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VELOCIDADE Uma arena com milhares de PCs em alta conexão foi o palco principal da festa

Assim como os alucinantes festivais de rock and roll marcaram os anos 60, a exemplo do histórico Woodstock, o maior evento internacional dos aficionados por computadores, internet e games, o já tradicional Campus Party, agitou na semana passada o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Aproximadamente três mil pessoas, brasileiros e estrangeiros, armaram suas barracas e, munidos de toda a parafernália tecnológica no campo da informática, participaram desse nerdstock. Pagaram R$ 100 para se divertir com os mais diversos tipos de games, acamparam na sede da Bienal e lotaram as cerca de 900 barracas com seus monitores, computadores, joysticks, fones de ouvido e tocadores de MP3. Esse cenário futurista é prova da paixão pela internet. De crianças de quatro anos a idosos de 70, todos se divertiam – houve oficinas de robótica, palestras sobre inteligência artificial e disputas de jogos. Os pensamentos viajaram à incrível velocidade da internet de oito megabits por segundo – 625 vezes superior ao máximo que um serviço de conexão rápida oferece no Brasil.

"Estou louco para sair da teoria da sala de aula e ir para a prática", disse o paulista Leandro Gaspar, 21 anos, estudante de engenharia eletrônica, que saiu da cidade de Sertãozinho e desembarcou no Campus Party com a namorada e dois amigos. "Vou tentar não ficar com ciúme dos robôs", brincava a moça Renata Bonifácio, 20 anos, estudante de administração. Os irmãos Bruno e Diogo Crippa acompanharam o amigo com a intenção de unir duas paixões: robôs e futebol. "Faço parte de um time de futebol de máquinas. Estou no lugar certo", disse Bruno. Após desfazer as malas e desenrolar o colchonete, os quatro colocaram seus notebooks embaixo do braço e foram para a palestra de robótica com o professor Flávio Soares, da Universidade de São Paulo. Ele discorreu sobre inteligência artificial.

O Campus Party é realizado na Espanha desde 1997 e teve agora, em São Paulo, a sua primeira versão brasileira. "O que está acontecendo aqui é diferente, a diversidade é imensa", dizia o sociólogo Sérgio Amadeu, um dos diretores do evento. "Tem gente aprendendo a mixar música ao lado de engenheiros que estão aprendendo códigos de programação." Segundo Amadeu, o ritmo da festa manteve-se alucinante, com o ápice de dez atividades simultâneas: astronomia, campusblog, criação, desenvolvimento, modding, música, robótica, game, simulação e software livre. O resultado disso era visível. "Durmo três horas por dia. É muita coisa acontecendo e não quero perder nada", disse Felipe Soler, 17 anos, ostentando um par de olheiras. Além de diversão, Felipe foi ao evento para divulgar a sua cooperativa Mira Peripheria Digital. Através da internet, ele e seus amigos estão gravando vídeos sobre os principais problemas de sua comunidade num dos bairros da periferia paulistana. "Queremos ser um canal de informações, ligando os moradores à televisão. Só assim as suas reivindicações chegarão mais rápido ao poder público", disse Michele Bezerra da Silva, 23 anos.

 

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CONECTADOS Wesley, Michele e Felipe testaram as lições aprendidas nas oficinas de software livre

No parque tecnológico nenhum outro apetrecho foi mais disputado do que os supertelões de simulação de vôo. Na coordenação da arena, o terapeuta Anderson Stoffellshaus, 35 anos, fundador da comunidade Esquadrão 422ND, deixou o público maravilhado com seus vôos em caças militares: "Aqui estão as melhores máquinas, o poder de processamento é tão alto que o jogo funciona perfeitamente." O colombiano Jorge Contreras, 28 anos, ficou sem fôlego ao observar as manobras do caça: "É tudo muito real, podemos viver com perfeição uma realidade virtual."

Integrando um grupo de mais de dez pessoas, Jorge partiu de Bogotá para disputar um torneio de tiro virtual no game Call of Duty 4. "A velocidade da conexão é ótima. Em sete dias baixei da internet uma quantidade de filmes e jogos que levaria mais de um mês se utilizasse o meu próprio computador", disse ele. Fanáticos por games, os colombianos elegeram o estande Kick Ass Kung Fu como o mais interessante. Trata-se de um pequeno palco com um telão e uma câmera e, ao entrar no ringue virtual, o jogador tem sua imagem digitalizada – seu visual e todos os seus movimentos são reproduzidos em um telão. Daí surgem os inimigos e o jogador pode se movimentar, fugir dos golpes, dar socos e pontapés para tentar vencer o adversário. "Os jogos de simulação são diferentes. Você usa o corpo todo para ganhar", disse Jorge. Toda essa festa, esse baile high tech, terminou no domingo 17 com milhares de pessoas carregando apenas o que lhes é essencial para viver: os seus computadores.

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