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DESAFIO
Etapa Itaipava do Mitsubishi MotorSports 2010 explorou
trajeto inédito em grandes fazendas da região serrana do Rio.
Foram 230 km e cerca de 5 horas de prova

Um cenário bucólico. As águas do rio Paraíba do Sul serpenteiam por entre as pedras, caem em cachoeiras e colorem a paisagem das estradas sinuosas e cheias de obstáculos, com trechos íngremes, enlameados, esburacados, por vezes ocupados por gado e repletos de ribanceiras. Por elas, carros 4×4 passam de minuto em minuto e alteram a rotina das fazendas de Mar de Espanha e Santana do Deserto, em Minas Gerais. Na beira da pista, crianças em polvorosa saúdam os heróis indômitos, capazes de domar todas as dificuldades do caminho. Mal sabem elas que os vidros adesivados escondem várias mulheres. Dos 440 participantes da sexta etapa do Mitsubishi MotorSports 2010, realizado no mês passado, a participação feminina já representava 21%. Um avanço, se comparado aos anos anteriores (leia quadro). As navegadoras ainda são a maioria, mas as pilotos continuam a crescer em número. “Esse tem sido um movimento contínuo ao longo dos últimos 16 anos de realização do MotorSports”, afirma Corina de Souza Ramos, diretora de projetos especiais da Mitsubishi. “Criamos um evento que incentiva a participação de toda a família e, de espectadoras, as mulheres passaram a exercer as funções de comando no carro”, acrescenta.

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E é dentro de veículos robustos que elas mostram a força que têm. Quem olha para a estudante de arquitetura paulista Ariadne Bukvar, 19 anos, em seu primeiro ano de pilotagem, não imagina que, com estrutura física aparentemente frágil – 1,70 m e 55 quilos –, ela consiga conduzir a sua máquina com tanta segurança. Depois de uma noite de chuva na cidade de Itaipava, Rio de Janeiro, local de largada da prova, Ariadne ultrapassou com maestria trechos perigosos de lama com sua L200. Ao seu lado, como navegadora, a irmã, a estudante Marcele Bukvar, 16 anos. Criadas no banco de trás da caminhonete do pai, o também piloto de rali Itamar, as irmãs Bukvar passaram para o banco da frente tão logo alcançaram a idade mínima para participar. Desde então, o pódio tem sido lugar constante. “Em todas as etapas deste ano, elas foram primeiro ou segundo lugar”, diz o empresário, com um indisfarçável orgulho das crias. O sucesso das belas garotas é notícia em Tupã, cidade do interior paulista onde moram. “Se minhas filhas fossem meninos, certamente a repercussão não seria a mesma”, sorri Itamar. A dupla lidera a classificação geral feminina da categoria Turismo do rali de regularidade da Mitsubishi. E reconhece que só vence o preconceito exibindo resultados.

A lógica é simples: à medida que cresce a participação feminina, diminui o preconceito. “Provar que conseguimos é o que nos garante respeito entre os homens”, concorda a empresária Joceli Ribeiro, navegadora da artista plástica e piloto Claudia Tielas. Mas as duplas não se unem só entre o mesmo sexo. O empresário Celso Macedo convidou a esposa para ser sua navegadora. “Vejo como uma tendência natural”, afirma Macedo. “As mulheres têm conquistado seu espaço na sociedade e por que não no rali, um esporte tão familiar?”, afirma. Um dos segredos do sucesso feminino nesta seara é a sensibilidade extra para navegar. A capacidade das mulheres de conseguir prestar atenção em várias coisas ao mesmo tempo faz com que elas consigam analisar com muito cuidado as planilhas do trajeto sem perder o foco, por exemplo. “Os homens, ao longo dos anos, vêm sentindo que isso é muito favorável”, diz a publicitária Belén Macedo, que treinou numa fazenda para testar seu carro e foi a única representante da classe feminina a subir ao pódio na categoria Turismo. Mais uma barreira derrubada. Dessa vez, não sem muita lama.

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