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ACESSO
Dilma foi a principal interlocutora do governo com a
iniciativa privada durante o segundo mandato de Lula

 

Quando o presidente Lula assumiu a Presidência pela primeira vez, há oito anos, havia entre o empresariado enorme desconfiança a respeito da seriedade do governo petista. Entre os méritos que podem ser creditados a Lula está o de mudar essa percepção. Além de manter um diálogo próximo com os líderes do mundo corporativo, Lula garantiu a estabilidade econômica que permitiu que as empresas crescessem – e que portanto gerassem mais empregos, investissem mais e atraíssem capital estrangeiro para o País. Agora, se não existe mais a preocupação em relação a possíveis desastres econômicos, a classe empresarial espera que Dilma Rousseff encurte os caminhos capazes de fazer o Brasil crescer mais. Pelo menos esse é o principal anseio apontado por líderes de diversos setores da economia consultados pela ISTOÉ. O setor produtivo está certo de que terá interlocução direta com o Palácio do Planalto e que suas demandas não cairão no vazio nos próximos quatro anos. Essa convicção tem origem na experiência com o governo Lula, quando a então ministra da Casa Civil coordenava o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Dilma conhece perfeitamente todos os gargalos do País e não vai precisar de um ministro para dizer o que tem que fazer”, diz Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Entre os gargalos que historicamente impedem que o Brasil avance de forma mais veloz está a questão da infraestrutura. Dilma terá um grande desafio sobre suas costas. Segundo os presidentes de algumas das maiores empresas do País, áreas nevrálgicas como aeroportos, rodovias e a questão da mobilidade urbana devem ser aprimoradas para atender às demandas do futuro próximo, especialmente os compromissos que virão com a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. “O novo governo precisa acelerar os investimentos em infraestrutura”, diz Juan Quirós, dono do Grupo Advento, uma gigante do setor de engenharia que fatura cerca de R$ 1 bilhão por ano. A mesma opinião é compartilhada por Afonso Celso de Barros Santos, presidente da Avis, uma das maiores locadoras de carros do País. Segundo ele, porém, ao lado da infraestrutura, a nova presidente deve concentrar seu trabalho na reforma tributária. “Essa é uma das questões mais urgentes”, diz Santos.

É inegável que uma das principais realizações da era Lula foi a redução das desigualdades sociais, que culminou na ascensão de uma nova classe média consumidora. Esse fenômeno beneficiou as empresas, que puderam vender seus produtos para um contingente cada vez maior de brasileiros. O empresariado, portanto, espera que a mobilidade social continue a impulsionar seus negócios. Luiza Trajano, presidente do Magazine Luiza, uma das maiores redes varejistas do País, admite que sua empresa foi impulsionada pelo cenário econômico favorável. Por isso mesmo, ela torce para que o modelo seja mantido nos próximos anos. “Espero que a presidente Dilma dê continuidade ao ciclo de crescimento e inclusão social que marcou o governo Lula”, diz Luiza. Essa transformação em curso no País, dizem líderes de diversos setores, não pode ser interrompida. “No meio social, os ganhos de saúde, educação e de consumo devem ser universalizados, principalmente por meio de políticas públicas”, diz Cledorvino Belini, presidente da Fiat no Brasil. Vale lembrar: nos últimos anos a indústria automobilística brasileira quebrou seguidos recordes de vendas e produção – o que também é resultado da notável expansão da massa de consumidores.

Embora as restrições a Dilma sejam muito menores do que aquelas que marcaram o início do governo Lula, algumas vozes do meio empresarial expuseram certa preocupação em relação ao futuro da economia sob o comando da nova presidente. Em uma palestra concedida recentemente, Pedro Parente, presidente da Bunge Brasil, um portento da área de alimentos que fatura R$ 20,5 bilhões por ano, disse que “corremos o sério risco de Dilma abandonar as propostas de campanha e querer governar sozinha.” Ou seja, na avaliação de Parente, a presidente poderá ignorar os setores produtivos da sociedade. Não está claro se a opinião de Parente reflete sua posição política (ele foi ministro do Planejamento do governo Fernando Henrique Cardoso) ou se realmente ele acredita nisso. Por ora, o que se vê entre a maioria do empresariado é o mesmo entusiasmo que levou milhões de brasileiros a eleger Dilma Rousseff.

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