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DE FATO
Pela primeira vez em décadas, o vice-presidente será
a segunda pessoa mais poderosa da República

 

Com a experiência de seis mandatos de deputado federal e três vezes na presidência da Câmara dos Deputados, Michel Temer será um vice-presidente que foge dos padrões habituais. Ele vai exercer o cargo com um poder jamais visto na história recente da República. Após unificar diversas tendências do PMDB ao longo da campanha, Temer ajudará o governo de Dilma Rousseff a costurar a articulação política dentro da base aliada e da oposição para tornar mais célere a aprovação de projetos de interesse do Executivo. Presidente licenciado do PMDB, ele ocupará uma função estratégica ao lado de Dilma. É atribuído a ele, por exemplo, o excelente desempenho do PMDB nas urnas nestas eleições. “Pela primeira vez, o vice-presidente será a segunda pessoa mais poderosa da República”, diz Antônio Augusto Queiroz, do Diap. “O Temer vai articular a composição de ministérios, que podem chegar a sete; ajudar na coordenação política, que é um papel que os vices não tiveram; e ser um conselheiro importante da Dilma.”

Entre os peemedebistas, o papel central que Temer desempenhará no governo de Dilma é ainda mais ressaltado: “Agora, o PT não pode mais montar um núcleo duro no Palácio do Planalto só com a presença de petistas. O Temer vai participar da articulação do governo”, diz um interlocutor do PMDB. Para destacar o poder de mobilização de Temer, o coordenador da campanha do partido, o ex-governador Moreira Franco, relembra a participação do vice na campanha. “O Michel Temer e eu nos propusemos a mobilizar a máquina do PMDB na campanha, que é muito grande. Viajamos para vários Estados e conseguimos fazer isso”, diz Moreira. Ao contrário de outros vice-presidentes, os peemedebistas esperam que Temer participe de toda a articulação do governo. Nas últimas três décadas, os vices não faziam a ponte com o Congresso. Quem ensaiou exercer esse papel, sem sucesso, foi o vice de Fernando Henrique, o senador Marco Maciel. Mas as figuras de peso do PFL, como o senador Antônio Carlos Magalhães, se reportavam diretamente ao governo. Já o vice de Lula, José Alencar, não teve a função de coordenar nem seu próprio partido.

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COMANDO
Em Brasília, Temer lidera reunião da Executiva do
PMDB que o indicou como candidato a vice

 

Temer impôs seu comando na unificação do PMDB, uma iniciativa que, para o partido, é encarada como irreversível. Na campanha, Temer visitou 15 Estados, costurando apoios e pedindo votos. Ele participou de mais de 100 eventos, entre comícios, carreatas e encontros em favor de Dilma. Além de percorrer o País em busca de votos para a vitória em primeiro turno, Temer acredita ter aproveitado o périplo Brasil afora para se preparar para o exercício da nova função. “Foi a primeira vez que fiz campanha para o Executivo e isso teve um sabor especial, pois conheci a realidade de diversas regiões e essas viagens vão me ajudar no cumprimento da função de vice-presidente”, diz ele. Temer enumera várias operações que julga bem-sucedidas em sua missão de atrair peemedebistas desgarrados. A maior vitória, em sua opinião, ocorreu em São Paulo, onde o partido estava rachado quanto ao nome de José Serra. “A Dilma estava bem atrás nas pesquisas em São Paulo, mas nós viramos o jogo”, diz Temer. Após essas costuras, os deputados estaduais que apoiavam Serra assinaram um manifesto em favor da petista. “E eu me coloquei como uma ponte do PMDB no governo”, afirmou Temer.

Outro grande nó da campanha estava no Rio Grande do Sul, onde dois terços dos peemedebistas se alinharam com Serra. Temer contabiliza 822 prefeitos, vereadores e quadros importantes do partido que trouxe para a campanha. Em Santa Catarina, o vice teve de pisar em ovos, pois o ex-governador Luiz Henrique da Silveira (PMDB) estava na frente na disputa para o Senado com o apoio do DEM e do PSDB. “Fui quatro vezes a Santa Catarina e trouxe o PMDB quase inteiro para a Dilma”, diz Temer. No Paraná, onde as negociações caminhavam para um impasse, Temer convenceu o governador Orlando Pessuti a formar uma chapa em torno de Osmar Dias (PDT). “Depois de várias conversas com o Pessuti, ele concordou e fizemos uma chapa única no Paraná”, diz Temer. Como se vê, ele tem o cuidado de enaltecer cada conquista para já se posicionar politicamente no futuro governo Dilma.

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POSIÇÃO
Temer usou a força do PMDB para garantir seu nome
na chapa de Dilma, que preferia ter Henrique Meirelles