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PRESTÍGIO
Casamento de Paula e Rafael: presidente Lula no altar

 

Aos 86 anos, Dilma Jane Silva Rousseff, mãe da nova presidente, escolheu um lugar emblemático para enfrentar a ansiedade das semanas anteriores à eleição. Ela se hospedou às margens do rio Guaíba, em Porto Alegre, na ampla residência do advogado Carlos Franklin Paixão Araújo, 72 anos. Detalhe interessante: Araújo é ex-marido de Dilma Rousseff, de quem se separou no final dos anos 90 depois de um casamento de quase três décadas. Dilma e Araújo viveram no imóvel durante mais de 20 anos, período suficiente para despertar na família um rosário de lembranças. Em 1973, era dali que Dilma partia para levar livros e comidas ao marido, preso político que cumpria pena no cárcere da ilha, pertinho do imóvel. Foi nessa casa que Paula Rousseff Araújo, única filha do casal, passou a infância.

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PRIMEIRO NETO
Gabriel, com Dilma, no dia do nascimento (acima) e no batismo (abaixo)
no colo da mãe, Paula. Ao lado da presidente, a bisavó do bebê, Dilma Jane

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Na sala retangular, eram realizadas as reuniões com militantes de esquerda, só interrompidas quando Paula chamava pela mãe (que, para fazê-la dormir, entoava cantigas de ninar). Não deixa de ser revelador o fato de Araújo hospedar a ex-sogra. O núcleo íntimo da família de Dilma (formado pela mãe, Dilma Jane, pelo irmão, Igor, pelo ex-marido Araújo e pela filha, Paula) é tão unido quanto fechado – é quase impossível conversar com qualquer um deles sem a autorização da presidente eleita. Em recente tarde chuvosa, numa sala com enormes janelas de vidro com vista para o Guaíba, Araújo recebeu com exclusividade a reportagem de ISTOÉ. “Eu e Dilma tivemos uma ótima vida amorosa, afetiva, rica para os dois”, diz Araújo. “A gente sempre se ajudou muito. Hoje, considero a Dilma uma irmã.” Enquanto Araújo concedia a entrevista, dona Dilma observava a conversa a distância, sem fazer um comentário sequer.

Araújo ainda hoje é um interlocutor frequente da presidente. Além de discutir assuntos familiares, Dilma costuma ouvi-lo a respeito de questões políticas (o ex-marido exerceu três mandatos de deputado estadual pelo PDT de Porto Alegre). Com a filha, hoje advogada que atua como procuradora do Trabalho, ela mantém um forte vínculo afetivo, mas as duas pouco conversam a respeito de temas ligados à vida profissional da mãe. Embora demonstre preocupação com o meio ambiente (segundo uma amiga da família, ela é do tipo que envia correntes por e-mail quando se depara com algo que considera nocivo à natureza), Paula, 34 anos, nunca participou diretamente das atividades políticas dos pais. Mas está sempre por perto. Quando necessário, faz valer a sua opinião. Com o aval do médico de Araújo, convenceu o pai a desistir de ir ao último comício de Dilma em Porto Alegre, na sexta-feira 24 de setembro. Debilitado por um enfisema pulmonar, Araújo precisa recorrer de tempos em tempos aos tubos de oxigênio que mantém em casa e no escritório. Apesar da restrição, procura estar sempre em atividade. Acorda às três horas da madrugada, faz esteira, toma café e às cinco horas se dirige ao escritório, no centro da capital gaúcha. Em casa, como companhias constantes, tem dois cães batizados por Dilma de Negrão e Amarelo, filhotes de uma cadela que um dia ela recolheu da rua.

Paula mora perto da casa de Araújo, com o filho Gabriel (que nasceu no dia 9 de setembro, em Porto Alegre) e o marido, Rafael Covolo, 29 anos, um discreto administrador de empresas que fica muito incomodado toda vez que lhe perguntam a respeito da sogra famosa. O casamento, oficializado há dois anos, comprovou o prestígio da então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Um sorridente presidente Lula aparece em todas as fotos publicadas pelos jornais (ele estava no altar, ao lado de Paula e Rafael). Paula tem verdadeiro pavor de conceder entrevistas a jornalistas. Na campanha, ela se manteve anônima – nem sequer está ao lado da mãe, Dilma, no retrato “oficial” da presidente com o neto recém-nascido. Nos últimos dias, Paula tem aproveitado a licença-maternidade para passar mais tempo ao lado da avó, dona Dilma Jane. A matriarca do clã Rousseff se divide entre um apartamento em Belo Horizonte e outro no Rio de Janeiro, ambos deixados de herança pelo marido, Pedro. A eleição, de certa forma, foi um pretexto para unir ainda mais a família.

Em Belo Horizonte, também vive Igor Rousseff, irmão mais velho da presidente (Zana, a irmã caçula, morreu em 1976). Igor é advogado e tentou engrenar na carreira política. Em 2003, ocupou o cargo de secretário de Cultura de Ouro Preto. Depois, se tornou assessor especial da Secretaria de Planejamento, Orçamento e Finanças da Prefeitura de Belo Horizonte, durante a gestão de Fernando Pimentel, amigo de adolescência de Dilma e parceiro de militância no PT. A Igor foi atribuída pela família a responsabilidade de administrar os 15 imóveis deixados de herança pelo pai, a maioria deles em Belo Horizonte. Segundo uma amiga, Igor, que também tinha ambições políticas, inicialmente sentiu um típico ciúme fraternal do sucesso da irmã, mas depois resignou-se. Hoje, os dois podem ser chamados de amigos. Dilma costuma avisá-lo com antecedência a respeito de cada passo que dará, para que ele não seja surpreendido pela imprensa.

Embora para o público em geral Dilma seja conhecida pelo estilo linha dura, até certo ponto emburrada e econômica nos sorrisos, na vida particular ela tem uma notável habilidade para preservar laços antigos. Antes de Araújo, foi casada com o jornalista e militante de esquerda Cláudio Galeno Linhares. Apesar de a união ter sido desfeita há 40 anos (eles ficaram juntos menos de dois anos, entre 1967 a 1969), a amizade com Galeno sobreviveu. Quando voltou do exílio com a nova mulher, a nicaraguense Maira, e as filhas Iara e Ana, o primeiro ex-marido desembarcou justamente na casa de Dilma e Araújo. Só depois de trabalhar quase cinco anos em uma pequena gráfica em Porto Alegre é que Galeno deixou a cidade, para assessorar Leonel Brizola no Rio de Janeiro. A distância aumentou, mas Galeno e Dilma continuaram a conversar com alguma regularidade, hábito que se mantém até hoje.

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LAÇOS FORTES
Acima, Carlos Araújo, o segundo marido
de Dilma. Abaixo, Cláudio Galeno, o primeiro

 

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Dilma também sempre se deu bem com os filhos (Leandro e Rodrigo) de outros relacionamentos de Araújo e tem ótima convivência com a arquiteta Ana Meira, atual namorada do ex-marido. A família ampliada costuma se reunir para jantar durante as atualmente fugazes passagens da presidente eleita por Porto Alegre. Ao contrário da filha, Paula, Araújo sempre se envolveu com política. Ainda promove pequenas reuniões em casa. A política nacional, porém, o advogado acompanha a distância, em uma das duas tevês de 46 polegadas sempre ligadas na sala com janelas para o Guaíba – o outro aparelho exibe invariavelmente programas esportivos. “A única coisa que lastimo é não estar na retaguarda, como seria minha obrigação, pelas minhas condições de saúde”, confidencia Araújo. “Tudo o que eu fizer pela Dilma será pouco.”