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SUSPENSE
Candidata diz que vai ouvir as
bases para decidir novo rumo
  

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Maior fenômeno da disputa presidencial, a senadora Marina Silva (PV) colheu nas urnas um valiosíssimo filão eleitoral de quase 20 milhões votos. A partir de agora esses eleitores, que foram atraídos pelo discurso alternativo e ambientalista de Marina, passarão a ser disputados palmo a palmo por Dilma Rousseff e José Serra, por um motivo muito simples: eles vão decidir o segundo turno. A eleição do futuro presidente no dia 31 depende dessa migração de votos. Não por acaso, na noite do domingo 3, antes mesmo que o TSE encerrasse a apuração das urnas, tucanos e petistas já tentavam fazer contato com o staff da campanha da carismática candidata do PV. “Sabemos que ela fará exigências programáticas, mas vamos chamá-la para conversar”, disse à ISTOÉ um dos coordenadores da campanha de Dilma. “Ela saiu do governo Lula e do PT porque não respeitavam os ideais dela, mas conosco será diferente”, aposta um líder do PSDB.
Se depender exclusivamente da vontade de Marina, nem Serra nem Dilma terão seu aval no segundo turno. Suas convicções tendem a dificultar ou até inviabilizar qualquer tipo de aliança baseada simplesmente no pragmatismo político-eleitoral. “Jamais assumiria uma posição dessas (sobre meu apoio) com pressa, simplesmente para vislumbrar pontos lá na frente”, avisou Marina, durante entrevista, em São Paulo, em que festejou sua enxurrada de votos. Segundo o coordenador da campanha, João Paulo Capobianco, não há hipótese de trocar um apoio por ministérios ou outros cargos na administração. “O eleitor não escolheu Marina por ser mais ou menos igual, mas porque é muito diferente. Temos que tratar esse voto com respeito”, disse. Mas as circunstâncias políticas obrigam Marina a levar o debate para a Executiva do partido, de onde sairá a decisão final. “Faremos uma plenária para o posicionamento com os núcleos vivos da sociedade”, disse a senadora.

“Estou transbordando de felicidade. Foi acertado não
irmos a um vale-tudo eleitoral. Nós perdemos ganhando”

Marina Silva

Algumas vozes dentro do PV defendem uma aliança rápida e irrestrita com o candidato tucano, até mesmo para a sobrevivência parlamentar da legenda. PV e PSDB já reproduziram essa aliança no primeiro turno em diferentes Estados. Um dos principais articuladores dessa direção é o presidente do Partido Verde, José Luiz Penna. Ele adiantou à ISTOÉ que é praticamente impossível não apoiar ninguém no segundo turno. Simpático ao nome de Serra, diz que é necessário deixar passar o cansaço da eleição e discutir as novas alianças. “É um capital político grande. Não dá para virar as costas e dizer: dane-se”, explica. Outra liderança que defende a aliança com os tucanos é o candidato derrotado ao governo do Rio de Janeiro Fernando Gabeira. Durante toda a campanha, ele pediu votos tanto para Marina quanto para Serra. Para não criar problemas com seu partido, Marina decidiu formar um grupo com 21 pessoas, que definirá a opção ideal para o segundo turno. Ela indicará dez pessoas, Penna outros dez e haverá um voto de minerva.
A cientista política da USP, Maria Victória Benevides, vê uma total falta de coerência numa possível transferência automática dos votos de Marina para Serra. “A Marina se beneficiou de um desencanto da política e de um voto mais a esquerda”, explica a professora da USP. Segundo ela, os eleitores de Marina se formaram de um grupo variado de pessoas decepcionadas com o PT, de empresários e uma boa parte do voto ético. “Não há na biografia dela um escândalo, por isso ela atrai tanto a juventude”, diz. Na avaliação do diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, a grande tendência é que os votos migrem para Dilma, pois Marina militou mais 30 anos no PT. O diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, professor Jairo Marconi Nicolau, é mais cauteloso. Segundo ele, Marina tirou muitos votos de Dilma Rousseff, principalmente dos evangélicos, o que não significa que esses votos vão voltar rapidamente. “Houve uma estupenda transferência para quem só tinha um minuto e dez segundos de televisão (Marina) e nenhuma estrutura partidária”, diz Jairo Nicolau. Resta saber se o fenômeno se repetirá no segundo turno. E em benefício de quem.

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