Encher a geladeira de comidas e bebidas rotuladas como diet ou sugar free (sem açúcar, em inglês) pode não ser a melhor opção para quem luta pelo emagrecimento. Uma pesquisa publicada na edição deste mês da revista científica Behavioral Neuroscience, da Associação Americana de Psicologia, sugere que esses produtos – nos quais o açúcar é substituído por adoçantes artificias com pouquíssima ou nenhuma caloria – poderiam contribuir para o aumento de peso. Surpreendente, a revelação foi feita por cientistas da Universidade de Purdue após um estudo com 27 ratos. No trabalho, eles compararam o ganho de peso dos animais que tiveram a sua dieta suplementada com iogurtes adoçados com glicose (um açúcar que tem 15 calorias por colher de chá) e com sacarina, um dos mais usados adoçantes artificiais, com zero caloria. Depois de duas semanas, as cobaias que ingeriram o alimento com sacarina haviam consumido mais calorias e ganho mais peso do que os ratinhos que tomaram iogurte com glicose.

A hipótese dos pesquisadores é de que o ato de comer envolve várias reações automáticas que estão fora do controle consciente. Eles afirmam que o organismo reage de maneira mais complexa aos adoçantes artificiais do que se imagina. E que algumas dessas reações teriam sido acionadas pelo sabor . Segundo os estudiosos, haveria uma espécie de condicionamento ligando comidas doces a uma maior quantidade de calorias. É como se, a cada contato com esse gosto, o corpo esperasse um aporte ainda maior de calorias. Ao não ser satisfeito com a ingestão de produtos adoçados artificialmente, ele procuraria uma forma de aumentar mais e mais a ingestão de calorias. Seria uma justificativa para o aumento de peso dos animais tratados com iogurtes adoçados artificialmente.

 

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O estudo de Purdue identificou também reações fisiológicas diferenciadas entre os dois grupos de animais. Os que receberam iogurte com glicose registraram elevação da temperatura corporal durante as refeições, como se estivessem fazendo uma reserva de combustível a ser queimado pelo corpo durante o processo digestivo. A parcela que recebeu alimentos com sacarina não teve o mesmo sinal. A conseqüência dessa falta de preparo é que o metabolismo se tornaria mais lento. “Isso favoreceria o armazenamento de calorias”, afirmou à ISTOÉ Susan Swithers, uma das co-autoras do trabalho.

Presentes na maioria das mesas, os adoçantes se tornaram objeto de investigação científica em todo o mundo – para saber se cumprem a função, ponto investigado pela pesquisa americana, ou para conhecer melhor sua repercussão no corpo. Nessa segunda linha de estudo, outro trabalho, publicado na Circulation, revista da Associação Americana de Cardiologia, também apontou resultados preocupantes. Coordenado pela epidemiologista Lyn Steffen, da Universidade de Minnesota, ele revelou que tomar uma lata de refrigerante diet por dia eleva em 34% as chances de desenvolvimento de síndrome metabólica, um aglomerado de fatores de risco que conduz à doença cardíaca e à diabete tipo 2 (adquirida). Para cair nessa condição, basta preencher três dos seguintes requisitos: obesidade abdominal, elevação da pressão arterial, alto nível de açúcar no sangue, triglicérides altos (mais uma das gorduras do sangue) e níveis baixos de colesterol HDL (o bom colesterol).

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INVERSO Os adoçantes dariam mais fome

O achado foi feito inesperadamente durante uma pesquisa sobre o papel da dieta no surgimento do problema. Durante nove anos, Lyn observou 9.514 pessoas com idade entre 45 e 64 anos. No final do período, 40% desenvolveram três ou mais fatores ligados ao quadro. “A ação dos refrigerantes dietéticos não era uma das nossas hipóteses iniciais, mas a força dessa associação foi surpreendente”, disse a cientista à ISTOÉ. Agora, os pesquisadores querem descobrir por que ocorre esse efeito.

Preocupados com o impacto dessas informações, dois dias antes da divulgação dos estudos de Purdue cientistas publicaram uma revisão de artigos no European Journal of Clinic Nutrition que concluía pelos benefícios dos adoçantes artificiais. As pesquisas foram feitas em seres humanos. “Os adoçantes ajudam a resolver o problema da obesidade. Sugerir que eles podem provocar ganho de peso em pessoas após um experimento em ratos é uma irresponsabilidade em relação à saúde pública”, declarou o co-autor do trabalho, Adam Drewnowski, da Universidade de Washington (EUA). Em meio à polêmica, fica difícil para o consumidor escolher um lado. “O consumo de açúcar é um risco muito maior para a obesidade. Portanto, os adoçantes continuam sendo uma estratégia interessante para o controle do peso, desde que dieta equilibrada e exercício físico estejam presentes”, afirma a nutrionista Cynthia Antonaccio, de São Paulo, da rede Equilibrium de restaurantes e de uma consultoria que leva o mesmo nome.

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