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1- BELO HORIZONTE – BH – JÔ MORAES (PCDOB)
Apesar do apoio de Aécio e Fernando Pimentel a Márcio Lacerda, Jô, 62 anos, lidera com 20% dos votos
2 – SÃO PAULO – SP – MARTA SUPLICY (PT)
A ex-prefeita, 63 anos, lidera as pesquisas com 35% dos votos, mas tem uma taxa de rejeição alta
3 – NATAL – RN – MICARLA DE SOUSA (PV)
A jornalista e deputada estadual, 38 anos, lidera a disputa na capital potiguar, com 48,7%

Nunca se viu as mulheres tão em alta quanto nas eleições municipais deste ano. A cena política brasileira ainda é de domínio majoritariamente masculino, mas as mulheres ocupam espaço cada vez maior. A julgar pelas mais recentes pesquisas de opinião sobre as eleições municipais de outubro, elas estão bem colocadas em sete importantes capitais do País: São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Fortaleza, Natal e Belém. Embora já não representem uma novidade na política, a maioria dos analistas concorda que, no imaginário do eleitor, as mulheres personificam a coragem, a integridade e a transparência, aliadas à capacidade de comando. Características consideradas fundamentais para o bom administrador. Por isso, não surpreende que conquistem, na largada da campanha, a preferência de parte significativa do eleitorado tanto feminino quanto masculino. É o caso de Marta Suplicy (PT), em São Paulo, Jô Moraes (PCdoB), em Belo Horizonte, e Micarla de Sousa (PV), em Natal. As três lideram a corrida eleitoral em suas respectivas capitais. "A população está cansada de políticos tecnocratas que agem com base em levantamentos", afirma a deputada estadual Micarla, que montou uma coligação de seis partidos (PV, DEM, PR, PTB, PP e PMN) e detém hoje, segundo as pesquisas, 48,7% das intenções de voto. "O povo quer alguém que conheça os problemas, mas que também possua sensibilidade para resolvê-los e isso as mulheres têm de sobra", diz ela.

Empresária do ramo da comunicação e filha de um dos políticos mais populares da história do Rio Grande do Norte, o ex-senador já falecido Carlos Alberto, Micarla é dona de uma carreira política meteórica. Estreou com o pé direito nas eleições municipais de 2004. Conseguiu ser eleita vice-prefeita na chapa do socialista Carlos Eduardo Alves (PSB). Em 2006, deu uma demonstração de ousadia política ao renunciar ao cargo para eleger- se deputada estadual. Nos últimos anos, dedicou- se a conhecer os problemas da cidade e a estudar soluções. Recentemente, visitou Bogotá, na Colômbia, para entender como a capital daquele país conseguiu reverter os índices de violência, considerados há seis anos um dos mais altos do mundo. Resultado: ganhou pontos entre os eleitores apavorados com o aumento da criminalidade em Natal. "Temos que nos ater aos detalhes", ensina Micarla, que, ao contrário de Marta e Jô Moraes, tem como principal adversário uma mulher, a deputada federal Fátima Bezerra (PT), em segundo lugar nas pesquisas, com 17,14%.

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"O eleitor acredita que as mulheres são mais transparentes e menos corruptas"
David Fleischer, cientista político, da UnB

Feminista de longa data, Marta Suplicy sai na frente na disputa pelo cargo que ocupou entre 2001 e 2004. A exprefeita de São Paulo, de acordo com o último Datafolha, lidera a disputa com 36% das intenções de voto contra 32% de Geraldo Alckmin (PSDB) e 11% do atual prefeito, Gilberto Kassab (DEM). Se ganhar, pode sonhar com vôos ainda mais altos na política, como a Presidência da República em 2010, embora diga que pretende pleitear um novo mandato na prefeitura, caso seja eleita. Se quiser vencer, porém, a ex-ministra do Turismo precisará superar a maior rejeição entre os candidatos, cerca de 30%. Parte da rejeição, segundo analistas, é fruto de uma decisão tomada por Marta em 2001: seu divórcio, depois de 36 anos de casamento, do senador petista Eduardo Suplicy, político de reputação ilibada, admirado até por não-petistas. "A mulher, se for doce, chamam de incompetente. Se é firme, dizem que é arrogante. Mas você não pode exercer o poder se não for firme. É uma imagem que nós mulheres vamos ter de mudar", reconheceu a candidata em recente entrevista. Para o prefeito Gilberto Kassab, porém, o "fator mulher" não influi decisivamente numa eleição. "Não faz diferença disputar uma eleição contra uma mulher. Eleitor olha para as propostas e para o que a pessoa faz", avalia o candidato do DEM.

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A comunista Jô Moraes prefere não viver esse dilema. Nem precisa. Em pouco tempo, a candidata do PCdoB transformou-se na maior sensação das eleições municipais ao tomar a dianteira nas pesquisas a Prefeitura de Belo Horizonte, quarta capital do País, numa disputa contra Márcio Lacerda (PSB), candidato de uma inusitada aliança entre o governador tucano Aécio Neves (PSDB) e o prefeito petista Fernando Pimentel. Hoje Jô tem 20% das intenções de voto, contra 9% de Leonardo Quintão (PMDB) e 6% de Lacerda. Ela, que conseguiu atrair setores do PT ligados aos ministros Luís Dulci e Patrus Ananias, atribui a larga vantagem obtida nas pesquisas à incompreensão, pelo eleitorado mineiro, da aliança entre o PT e o PSDB, adversários ferrenhos no cenário nacional.

