cunho evangélico. Esse mercado já ultrapassa fronteiras. Boa parte das empresas cristãs exporta seus produtos para diversos países. Uma delas é a editora paranaense Luz e Vida, que há 50 anos se dedica à produção de material escolar, camisetas, agendas, livros, marcadores de páginas e mais 800 itens. O sucesso deve-se à figura de uma simpática formiguinha batizada de Smilingüido, grife que ilustra todos os produtos. Esse personagem, sucesso no Brasil, mantém os negócios da empresa em alta. Só a venda de marcadores de páginas contabiliza um milhão de unidades por mês. “Nossos produtos são comercializados em mais de cinco mil pontos pelo Brasil. Traduzidos para o inglês e o espanhol, são exportados para Europa, Estados Unidos, Japão, México e países africanos”, conta Samuel Eberle, superintendente da editora. Em 2003, suas exportações somaram R$ 10 milhões.