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"Uma coisa é conveniência administrativa, outra é anular as diferenças programáticas num passe de mágica", ressalta. Mas, tal como Marta Suplicy, Jô Moraes também enfrentará desafios. O principal deles é manter a performance eleitoral a partir do início do horário gratuito no rádio e na televisão. Segundo o TRE-MG, a candidata terá apenas quatro minutos e dez segundos de propaganda eleitoral, ao passo que Lacerda vai dispor do sêxtuplo do tempo – cerca de 24 minutos. Para compensar, a idéia da coordenação da campanha de Jô é montar dois mil núcleos de apoio nos principais bairros da capital e intensificar o corpo a corpo nas ruas sob o lema "a nossa tevê é você". "Temos que acabar com esse negócio de que ninguém consegue vencer a tevê", conclama Jô. Segundo ela, "todas as mulheres que estão se destacando têm uma identidade feminina muito grande, ao mesmo tempo que possuem uma visão progressista, mais de esquerda".

Os cientistas políticos concordam que as candidatas têm feito a diferença nos pleitos municipais, embora ainda sejam franca minoria. A constatação está amparada nos números. Em 2008, as mulheres representam 51,8% do eleitorado e apresentaram 1.580 candidatas, contra 13.677 homens. Nas eleições municipais de 2000, foram eleitas 317 prefeitas (5,70%) e 5.241 homens (94,28%). Já no pleito seguinte, o de 2004, o número de prefeitas saltou para 418. Este ano, se as mulheres conquistarem ao menos sete grandes capitais, terá sido um recorde. "A participação da mulher na política vem crescendo de maneira considerável. Além de elas estarem cada vez mais engajadas, o eleitor acredita que as mulheres são mais transparentes e menos corruptas", observa o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. A precursora entre as prefeitas foi Alzira Soriano, eleita para comandar o município de Lages (SC) em 1929. Mas uma mulher só se tornaria prefeita de capital 56 anos depois, quando Maria Luiza Fontenelle, do PT, foi eleita prefeita de Fortaleza, em 1985. Maria Luiza fez escola na capital cearense. Hoje, duas candidatas reúnem chances de chegar ao segundo turno: a atual prefeita, Luizianne Lins (PT), que busca a reeleição, e a senadora Patrícia Saboya (PSB). Ambas enfrentam o deputado Moroni Torgan (DEM). Segundo as pesquisas, Moroni e Luizianne têm 27% das intenções de voto, contra 23% de Patrícia, ex-mulher do deputado e ex-ministro Ciro Gomes, numa disputa que promete ser acirrada até o último instante.

Outra capital em que duas mulheres disputam com reais chances de vitória é Porto Alegre. Estão empatadas na disputa pelo segundo lugar as deputadas federais Maria do Rosário (PT), com 20%, e Manuela D’Ávila (PCdoB), com 18%.

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Corre por fora a deputada pelo PSOL Luciana Genro, com 8%. Por ora, a liderança é ocupada por José Fogaça (PMDB), candidato à reeleição, que registra 29% das intenções de voto. No Sul, ao contrário das outras capitais, as candidatas terão outro obstáculo pela frente. Com a governadora do Estado, a tucana Yeda Crusius, atolada em denúncias de corrupção, o desafio será mostrar que uma mulher, desta vez na administração do município, pode ter na transparência a marca de sua gestão. "Apresentar- se como novidade, mas conservar vícios da velha política pode ser um tiro no pé", alerta Maria do Rosário. A petista, que conta com apoio dos ministros Tarso Genro, da Justiça, e Dilma Rousseff, da Casa Civil, explica que os escândalos envolvendo a governadora do Rio Grande do Sul têm se refletido negativamente em sua campanha. "As pessoas me param nas ruas e dizem que já votaram em mulher, mas não gostaram do resultado." A esperança da deputada é de que a população saiba diferenciá-la. "Aqui em Porto Alegre eu sei que é muito importante o velho ditado ‘dize-me com quem andas e te direi quem és’".

Apesar do avanço feminino, é claro que não basta ser mulher. "É importante, mas não é suficiente. A candidata tem que ter adjetivações, mostrar integridade e capacidade de comando", avalia a ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB) que caminha a passos largos para o segundo turno da disputa eleitoral no Rio de Janeiro. Segundo as últimas pesquisas, Jandira tem 16% das intenções de voto, contra 13% de Eduardo Paes (PMDB), 7% de Fernando Gabeira (PV) e 5% de Solange Amaral (DEM). Em primeiro lugar aparece o senador Marcelo Crivella (PRB) com 24%. Caso a comunista triunfe em outubro, será a primeira mulher a administrar a antiga capital do País. O mesmo poderá ocorrer em Belém, onde a exvice governadora Valéria Pires Franco (DEM), da coligação "Pra Belém ficar pai d’égua", está bem cotada nas pesquisas com 24% das intenções de voto. Na disputa pelo comando da capital do Pará, a candidata do DEM está empatada, dentro da margem de erro de quatro pontos percentuais, com o prefeito Duciomar Costa (PTB) – que tenta a reeleição e tem 28%. "No que depender de mim, vou cuidar todos os dias de Belém, como mãe zelosa e guardadora", promete Valéria. A considerar as atuais intenções de votos, que evidentemente podem mudar a partir do horário gratuito, os eleitores estão atrás de quem cuide das finanças municipais com a mesma dedicação de donas-de-casa. Afinal, muitas delas hoje são chefes de família. E trabalham em regime de tripla jornada.